Texto de John Preto | Coordenador de cirurgia geral e da unidade de cirurgia de obesidade e metabólica, Hospital CUF Porto
A obesidade é um dos maiores problemas de saúde em Portugal e a cirurgia bariátrica e metabólica é, até à data, o tratamento mais eficaz para as pessoas com obesidade que procuram uma redução de peso duradoura.
Quando feita em hospitais reconhecidos e por cirurgiões experientes, é uma cirurgia muito segura, já que o avanço no conhecimento da doença tem permitido introduzir novas abordagens, menos invasivas, como a laparoscopia ou a cirurgia robótica, contribuindo para uma melhor recuperação dos doentes.
Na presença de doenças associadas, como a diabetes tipo II ou a apneia do sono, este tipo de intervenção pode melhorar ou mesmo resolver essas condições, com impacto positivo na saúde global e, consequentemente, na qualidade e esperança de vida.
Olhando para a população feminina, estima-se que a obesidade afete cerca de 15% das mulheres em Portugal, de acordo com o Instituto Nacional de Estatística. Colocar o olhar sobre a população feminina é importante porque, embora os critérios que determinam o encaminhamento para cirurgia bariátrica e metabólica sejam os mesmos para homens e mulheres, existem particularidades nas mulheres que, ao falar- mos de cirurgia de obesidade, merecem atenção, sobretudo nas áreas da saúde reprodutiva, contracetiva e óssea.
Importa sublinhar que muitas mulheres com obesidade sofrem de síndrome do ovário poliquístico (SOP), que pode provocar ciclos menstruais irregulares, excesso de androgénios (um tipo de hormonas) e dificuldades de ovulação. Após a cirurgia, é frequente ocorrer uma melhoria significativa destes sintomas, com ciclos mais regulares, redução da acne e do excesso de pelos, bem como uma maior probabilidade de ovulação e fertilidade. Verifica-se, ainda, uma diminuição da resistência à insulina, o que reduz o risco de desenvolvimento de diabetes tipo II e potencia a resposta ovárica.
Com a melhoria do equilíbrio hormonal, muitas mulheres em idade reprodutiva aumentam a fertilidade após a cirurgia. Algumas cirurgias comprometem a absorção dos anticoncecionais orais (nomeadamente aquelas que envolvem o intestino delgado, como o bypass gástrico), pelo que se aconselha evitar o uso dos mesmos após o ato cirúrgico e procurar uma alternativa junto de um profissional de ginecologia.
A osteoporose é outra preocupação relevante, especialmente em mulheres submetidas a cirurgia de obesidade, devido às alterações verifica- das na absorção de nutrientes essenciais à saúde óssea, em particular durante a menopausa, devido às alterações hormonais que ocorrem.
Nas cirurgias de obesidade com derivação intestinal existe uma diminuição da absorção de cálcio e vitamina D, (essenciais à mineralização óssea). Por outro lado, a perda rápida de gordura pode reduzir os níveis de estrogénio, que também contribui para a perda óssea, agravada nas mulheres peri-menopáusicas.
Para diminuir o risco de osteoporose, recomenda-se uma suplementação adequada de vitamina D e cálcio, exames regulares e a prática de exercício físico de impacto moderado.
Em conclusão, a cirurgia de obesidade é especialmente importante nas mulheres porque, além dos benefícios também verificados nos homens, pode significar uma melhoria significativa da sua saúde reprodutiva.
Uma abordagem multidisciplinar é essencial para garantir que cada mulher percorre este caminho de forma segura, informada e acompanhada.