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30 junho 2023
Texto de Carina Machado Texto de Carina Machado Fotografia de Mário Pereira | Miguel Ribeiro Fernandes | Pedro Loureiro Fotografia de Mário Pereira | Miguel Ribeiro Fernandes | Pedro Loureiro

Como poupar 1,2 mil milhões de euros

​​​​​​​António Pedro Machado, médico de Medicina Interna.​

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Como   é que surgiram as Unidades de Apoio ao Hipertenso (UAH)?
Inspirámo-nos num programa canadiano de medição da pressão arterial nas farmácias, intitulado AOBP (Automated Office Blood Pressure). É um aparelho totalmente automatizado, que dispensa a presença de quem quer que seja perto do doente, expurgando, assim, o valor medido do efeito da bata branca. Isto é uma enorme vantagem. No Canadá contribuiu muito para que tivesse sido o país com a melhor taxa de controlo dos hipertensos. Os médicos deixaram de perder tempo a medir pressões arteriais. Repare: a medição correta, segundo as recomendações da Sociedade Europeia de Hipertensão e Cardiologia, consome cerca de 12 minutos. Pouco exequível, quando as consultas duram um quarto de hora! Por isso, cá continua a medir-se mal e assim se explica que até 40% dos nossos diagnósticos sejam falsos. Os ligeiros, de grau 1, são hipertensos da bata branca, assim como o são mais de metade dos muito idosos. E toda esta gente está a ser medicada! Por outro lado, 17% da população normotensa tem pressão arterial normal durante o dia, mas é hipertensa durante o sono. Têm hipertensão mascarada que, em algumas séries, vai até aos 20%. Por muito boa que seja a medição feita no período de vigília, estes indivíduos não são detetáveis, só através da MAPA (Monitorização Ambulatória da Pressão Arterial). Assim nasceram as UAH nas farmácias.

Porquê nas farmácias?
Porque são uma rede que está no país inteiro, com uma organização notável. Começámos com a AOBP, com o tal aparelho, juntamente com a MAPA, num protocolo de cinco dias em domicílio. A grande vantagem da MAPA é que envolve o doente na gestão da sua doença, aumentando a adesão à terapêutica, outro grande drama. Quantos doentes cumprem a terapêutica? Ninguém sabe. As UAH são uma porta para a prestação de serviços contratualizados com o Ministério da Saúde. A Europa tem 400 e alguns milhões de habitantes e, por dia, cerca de 20 milhões recorrem às farmácias, que, ao fim do mês, acolheram o equivalente a toda a po- pulação europeia. O farmacêutico comunitário é o profissional de saúde mais acessível. Nós não esta- mos a usar as farmácias, mas esse é o futuro. Não nos podemos dar ao luxo de dispensar profissionais altamente qualificados que estão de Norte a Sul do país.

Há alguma estimativa de poupança pela implementação destas unidades?
Um estudo feito em Espanha calculou que, se todos os indivíduos passassem a ter acesso à MAPA de 48 horas, haveria uma poupança de 4,8 mil milhões de euros por ano. Portugal tem uma população quatro vezes menor, pelo que a poupança seria de cerca de 1,2 mil milhões de euros. A Europa já está a evoluir para a utilização das farmácias na prestação de serviços diferenciados.

O que impede, então, os nossos decisores políticos de replicar?
Julgo que estamos numa fase de mudança. Temos, neste momento, à frente da Saúde, gente de grande qualidade, e vontade. É uma questão de tempo.​
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