A Associação Dignitude faz cruzar as políticas da Saúde e sociais, e vai ganhando notoriedade o seu programa Abem, em que o doente em carência é, em todas as situações, tratado em pé de igualdade: o projecto trata todos como seres humanos, não como pobres coitados. É uma atitude nova, em que se juntam num compromisso ético quem fabrica medicamentos, quem os dispensa e quem os utiliza, em pleno envolvimento com municípios e instituições de solidariedade social. E os números falam por si: na actualidade, apoia aproximadamente 6.300 famílias; é uma rede solidária do medicamento que está presente em todos os distritos do continente e regiões autónomas, em 136 concelhos; integra 149 entidades referenciadoras e 730 farmácias; e quase 370 mil embalagens de medicamentos já foram dispensadas ao abrigo deste programa.
Até ao dia de Natal, peço-lhe, por cada compra na sua farmácia, “Dê Troco a Quem Precisa”.
Repare: quando falamos do medicamento, associamo-lo a saúde, a terapêutica, a bem de consumo seguro, dotado de eficácia para contrariar o sofrimento. Ele é um incontornável medianeiro para que a nossa vida tenha mais qualidade. Mas não fica tudo dito. Deixa-se na sombra a outra dimensão, a de que o medicamento é uma ferramenta básica das políticas sociais. Nunca, como hoje, se falou tanto na acessibilidade ao medicamento, e acessibilidade significa prescrição em tempo útil, significa uma boa cobertura farmacêutica para que o doente não ande a calcorrear quilómetros e a fazer despesas suplementares; e, obviamente, significa poder aquisitivo para que a terapêutica não comprometa as despesas elementares em habitação, alimentação, educação dos dependentes.
Ninguém ignora a ascensão das desigualdades sociais e as condições degradantes em que vive uma parte significativa da população. O programa Abem dá resposta, fazendo convergir a articulação entre as políticas de Saúde e as de solidariedade social. Já se está distante da experiência-piloto de 2016, o programa é um sucesso. Como funciona?
A pessoa em carência é identificada por entidades referenciadoras (por exemplo, uma Misericórdia, a Cáritas, uma Junta de Freguesia, uma Câmara Municipal, uma associação de doentes). Ser referenciada ao programa significa que a entidade avaliou as condições de recurso e confere a essa pessoa as condições de apoio. É como se fizesse um contrato temporal para o uso de terapêuticas e posteriormente a sua reavaliação. Conferido o apoio, a entidade referenciadora dá um cartão ao doente, tipo multibanco, o doente entra na farmácia, como qualquer outro, não precisa de dizer em voz alta ou em voz baixa que vive em dificuldades: mostra a receita, a farmácia dispensa os medicamentos com o respectivo conselho e é isto. Normalidade.
Se é verdade que somos tocados pela ajuda humanitária e nos erguemos em uníssono em nome de Timor ou das vítimas dos incêndios, fazemos do Natal uma festa de generosidade. Ora um euro doado ao Abem salda-se em 7,8 euros de impacto social.
Envolva os mais carenciados na sua festa de Natal, dê troco a quem precisa. E aqui lhe deixo um abraço, pois o seu troco irá fazer crescer este vibrante projecto de inovação social. É um caso único em que a solidariedade é dar para que quem precisa tenha o seu medicamento, contando com o nosso afecto. Até ao dia de Natal, não esqueça.