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4 abril 2024
Texto de Sandra Costa Texto de Sandra Costa Fotografia de Pedro Loureiro Fotografia de Pedro Loureiro

Histórias do bacalhau no Museu Marítimo de Ílhavo

​​​​​​​​​​​No museu encontramos múltiplas visões de uma atividade que marcou Portugal. 

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No Museu Marítimo de Ílhavo celebra-se a cultura marítima do concelho, centrada na pesca do bacalhau. Mas mais do que uma história local, o que lá encontramos revela uma identidade e memória que reflete a história do litoral português. Existiam postos de recrutamento para a pesca do bacalhau desde Vila Praia de Âncora, no Minho, até à Fuzeta, no Algarve, e também nos Açores. «Quem nos visite, oriundo destas localidades, sente-se em casa», garante o diretor do museu, Nuno Costa. Uma casa que retrata o «espírito anfíbio» que caracteriza os ilhavenses e, no fundo, quase todo o Portugal.


No Museu Marítimo de Ílhavo retrata-se a pesca à linha que marcou a atividade até meados do século XX

Durante o Estado Novo, a pesca do bacalhau foi uma atividade económica que envolveu 21 mil homens, com vivências muito diferentes. Por isso, o museu recusa cingir-se ao discurso oficial e quer dar a conhecer os diferentes ângulos da memória da pesca do bacalhau. «Pluralizar a memória da pesca do bacalhau», resume Nuno Costa, lembrando que participaram nesta atividade homens com muitas categorias profissionais, desde capitães, moços, pescadores, cozinheiros, maquinistas, radiotelegrafistas, enfermeiros e médicos. Bernardo Santareno, médico e dramaturgo, foi um dos que viajou a bordo dos navios bacalhoeiros. 

Esta memória plural é construída através de diferentes equipamentos museológicos: no Museu Marítimo de Ílhavo retrata-se a pesca à linha que marcou a atividade até meados do século XX. Ao lado, o Aquário dos Bacalhaus mostra o peixe real, «que afinal não tem um formato triangular e espalmado», brinca Nuno Costa. É o ponto de partida para abordar os temas da preservação dos oceanos, sustentabilidade e alterações climáticas, sobretudo com as escolas. 


Navio-Museu Santo André. Foi em 1948 que este navio arrastão fez a primeira viagem ao Atlântico Norte

O Navio-Museu Santo André é uma unidade de museologia industrial que apresenta sobretudo a perspetiva da​ pesca do bacalhau entre o pós 25 de Abril e o declínio da frota bacalhoeira, no início dos anos 90. Foi em 1948 que este navio arrastão fez a primeira viagem ao Atlântico Norte. Lá dentro, sente-se a vivência dos diferentes homens que temporariamente ali habitavam, para além do tal discurso oficial que Nuno Costa recusa. «Ao invés da memória preservada pelas elites, encontramos no navio fotografias feitas pelos próprios homens após o 25 de abril». E embora ainda sejam claras as diferenças entre as categorias profissionais, nesta época já havia «uma tentativa de uniformizar o tipo de alimentação, reduzindo as diferenças». 


Durante o Estado Novo, a pesca do bacalhau foi uma atividade económica que envolveu 21 mil homens

Em Ílhavo, o Centro de Religiosidade Marítima mostra ainda como o culto religioso foi influenciado pela pesca do bacalhau. «O santo padroeiro da nossa paróquia era São Pedro, em homenagem ao pescador da costa, e passou a ser o Senhor Jesus dos Navegantes, a pensar nos mareantes, os que vão para a pesca longínqua», explica Nuno Costa. Também a riqueza do património da paróquia revela a riqueza trazida pela pesca do bacalhau, traduzida em ofertas e ex-votos ao santo padroeiro, para proteger os homens na sua vida marítima. ​​
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