Durante anos sem uma ‘etiqueta’ para colocar nas dores que sentia, os preconceitos de terceiros foram difíceis para Íris Mira. Era muito nova quando começou a sentir esse peso dos outros. Tinha entrado na década dos 20, já mãe, um quadro a que a sociedade associa força e saúde. «O julgamento de toda a gente… A dor não se vê, não é?», desabafa. É com uma tia que tem «exatamente a mesma doença», ou com outras pessoas que têm dor crónica, que partilha estes pensamentos. «Como nós aprendemos a lidar com a dor e acabamos por pôr uma cara de: “está tudo bem”, o resto do mundo não consegue perceber o difícil que é muitas vezes lidar com isso todos os dias», diz.
Além do efeito que a falta de diagnóstico lhe provocava em si mesma, somava o peso de ter de dar uma explicação aos outros. «Não havia um nome, uma caixinha dentro da minha cabeça. Era “como é que eu vou explicar às pessoas aquilo que se passa?”», recorda. Quando se dá um nome ao que está a acontecer ao corpo, «já não é só uma panóplia difusa de sintomas».
Atualmente, com a doença controlada e diagnosticada, encara-a com naturalidade. Sente-se bem, mas «se amanhã correr mal, porque não? Não se consegue controlar. É uma doença autoimune». Íris diz que a sensação de despreendimento é apaziguadora. Acredita que as pessoas não falam sobre os problemas que têm porque «não querem ser vistas como desgraçadinhos, coitadinhos, ou a tentar – odeio esta palavra – despertar pena nos outros». Para Íris é mais saudável «falar desempoeiradamente da dor» e transmiti-la aos outros com leveza. «É uma circunstância da minha vida, pronto. Olha, tenho um defeito de fabrico, tenho dores».