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8 outubro 2017
Texto de Sónia Balasteiro Texto de Sónia Balasteiro Fotografia de Pedro Loureiro Fotografia de Pedro Loureiro

Escrita, um «caso muito complicado» de amor

​​​​​Histórias inspiradas no desengano.

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​Em 2009, Júlia Pinheiro surpreendeu o mundo com o primeiro romance, “Não sei nada sobre o amor”. Escrevê-lo, confessa a apresentadora de “Queridas Manhãs”, na SIC, «foi uma luta monumental». «A escrita é um caso muito complicado na minha vida, porque eu sou licenciada em Literatura e tenho com o livro uma relação de profundo amor e respeito. É sagrado», explica. 

Vamos ao início. A entrada nesse mundo «mítico» da escrita, como lhe chama, surgiu há cerca de 13 anos, vinda de Sofia Monteiro, que se tornaria «uma grande amiga». A editora incitou-a a escrever «um livro que retratasse um bocadinho o universo íntimo e doméstico das mulheres do século XX em Portugal», recorda. «Era para ser jornalístico» mas Júlia teve melhor ideia: «Contar a história de uma família de mulheres com esse enfoque, mas em romance». 

«Mal disse isto, arrependi-me», recorda a autora, a rir. Era só a insegurança a falar mais alto: «a minha fragilidade, o respeito que eu tinha por aquela actividade, que ainda por cima não dominava». 

Os quatro anos dedicados à história compensaram. Nove edições depois, “Não sei nada sobre o amor” continua a somar leitores. «Fiquei muito contente. Sobretudo porque pessoas que eu respeitava leram e gostaram», diz Júlia Pinheiro. 

O reconhecimento público levou-a a idealizar de imediato um segundo romance, porém um novo imperativo surgia na sua vida íntima: «Entretanto, as minhas filhas estavam doentes e eu atrasei-me um bocadinho… Devia ser de dois em dois anos, mas não consegui».

Em 2015, publicava, finalmente, o seu segundo romance, “Um Castigo Exemplar”. Historicamente situado no século XIX e baseado numa história verídica, tem como protagonista Amélia Novaes, uma mulher de aparência banal que viu o desengano e a mágoa ocuparem o lugar dos sonhos que alimentara ao casar-se com um aristocrata. 

Porquê este retrato desapaixonado do amor no feminino? Após uma pausa breve, Júlia responde, bem-humorada: «Nós, mulheres, já fizemos avanços espantosos numa série de coisas, mas, em relação ao amor, ainda temos tudo para aprender». 

E concretiza: «Ainda não somos pares em relação aos homens nessa matéria, temos sempre idealizações românticas e complexas. Achamos que é a alma gémea, o príncipe perfeito. Todas essas patetadas que nos enfiaram na cabeça. A culpa é da Disney!». «Não sei se é da Disney mas de alguém é…», continua, em tom de brincadeira. «Gosto muito de escrever sobre esse lado menos luminoso mas profundamente sofrido que algumas mulheres – também os homens, mas sobretudo as mulheres – têm. Sem querer, somos todas formatadas para essa ideia de fazermos parte de um casal. E as pessoas não têm de viver em casal». A complexidade, acredita, é ainda maior no feminino, porque «há um lado profundamente perverso nas mulheres. Somos muito mais inteligentes do que os homens. Desculpem-me os senhores, mas é verdade! E quando nos dá para ser mazinhas somos para lá de mazinhas».

Avessa a um estilo de escrita reconfortante, prefere romances sem final feliz. «Escrevo sobre personagens que têm vida interior, não são nem preto nem branco. São preto, branco, cinzento, meio cinzento...Têm um espectro de emoções, de mentiras e de verdades dentro de si. São humanas. O ser humano é isso».​

 

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