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3 junho 2017
Texto de Nuno Monteiro Pereira (Urologista e Andrologista) Texto de Nuno Monteiro Pereira (Urologista e Andrologista) Ilustração de Mantraste Ilustração de Mantraste

Escravos do corpo

​Sofrimento masculino no século XXI.

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O corpo masculino é hoje celebrado como objecto de interesse sexual, desportivo ou lúdico. O ideal popular passou a valorizar o porte atlético considerando-o verdadeiro atributo do homem. Os modelos são sempre jovens, bonitos, perfeitos. A televisão mostra permanentemente imagens de gente bonita e magra, eles musculados e confiantes, dançando com mulheres igualmente bonitas, magras e sexy.

Apesar de existirem homens que não perseguem activamente os novos padrões corporais masculinos, muitos idealizam-nos e consideram-nos um objectivo social e cultural a atingir a todo o custo. Facilitando esse objectivo, há uma verdadeira explosão de produtos que pretendem melhora a apresentação do corpo masculino: aparelhos mecânicos de treino, suplementos dietéticos, injecções anabolisantes, massagens, cremes cutâneos, programas de treinos, monitorização fisiológica em tempo real.

Há uma preocupação masculina, intensa e permanente, em manter um bom aspecto físico. Não é uma preocupação com a saúde, é antes uma pura preocupação com a imagem.

Um estudo que realizei e publiquei há alguns anos, com uma amostra de 498 jovens adultos portugueses entre os 18 e os 25 anos, mostrou que o principal foco de desagrado dos jovens é a barriga, imediatamente seguido do nariz. O terceiro foco são os genitais. Quase metade dos homens afirmou-se insatisfeita com a estatura, quase todos desejando ser mais altos. Afirmaram-se insatisfeitos com o seu peso um pouco mais de metade dos inquiridos. Porque eram gordos? Não. Sessenta por cento desse grupo queria ter mais peso. Ou seja, mais músculo.

A auto-estima e o modo como cada um se julga a si próprio, quase exclusivamente através da aparência, desenvolve a exigência de um ideal, que muitas vezes pode levar a uma exagerada avaliação de si mesmo, tornando-se extremamente crítico com qualquer mínima imperfeição ou anormalidade. Felizmente, a maioria dos homens tem uma imagem realística, por vezes conformada, de si próprios. Apenas uma pequena percentagem dos homens tem verdadeiros problemas com a sua imagem corporal.

Mas uma coisa parece certa: por influência dos pensamentos libertários e dos movimentos feministas dos últimos 50 anos, a auto-estima masculina está a ficar determinada por valores diferentes, que modificam a qualidade das suas interacções com o mundo social, com o mundo relacional e com o próprio mundo interior. O conceito do patriarcado eterno está caduco. A supremacia dos homens sobre as mulheres está ultrapassada.

O que é particularmente interessante na nova imagem corporal masculina é que, precisamente, tudo parece centrar-se num tremendo desejo de aumento da autoconfiança e da auto-estima. Numa época particularmente difícil para os homens, o mundo pede-lhes cada vez mais, o que faz os homens pedir cada vez mais a si próprios.
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