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9 janeiro 2017
Texto de Sónia Balasteiro Texto de Sónia Balasteiro Fotografia de Pedro Loureiro Fotografia de Pedro Loureiro

Mário Soares pelo olhar dos farmacêuticos portugueses

​​​​​​​​​​​​​​​​O homem que só sabia viver em liberdade.
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«O mais importante legado de Mário Soares tem que ver com algo essencial para todos nós: a democracia e a liberdade», considera Paulo Cleto Duarte. Na opinião do presidente da Associação Nacional das Farmácias, esta é a maior dádiva do antigo chefe de Estado a Portugal: «Contribuiu para que hoje sejamos, enquanto indivíduos e enquanto país, mais livres». «A ANF manteve contactos regulares com Mário Soares, primeiro enquanto primeiro-ministro e, depois, como Presidente da República (PR)».

Também João Cordeiro, antigo responsável da ANF, reuniu-se​ várias vezes com o antigo PR e recorda Mário Soares como uma «referência no aspecto político e de cidadania». Foi, sublinha o farmacêutico, «uma pessoa da maior importância no desenvolvimento do processo político em Portugal. Um homem com uma enorme coragem, muito determinado, que só sabia viver num clima de liberdade. E era uma pessoa solidária. Não recusava o apoio às pessoas das suas relações», descreve.

Além disso, revela João Cordeiro, «o doutor Mário Soares tinha um carinho muito especial pela farmácia, porque em criança, e durante os períodos em que o seu pai esteve detido e esteve fugido, na clandestinidade, viveu durante algum tempo com uma família de farmacêuticos das Caldas da Rainha, a família Maldonado Freitas. Sempre que havia uma reunião, o doutor Mário Soares falava com admiração do sector e com carinho muito especial sobre a farmácia, referindo os tempos em que tinha estado mais próximo da farmácia». 

Essa relação próxima é também descrita pelo responsável do Museu da Farmácia, João Neto. Como homem de Estado e de cultura, o antigo Presidente «manteve uma relação especial com o Museu da Farmácia porque tinha muitos amigos e familiares, como a família Maldonado Freitas, farmacêuticos, republicanos e pessoas do Partido Socialista», revela João Neto. «O seu afilhado, Pedro Coelho, foi um ilustre farmacêutico, dono da Farmácia Apolo 70 e presidente dos antigos CTT», explica o responsável, referindo que Mário Soares «acabou por viver muito o ambiente da farmácia. E sentia esse viver, esse sentir, o republicanismo da tertúlia que as farmácias faziam».

Daí que, garante ainda João Neto, «Mário Soares tenha mostrado sincero agrado quando visitou duas iniciativas do Museu». 

«Na primeira Feira de História, nos anos 90, ele esteve no stand do Museu da Farmácia», conta o responsável. «Esteve a ver e a recordar esse ambiente de farmácia ligado ao percurso pessoal, mas também à vida partidária, porque muitos dos seus amigos eram farmacêuticos».

Outra iniciativa em que participou o Museu, na qual o antigo chefe de Estado fez questão de estar presente, foi «a grande exposição dos 500 anos de administração portuguesa em São Vicente de Fora». «Passou muito tempo connosco a visitar a botica de São Vicente de Fora, que foi onde fizemos a exposição. Era com sinceridade que se envolvia com o património», congratula-se João Neto.​

Para a professora de Farmácia Odette Ferreira, a morte de Mário Soares significa, sobretudo, a «perda de um grande amigo», que conheceu no Colégio Moderno, fundado por Soares. «Tinha um relacionamento muito forte com ele. A importância dele é a de um grande amigo, mais do que como um político», diz a professora universitária, pioneira na investigação e na luta contra o VIH/sida em Portugal.

Mário Soares foi um opositor do Estado Novo e figura fulcral no processo de transição democrática. Foi primeiro-ministro em três mandatos, de 1976 a 1977, em 1978 e, mais tarde, entre 1983 e 1985. Foi ainda Presidente da República durante dez anos, de 1986 a 1996. Morreu no sábado, 7 de Janeiro de 2017, aos 92 anos. O Governo decretou três dias de luto nacional. Depois do velório no Mosteiro dos Jerónimos, o seu funeral, marcado para 10 de Janeiro, terá honras de Estado.​​
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