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8 fevereiro 2021
Texto de Paulo Martins Texto de Paulo Martins

Comunidade 2.0

​​AFPLP dá um salto em frente.

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No Plano Estratégico da Associação de Farmacêuticos dos Países de Língua Portuguesa (AFPLP) aprovado em final de Novembro, a palavra «intervenção» surge 29 vezes e a palavra «visibilidade» apenas quatro. A estatística engana: no horizonte temporal de cinco anos que baliza o documento, reforçar a intervenção não é mais importante do que tornar-se mais visível. Na realidade, para habilitar os farmacêuticos lusófonos a envolverem-se de forma mais activa no desenvolvimento dos sistemas de saúde dos respectivos países, as duas dimensões afiguram-se essenciais. Uma não vive sem a outra.

A pretensão de assegurar o reconhecimento da AFPLP pela comunidade internacional pressupõe actuar em várias frentes. Ao reforço da presença institucional junto de entidades como a Organização Mundial da Saúde (OMS) e a Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), da qual quer passar a ser membro-observador, deseja acrescentar uma relação mais próxima com a Federação Internacional Farmacêutica (FIP). No XIV Congresso Mundial dos Farmacêuticos de Língua Portuguesa, realizado online, a AFPLP e a FIP assinaram um memorando de entendimento que consagra a colaboração nos domínios da formação pós-graduada e do apoio técnico regulamentar e científico.

A formação constitui uma das peças-chave para reforçar a relevância da profissão farmacêutica. Ao nível da pós-graduada, a aposta consiste na realização de webinars e módulos de actualização técnico-científica, bem como na retoma do programa de estágios, em articulação com universidades. Porém, interessada em colaborar na revisão dos planos curriculares, a AFPLP também se propõe, segundo o Plano Estratégico, elaborar «um documento de orientação para harmonização do tronco comum de formação farmacêutica pré-graduada».

A actual situação de pandemia, que não escolhe território nem cor, é interpretada como o momento certo para adquirir uma nova dinâmica. O plano sustenta mesmo que a COVID-19 oferece uma «oportunidade ímpar» – que, porém, só pode ser aproveitada se a organização for capaz de se reajustar. Mudando a estrutura orgânica e introduzindo novos instrumentos de gestão.

​Helder Mota Filipe, eleito presidente em Outubro de 2019, recusa a ideia de virar de página, mas acredita numa AFPLP «mais forte e profissionalizada»

Eleito presidente em Outubro de 2019, para um mandato de dois anos, Helder Mota Filipe assegura que o de- bate desde então travado no seio do Conselho Directivo, onde estão representados todos os membros, permitiu «dar à AFPLP um rumo consensualizado, com horizonte de cinco anos». A perspectiva de médio prazo não é obra da presidência, actualmente em mãos portuguesas, mas de toda a equipa. «Estamos sintonizados, em ambiente de colaboração e verdadeira igualdade», afiança, certo de que esse espírito se mantém intacto desde a fundação da AFPLP, em 1993​.

Mota Filipe recusa a ideia de virar de página, uma vez que não há corte com o passado, mas evolução, tendente a «tornar a AFPLP mais forte, mais estruturada e mais preparada para enfrentar os desafios da formação farmacêutica nos próximos tempos». A definição dos contornos da «formação nuclear» do farmacêutico lusófono é um dos mais arrojados propósitos. À medida da ambição de que se institua como «instrumento de referência não apenas da academia, mas também das ordens e associações de cada país».

Do que fala Mota Filipe, quando alude ao carácter histórico de que se reveste a resolução agora aprovada? Desde logo, da introdução de uma estrutura profissionalizada, assente na criação da função de director-executivo e de um Comité Operacional, liderado pelo presidente, cuja missão se concentra na preparação de planos de actividades.

«Alguém muito preparado e conhecedor da realidade da Farmácia no espaço lusófono». É nestes termos que descreve a escolha da farmacêutica cabo-verdiana Carla Djamila Reis para directora-executiva. Formada em Portugal – licenciatura, mestrado e doutoramento na Faculdade de Farmácia da Universidade de Lisboa – já conhece os cantos à casa. Entre outras funções, foi vogal do Conselho de Administração da AFPLP (2005-2007) e do Conselho Fiscal (2008-2013). Contudo, é o seu envolvimento na regulamentação de medicamentos, a área do seu mestrado, que representa uma mais-valia. Fez parte do primeiro Conselho de Administração da Agência de Regulação e Supervisão de Produtos Farmacêuticos e Alimentares de Cabo Verde (2005-2012) e liderou o organismo de 2012 a 2019.


Djamila Reis resume numa palavra o seu desafio: «dinamizar»

Carla Djamila Reis resume numa palavra o desafio que lhe foi feito: «dinamizar». Encarregada da planificação estratégica, assume que só numa perspectiva pro​fissional é possível «responder ao potencial da AFPLP». Convicta de que «não há corte, mas continuidade, numa lógica de construção», admite que o seu trabalho consiste em contribuir para uma nova fase: «Deixar de ser uma associação que se preocupa só com resoluções de dois em dois anos e no interregno pouco acontece».

O principal objectivo é garantir que a organização seja «útil para os farmacêuticos, considerando que trabalham para as pessoas em cada um dos países». Face à diversidade de realidades, a directora-executiva convoca a necessidade de adequar estratégias: através de um denominador comum – a formação nuclear de um farmacêutico no espaço lusófono, sem ir contra as formações já estabelecidas – ou fazendo depender o caminho a seguir de uma prévia identificação de carências.

Para concretizar tais projectos, o grande desafio reside na captação de recursos financeiros, condição de sustentabilidade. Como presidente do Conselho para a Cooperação da Ordem dos Farmacêuticos, Mota Filipe conhece o potencial das sinergias, mas valoriza a aquisição de personalidade jurídica pela AFPLP, indispensável para concorrer a projectos de financiamento, por exemplo da União Europeia e da OMS.










​A abrir caminhos



Nascida Associação Internacional de Farmacêuticos de Língua Oficial Portuguesa, em Junho de 1993, a actual AFPLP – designação adoptada três anos depois – é uma plataforma de profissionais de Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, Portugal e São Tomé e Príncipe. Desde então “a abrir caminhos”, o título escolhido para o livro evocativo do 25.º aniversário da organização, inscrevem-se na sua história momentos tão significativos como o contributo dado para o primeiro curso de Ciências Farmacêuticas na África lusófona, aberto em 1997 no Instituto Superior de Ciências e Tecnologias de Moçambique, a primeira Carta de Farmácia e dos Farmacêuticos de Língua Portuguesa, aprovada em 1997, ou o Código Deontológico Farmacêutico, que a partir de 1999 serviu de orientação às associações profissionais dos países lusófonos.

Comunidade de farmacêuticos unidos pela língua e pelo património histórico comuns, a AFPLP guia-se por um princípio de representação paritá- ria entre as nações que proporciona a partilha de conhecimentos e experiências. «Somos todos feitos da mesma massa», afirmou João Silveira na citada obra. Em 2018, no congresso comemorativo, o farmacêutico português, de quem partiu a ideia de lançar a organização, cujo núcleo fundador integrou e a que presidiu, fez questão de sublinhar as virtualidades de uma história de consensos: «Nunca necessitámos de discutir votos».