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1 junho 2023
Texto de Sandra Costa Texto de Sandra Costa Fotografia de Pedro Loureiro Fotografia de Pedro Loureiro

Envelhecimento: problema ou oportunidade?

​​Prevenir as doenças crónicas é a chave para fazer da longevidade um fator positivo. 

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​A longevidade não tem de implicar perda de produtividade ou qualidade de vida. O que importa é garantir que se envelhece de forma saudável. Portanto, é a doença crónica associada ao envelhecimento que é importante combater, concluiu-se na segunda edição do Fórum Saber Mais, Apoiar Melhor, coorganizado pela Plataforma Saúde em Diálogo e pela Novartis. 

A percentagem da população portuguesa com mais de 65 anos quadruplicou em Portugal nos últimos 60 anos e, em 2080, representará entre 35% e 43% do total da população, estima o Instituto Nacional de Estatística (INE). Se é inegável que o envelhecimento demográfico cria enorme pressão sobre o sistema de Saúde e a sustentabilidade da Segurança Social, também é verdade que pode ser uma oportunidade para o futuro das nossas sociedades. «Depende das ações que tomarmos hoje», como afirmou Simon Gineste, country president da Novartis Portugal, no evento que decorreu a 31 de maio, no ISCTE, em Lisboa. 


Rui Martins, economista da saúde, deixou um conjunto de propostas para promover a saúde e prevenir a doença. «A responsabilidade é de todos», afirmou

A esperança média de vida em Portugal ronda os 82 anos, mas, para que seja motivo de congratulação, «é preciso garantir que a longevidade é sinónimo de saúde», afirmou Jaime Melancia, da Direção da Plataforma Saúde em Diálogo. São precisas ações para promover um envelhecimento saudável e sustentável, adiando, o mais possível, as doenças crónicas, que são um problema grave no nosso país: um em cada três portugueses morre por doenças causadas por fatores de risco comportamentais; quatro em cada dez adultos são portadores de doença crónica. Os mais pobres e os que têm menos habilitações académicas são os mais afetados pelas doenças crónicas e estas são responsáveis por mais de metade do absentismo laboral em Portugal. 

Trabalhar na longevidade saudável é mais do que desenhar políticas de saúde vocacionadas para as pessoas idosas. As palavras-chave são alimentação, exercício físico, hábitos de vida saudáveis, envelhecimento ativo e literacia em saúde. É preciso começar a trabalhar desde a infância e «a responsabilidade é de todos»: indivíduos, empresas, instituições e Estado, deixou claro Rui Martins, economista da saúde, e keynote speaker da sessão, que deixou um conjunto de propostas para promover a saúde e prevenir a doença.


O Plano de Ação Nacional de Envelhecimento Ativo e Saudável vai ser apresentado em breve, garantiu o seu coordenador, Nuno Marques (ao centro na foto)

Ao nível micro, importa envolver o indivíduo nos destinos da sua saúde, comunicando de forma simples e empática. «Sem este empowerment não seremos bem-sucedidos», alertou o responsável da Global Market Access Solutions (GMAS). Para que a literacia em saúde funcione é preciso evitar «mensagens ditatoriais e desligadas dos contextos em que as pessoas vivem, que se limitam a prescrever comportamentos saudáveis», alertou a diretora da Escola Nacional de Saúde Pública da Universidade Nova de Lisboa. «É preciso atuar nos vários níveis de literacia, incluindo junto dos profissionais de saúde», afirmou Sónia Dias. 

As entidades empregadoras podem atuar incentivando medidas de promoção da saúde no local de trabalho, desde promover rastreios de saúde e investir em ergonomia, até incentivar o trabalho em part-time e remoto. Cabe às instituições de apoio às pessoas com doença crónica divulgar o impacto das doenças em termos socioeconómicos e influenciar a agenda política. Ou, nas palavras de Rui Martins, «continuar a persistir na mensagem-chave: “O doente no centro dos cuidados”». Por sua vez, as instituições de saúde e de apoio social devem centrar-se em envolver os utentes, ajustar as respostas às suas necessidades e, entre si, trabalhar de forma colaborativa, garantindo a partilha de dados. 
Finalmente, ao Estado cabe investir na prevenção em saúde, área fortemente descurada nos orçamentos de Estado, e fortalecer os cuidados de saúde primários. «É preciso considerar os custos indiretos da doença aquando da distribuição de recursos em saúde», alertou Rui Martins. 

Jaime Melancia, da Direção da Plataforma Saúde em Diálogo, e Ricardo Mestre​, secretário de Estado da Saúde, encerraram os trabalhos

Que fique claro que não falta estratégia, falta operacionalizar, definindo ações e indicadores, a estratégia europeia preconizada no Livro Verde sobre o Envelhecimento. O Plano de Ação Nacional de Envelhecimento Ativo e Saudável vai ser apresentado em breve, garantiu o seu coordenador, Nuno Marques, na mesa-redonda moderada por Joana Viveiro, diretora-executiva da Plataforma Saúde em Diálogo. Inclui medidas para concretizar conceitos como envelhecimento ativo ou empreendedorismo sénior e outras capazes de «inverter o sistema laboral de on/off em modelos de passagem à reforma com redução progressiva da carga laboral». A sustentabilidade do sistema de Segurança Social depende ainda da aposta na imigração, atraindo pessoas em idade ativa, defendeu Nuno Marques. 

No encerramento da sessão, o secretário de Estado da Saúde, Ricardo Mestre, lembrou o empenho do Governo nesta matéria, patente na criação de uma Secretaria de Estado da Promoção da Saúde e na futura criação de uma agência portuguesa para a promoção da saúde.