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4 outubro 2019
Texto de Nuno Monteiro Pereira (urologista e andrologista) Texto de Nuno Monteiro Pereira (urologista e andrologista)

Boas notícias para diabéticos

​​​​​​​Doença aumenta riscos para a sexualidade, mas existem soluções.

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A diabetes é uma doença metabólica que se caracteriza por um aumento anormal dos níveis de glicose no sangue. A causa e o défice de insulina, uma hormona produzida pelo pâncreas cuja função é regular os níveis de açúcar no organismo.

A diabetes é uma doença silenciosa, sem sintomas nos primeiros anos. Com a evolução da doença começam a surgir sintomas: aumento do volume urinário, sensação de sede, aumento do apetite, cansaço persistente e dificuldade em cicatrizar.  O excesso de glicose no sangue determina alterações celulares, particularmente nos vasos sanguíneos e nos pequenos nervos periféricos. Quando atinge os órgãos genitais, surge disfunção eréctil nos homens e nas mulheres dificuldades de excitação vaginal, perda de lubrificação e incapacidade de atingir o orgasmo.

A disfunção eréctil é cinco vezes mais frequente nos homens diabéticos do que nos não-diabéticos. A primeira alteração no pénis é a perda de elasticidade da musculatura lisa do tecido cavernoso peniano, o que vai dificultar o mecanismo de encerramento das pequenas veias do pénis, desencadeando a chamada fuga venosa. Como consequência, o homem começa a notar dificuldade em manter as erecções, que se tornam cada vez mais fugazes e de menor duração. É esse o primeiro sinal de disfunção, que dá sinal cerca de 15 anos depois do início da doença. Menos tempo se a diabetes estiver mal controlada.

Entre 18 a 20 anos depois do início da diabetes surgem as repercussões arteriais, com diminuição do calibre das artérias cavernosas, impedindo o adequado aporte de sangue ao tecido cavernoso. Além de pouco duradouras, as erecções passam também a ser incompletas, com dificuldade crescente em conseguir a penetração. Aos 50 anos de idade, metade dos homens com diabetes tipo 2 têm problemas de erecção.

Mais tardiamente, 25 a 30 anos depois do início da doença, surgem as complicações neurológicas, a chamada neuropatia periférica, com alterações motoras, sensibilidade dos órgãos periféricos, particularmente da bexiga e dos membros inferiores, mas também dos órgãos sexuais, com disfunção eréctil completa e perda da sensibilidade peniana.  

Na esfera sexual, para além dos factores endócrinos próprios da doença, a diabetes provoca no pénis insuficiência veno-oclusiva, insuficiência arterial e neuropatia periférica. É essa causa multifactorial que determina a gravidade da disfunção eréctil nos diabéticos.

A diabetes mal controlada, o aumento do colesterol, a hipertensão, o tipo de vida, o tabaco e o álcool podem agravar e/ou antecipar a disfunção eréctil. O mesmo acontece se o diabético necessita de ser medicado com anti-hipertensores ou com antidepressivos. O impacto pessoal, conjugal e social da disfunção sexual é, também e sempre, muito significativo: cerca de 20 por cento dos diabéticos com disfunção eréctil tem problemas psicológicos importantes.

No final do século passado, surgiram terapêuticas orais, com inibidores da fosfodiesterase 5, que trouxeram uma nova esperança aos diabéticos com disfunção eréctil. Os efeitos secundários são mínimos e raros. A duração do efeito vasoactivo varia entre oito e 24 horas, e a eficácia clínica é boa nos primeiros tempos de início das queixas. Com o agravamento das lesões vasculares e neurológicas, a eficácia medicamentosa vai diminuindo. Quando as terapêuticas orais falham, existem algumas alternativas: a auto-injecção intracavernosa, o dispositivo de erecção por vácuo ou, finalmente, a cirurgia.

A implantação de uma prótese peniana representa o último recurso para os indivíduos com disfunção eréctil orgânica grave. Os homens diabéticos são a principal população que coloca próteses. A eficácia das próteses é notável e, independentemente do tipo de prótese, a sua aplicação proporciona boa aceitação por 90 por cento dos doentes. As parceiras sexuais registam graus de satisfação mais reservados. 

E as mulheres diabéticas, que problemas sexuais podem ter? Já referimos a dificuldade de excitação vaginal, a perda de lubrificação e a incapacidade de atingir o orgasmo. A causa é exactamente a mesma dos homens: insuficiência vascular e neuropatia periférica. Mas, para além das consequências físicas, o impacto das repercussões psicológicas e relacionais na mulher costuma ser mais intenso do que nos homens. A presença de uma doença crónica, como é a diabetes, modula fortemente a auto-estima e auto-imagem. 

A depressão é muito frequente nas mulheres diabéticas. A constatação da disfunção sexual, com as óbvias repercussões sobre a intimidade e a sexualidade, modula a forma de interacção sexual e perturba fortemente o contexto relacional em que se desenvolve.
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