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2 março 2023
Texto de Irina Fernandes Texto de Irina Fernandes Fotografia de Mário Pereira Fotografia de Mário Pereira

Formosa vai a ria

​​Nadar em águas cristalinas, passear em ruas labirínticas ricas em lendas ou contemplar a Ria Formosa. De Olhão a Faro, há muito para viver.​​

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​Sacos de compras nas mãos, olhos curiosos. Há por aqui muita cor e frenesim. ​E não é para menos: inaugurados em 1916, o Mercado Municipal de Olhão marca o pulsar da cidade algarvia.

«Vir a Olhão é vir ao mercado», afirma de sorriso expansivo Andreia Santos, 40 anos, psicóloga de profissão.

Situados junto à linha de água da Ria Formosa, estes mercados são, há 107 anos, posto de venda para dezenas de famílias.

«A banca está na nossa família há 50 anos. Estamos aqui a honrar a memória da nossa mãe [Sara Cabrita]», partilha João Cabrita, 40 anos, olhanense e bombeiro sapador há 24 anos.

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João Cabrita (à esquerda) e Hugo Machado dão continuidade ao legado da mãe, como vendedores de peixe em Olhão

Debruçada sobre a banca, Andreia procura o seu doce de eleição: figos cheios. Característico de Olhão, este doce surgiu como fonte de energia para os pescadores que iam para a pesca longínqua ou costeira.

«Prove, prove! Ainda estão quentinhos, tirei-os do forno esta madrugada», convida Suse José, 39 anos, comerciante.

Estudante na Universidade do Algarve, Andreia Santos viveu cinco anos em Faro. Em 2006, perdeu-se de encantos por Olhão, escolhendo residir aqui.

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Apaixonada por Olhão, a psicóloga Andreia Santos reside na cidade desde 2006

No verão ou no inverno, Olhão e Faro «merecem paragem», garante a psicóloga escolar e educacional. Com dias de sol e temperaturas invejáveis durante todo o ano, são o destino certo para retemperar energias e «passear em família ou passar férias».

«Olhão é uma cidade que nos faz querer sair de casa», sublinha Andreia Santos. A cada canto, uma descoberta.

A cinco passos de distância do mercado, é possível contemplar um icónico barco de pesca: a réplica do caíque “Bom Sucesso”. Com duas velas e 20 metros de comprimento, é um dos símbolos de Olhão.

RS86Convida (3).JPG​Junto ao Mercado Municipal de Olhão, uma ráplica do caíque "Bom Sucesso" evoca o feito histórico protagonizado pelos olhanenses

No dia 6 de julho de 1808, um grupo de pescadores olhanenses embarcou neste caíque, atravessando o o​ceano Atlântico para informar o rei D. João VI, então refugiado no Brasil, de que a população tinha conseguido expulsar os invasores franceses.

«O caíque retrata a essência dos olhanenses enquanto povo lutador», evoca Andreia, que trabalha no agrupamento de escolas de São Brás de Alportel desde 2016.

Como recompensa pela coragem revelada, o rei concedeu o foral de “Villa da Restauração” a Olhão, em 1808, tornando-se administrativamente independente de Faro.

Olhão é um postal vivo para quem deseje ver as lides das gentes do mar, e admirar barcos de cores garridas e nome peculiar, como “Vá Com Calma”. Do outro lado da rua, o centro histórico de ruas apertadas e sinuosas atira quem chega para um labirinto. À espreita está um espetáculo visual imperdível.​​

Há cubos a nascer das casas, em especial no bairro da Barreta, núcleo inicial da cidade onde viviam pescadores e operários. Enquanto as casas algarvias têm um terraço ou uma açoteia (usada para arrumos ou secar frutos), estas habitações cubistas têm, em cima do terraço, uma segunda divisão (o mirante) e, por vezes, uma terceira (contra-mirante ou púlpito).

Um percurso pedonal liga cinco largos, onde é possível admirar estátuas e instalações artísticas, todas evocando lendas locais. A saber: a Lenda do Arraúl, Lenda Menino dos Olhos Grandes, Lenda Mouro Encantado, Lenda da Floripes e Lenda de Marim.

Ao almoço ou ao jantar, o peixe fresco e o marisco são reis à mesa. Das cataplanas ao arroz de lingueirão, há muito para provar. O Festival do Marisco, em agosto, no Jardim Pescador Olhanense, é paragem imperdível para apreciadores destas iguarias.

RS86Convida (8).JPG De águas transparentes e areal branco, a ilha da Culatra é refúgio de verão apreciado por portugueses e estrangeiros

​​Com ligações diárias de ferryboat a partir de Olhão, quando os pés chegam a terra chega-se à mais bela das recompensas: a ilha da Culatra. As suas águas límpidas convidativas a mergulhos e as praias de areia branca, a perder de vista, bem como a tranquilidade envolvente, são para apreciar em período de época balnear ou ​em qualquer outra altura do ano.

«A água é mais quentinha, todos os anos passamos lá férias no verão», relata Andreia, mãe de Diogo, cinco anos, e Rafael, de 12.

Os golfinhos andam por aqui e podem surpreender ao despertar da manhã!

Nascido na ilha, pescador reformado, Alberto Carmo, 68 anos, vê chegar anualmente centenas de veraneantes sedentos de descanso neste lugar idílico.

«Há aqui muitos espanhóis a comprar casa», conta, enquanto faz crescer, aos pés e às mãos, uma rede de pesca «para o filho levar ao mar».​

RS86Convida (9).JPG​​Alberto Carmos, um dos habitantes da ilha, 68 anos, faz crescer uma rede de pesca para o filho «levar ao mar»

A beleza natural estende-se mais à frente: a cidade de Faro exibe-se luminosa e cheia de vida. Há movimento de pessoas em passo acelerado típico de uma capital de distrito.

Depois da conquista por D. Afonso III, em 1249, os portugueses chamaram à cidade Santa Maria de Faaron ou Santa Maria de Faaram. Desde cedo Faro tornou-se uma cidade próspera graças à sua posição geográfica e às trocas comerciais.

À entrada do Jardim Manuel Bívar, uma das principais praças da cidade, um cartaz gigante assinala a quem chega que esta é uma terra de património peculiar. Aqui: se realiza uma das mais míticas concentrações motards da Europa.

«Quem vier a Faro tem de visitar as muralhas. É um caminho muito bonito junto à Ria Formosa, tem uma vista extraordinária!», sugere Andreia.

RS86Convida (11).JPG ​Subindo ao topo da Sé de Faro é possível aceder a ​um terraço e ter uma vista panorâmica da cidade algarvia

Da arquitetura às ruas sinuosas que compõem a cidade velha, e à vista esplendorosa, é de aproveitar e espreitar a muralha abaluartada (séc. XVII) e a muralha do castelo (séc. IX), junto à zona ribeirinha.

O que resta do castelo de Faro, fez parte de uma estrutura defensiva da cidade. Em 1596, Faro sofreu um ataque das forças inglesas, foi saqueada e incendiada.

Por toda a cidade, os estudantes do ensino superior, com as suas capas pretas, pintam as ruas e pautam o ritmo evocando a tradição e o legado académico. Ao mesmo tempo que farenses e turistas apreciam os raios de sol na praia de Faro.

«Aqui existe algo único: de um lado a praia, e depois, quando se anda uns metros, está a ria, onde se pode fazer canoagem ou passear em família», explica Andreia, autora do livro infantil “Diogo e o Rafossauro”, criado para ajudar crianças a lidar com a ansiedade.

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Em 1577, a Sé de Faro foi elevada a sede episcopal da diocese do Algarve

Majestosa por fora e por dentro, a Sé, elevada em 1577 a sede episcopal da diocese do Algarve, merece visita demorada.

«É um convite a sentir a história e o património de Faro. É um local de paragem, independente da religião que se tenha», explica Andreia Santos.

Ainda em Faro, a gastronomia é rica e apresenta sabores a não perder. O xerém com conquilhas, carapaus alimados, e ostras encabeçam algumas das iguarias.

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​O xerém e os carapaus alimados são dois dos pratos que mais caracterizam a gastronomia do Algarve

«O xerém é um dos pratos mais procurados, especialmente por turistas que têm curiosidade em provar», relata Nelson Guerreiro, 48 anos, gerente do restaurante Flor do Arneiro, aberto desde 1981.

Mas há mais encantos a descobrir. Na área oeste do Parque Natural da Ria Formosa, os percursos do Ludo ― pedestres ou cicláveis ― são revitalizantes. A vista estende-se até à península do Ancão e às suas dunas. O passadiço de madeira convida a apreciar o caminho.

Que o diga Jean-Claude, 70 anos, francês. Perdeu-se de amores por Faro e, por isso, junto ao Ludo, estacionou a sua autocaravana.

«Estamos aqui há três meses. Não há sol e lugar como estes!».

 


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