Está provado que o sono está relacionado com o ritmo circadiano do dia e da noite. O sono nocturno é mais reparador que o diurno e é modulado por duas hormonas: o cortisol, que nos ajuda a despertar, e a melatonina, para adormecer.
O Estudo Poligráfico do Sono Nocturno, um exame diagnóstico rotineiro, permitiu passar a detectar muitos distúrbios do sono e, entre eles, adquire cada vez maior importância a Síndroma da Apneia Obstrutiva do Sono. Esta doença é caracterizada por paragens da respiração durante o sono – apneias – geralmente associadas a roncopatia – ressonar. É causada pelo colapso e pela obstrução das vias aéreas superiores, que impede a passagem do ar.
A maioria dos doentes não se apercebe do problema. Porém, alguns sintomas permitem levantar a suspeita: despertares recorrentes durante o sono, episódios de sensação de asfixia nocturna, sonolência e fadiga diurnas, e diminuição da concentração.
As apneias nocturnas originam um leque variado de alterações que ultrapassam a esfera respiratória. A deficiente oxigenação do sangue é o elemento fulcral, com reflexos em todo o organismo, desde o défice de memória até à impotência sexual. A hipersonolência diurna afecta a vida social, familiar e profissional, para além de estar na origem de múltiplos acidentes de viação – estes doentes têm, em média, sete vezes mais acidentes.
Contudo, as repercussões mais graves fazem-se sentir ao nível do aparelho cardiovascular: hipertensão arterial, doença coronária e arritmias, que podem levar a acidentes isquémicos, por vezes fatais. Estes doentes têm maior probabilidade de morte súbita durante o sono.
Sendo uma doença com elevado potencial de gravidade, o que fazer para a evitar?
A primeira medida deve ser dirigida à principal causa: o excesso de peso e a obesidade. A perda de peso, associada à ausência de consumo de álcool e sedativos, é a primeira acção a implementar. Dormir de lado e com a cabeceira elevada são medidas simples, muito úteis, sobretudo nos casos menos graves.
Quando o problema se torna mais grave, o tratamento é feito através de um pequeno ventilador – CPAP – que, através de uma máscara facial, introduz nas vias aéreas ar sob pressão, impedindo o seu colapso. As apneias diminuem ou desaparecem, o sono torna-se mais eficaz, reduz-se a sonolência diurna, melhoram a memória, o humor, o desempenho na condução de veículos e os parâmetros cardiovasculares.
Sendo eficaz, o tratamento com o CPAP é muitas vezes interrompido pelo doente, devido a factores como a baixa motivação, inadaptação ao aparelho, ou intolerância a efeitos adversos incomodativos, designadamente a obstrução, secura, hipersecreção ou hemorragia nasais, inflamação dos olhos, ou lesões cutâneas provocadas pela máscara. Muitos destes efeitos têm solução fácil, não justificando a interrupção do tratamento.
A apneia do sono é um problema de saúde crescente. O seu potencial de perigo é elevado. Assim, se tiver suspeita fale com o seu médico. Se for obeso comece desde já a pensar em perder peso.