Política de utilização de Cookies em Revista Saúda Este website utiliza cookies que asseguram funcionalidades para uma melhor navegação.
Ao continuar a navegar, está a concordar com a utilização de cookies e com os novos termos e condições de privacidade.
Aceitar
8 fevereiro 2019
Texto de Pedro Veiga Texto de Pedro Veiga

Farmácias devem vacinar grávidas

​​Recomendação do Conselho Nacional de Saúde.

Tags

O Conselho Nacional de Saúde (CNS) recomenda a utilização da rede de farmácias para aumentar a cobertura vacinal entre grávidas. A sugestão faz parte do relatório “Gerações Mais Saudáveis”, um retrato das políticas públicas de promoção da saúde das crianças e jovens em Portugal, que descreve as farmácias como «um importante parceiro do Serviço Nacional de Saúde no reforço da cobertura vacinal» devido às «suas características e distribuição geográfica».

O documento do CNS sublinha que as grávidas são um dos grupos a quem é fortemente recomendado fazer a vacinação contra a gripe sazonal, ainda que a legislação não lhes permita acesso gratuito à vacina. O CNS lembra ainda que a vacina tríplice contra o tétano, difteria e tosse convulsa para grávidas faz parte do Programa Nacional de Vacinação (PNV) desde 2017; mas, nesse ano, estima-se que mais de 21 mil gestantes não a fizeram.​


«Todos os profissionais de saúde devem estar envolvidos na vacinação das grávidas, o que inclui a rede de farmácias», defende o obstetra Jorge Lima

Jorge Lima, coordenador da Obstetrícia e da Unidade de Alto Risco Obstétrico do Hospital CUF Descobertas justifica este número com «algum receio por parte da grávida e dos próprios médicos, uma vez que este pro​grama vacinal ainda é relativamente recente». O médico ginecologista e obstetra alerta que, recentemente, «ocorreu uma reemergência da tosse convulsa, com um maior número de casos em crianças com menos de dois meses, e muitos desses casos foram letais». A vacinação durante a gravidez, entende, «deve ser considerada uma estratégia de saúde pública, pelo que todos os profissionais de saúde, onde se inclui a rede de farmácias, devem estar envolvidos».


«É expectável que o contributo dos farmacêuticos permita aumentar a cobertura vacinal das grávidas», defende a bastonária

A bastonária da Ordem dos Farmacêuticos, Ana Paula Martins, liderou um dos grupos de trabalho que produziu o relatório do CNS e lembra que «os farmacêuticos já fazem administração de medicamentos injectáveis e de vacinas não incluídas no PNV nas farmácias». Face ao impacto positivo do trabalho das farmácias na vacinação contra a gripe sazonal, a bastonária entende que «é expectável que o mesmo possa acontecer em relação a outras imunizações, ou na implementação de programas de saúde pública sobre outras patologias e áreas terapêuticas».

Ainda na área da vacinação, o CNS alerta para «disparidades geográficas, particularmente na vacinação contra o sarampo aos 6 anos de idade». Na área metropolitana de Lisboa, a maioria dos agrupamentos de centros de saúde tem taxas de cobertura vacinal inferiores a 95%, com algumas zonas da capital e arredores a não conseguirem chegar sequer aos 90%. No Algarve, a cobertura vacinal fica também aquém dos 95% em toda a região.


«As farmácias podiam ser uma mais-valia, mas era necessário ultrapassar a questão do acesso ao sistema de registo informático», considera o pediatra Hugo Rodrigues

«O principal risco é perder-se a chamada imunidade de grupo», explica Hugo Rodrigues, pediatra e professor na Escola de Medicina da Universidade do Minho. Quando a cobertura vacinal desce abaixo dos 95%, «podem começar a surgir casos de doenças que estavam aparentemente controladas», como demonstrado pelas três epidemias de sarampo nos últimos dois anos.

Hugo Rodrigues acredita que o crescimento das comunidades anti vacinação pode ajudar a explicar as assimetrias na administração da segunda dose da vacina contra o sarampo, alertando que o problema pode crescer «se os profissionais de saúde não forem assertivos na mensagem relativamente aos inúmeros benefícios que as vacinas apresentam». O director do serviço de Pediatria /Neonatologia do Centro Hospitalar do Médio Ave apresenta uma justificação diferente. Para o pediatra José Manuel Gonçalves de Oliveira, «são zonas com um maior número de comunidades de imigrantes, muita gente que vem do estrangeiro e, eventualmente, não está alertada para a vacina». 


O pediatra José Manuel Gonçalves de Oliveira não tem «nada contra a vacinação nas farmácias, desde que seja bem feita»

Ambos concordam que as farmácias podem ter um papel importante no aumento da cobertura vacinal. «A proximidade da população e os horários alargados poderiam ser uma mais-valia» na administração de vacina, considera Hugo Rodrigues, ainda que seja necessário ultrapassar «a questão dos registos informáticos e do acesso ao sistema de registo». Já José Manuel Gonçalves de Oliveira diz não ter «nada contra a vacinação nas farmácias, desde que seja bem feita», ainda que entenda que «prioritariamente, deve ser feita em centros de saúde».


150 mil crianças sem médico de família

Há mais de 150 mil crianças e jovens até aos 18 anos sem médico de família. O Serviço Nacional de Saúde (SNS) não está a conseguir cumprir a legislação, publicada em Setembro de 2016, que estabelece que a todos os bebés é atribuído um médico de família à nascença, denuncia o relatório “Gerações Mais Saudáveis” do Conselho Nacional de Saúde (CNS).

A grande maioria está concentrada na área metropolitana de Lisboa, onde quase 110 mil utentes em idade pediátrica não têm médico de família. Em termos proporcionais, o arquipélago da Madeira é a região do país com pior resultado: 39% não têm médico atribuído.

Na área da saúde mental da infância, novo alerta. Estima-se que entre 10 a 20 por cento das crianças sofrem de pelo menos um problema de saúde mental. No entanto, apenas uma em cada quatro é referenciada para serviços especializados. O CNS refere que «a oferta de cuidados está longe de suprir as necessidades». O SNS tem menos de mil psicólogos e apenas 21 unidades de Psiquiatria da Infância e Adolescência, números considerados «escassos».

O CNS recomenda ainda mudanças no combate à obesidade infantil. Ainda que os indicadores mais recentes demonstrem melhorias nesse domínio, «a prevalência de obesidade infantil permanece elevada em Portugal». Uma das causas, refere o documento, prende-se com a incapacidade das escolas em «monitorizar eficazmente a oferta de alimentos que é feita nos seus bufetes e cantinas». Exemplo concreto: um estudo que envolveu mais de 150 escolas públicas e privadas revelou que apenas 1,3% dos estabelecimentos de ensino respeitam a proporção de três para um entre alimentos a promover e alimentos a evitar.