Na escura noite alentejana, de olhos postos no céu, o astrónomo Nuno Santos identifica constelações como a Ursa Maior, Oríon, o caçador mítico, ou Cassiopeia, associada na mitologia grega à lendária rainha da Etiópia, esposa de Cefeu e mãe de Andrómeda. Com a ajuda de um foco luminoso explica as linhas imaginárias que permitem visualizar figuras, animais ou criaturas mitológicas. «Podemos concluir que o vinho grego era melhor do que o nosso», brinca o astrónomo.
O humor é uma das ferramentas para manter atentos os visitantes enquanto explica conceitos científicos complexos. Como a ideia de que «somos todos poeira das estrelas: Há muito tempo, houve estrelas que explodiram e geraram elementos que vieram a ser englobados na composição da terra e dos nossos corpos», resume em versão simplificada o que, noutro contexto, faria recorrendo a dados precisos.
Na sede do projeto, que funciona numa escola primária na aldeia da Cumeada, perto de Reguengos de Monsaraz, há dois telescópios usados para a observação astronómica
Dois poderosos telescópios apoiam a observação astronómica tornada real em 2007 pelo projeto Dark Sky Alqueva. A Dark Sky funciona numa antiga escola primária na aldeia da Cumeada, perto de Reguengos de Monsaraz. Ali organizam-se sessões noturnas de observação de estrelas, planetas e galáxias, e diurnas, para mostrar o sol. Também são promovidas atividades de observação “a olho nu”, em escolas de outros municípios e em parceria com operadores turísticos. É possível, por exemplo, uma visita guiada às estrelas a bordo de uma canoa.
Além do observatório astronómico, o projeto Dark Sky Alqueva promove atividades de observação “a olho nu”
A associação Dark Sky quer consciencializar para o combate à poluição luminosa (o desperdício de luz à noite), e promover o Alentejo como destino de astro-turismo, porque o escuro céu alentejano, protegido do impacto luminoso das grandes cidades, é perfeito para a observação astronómica. «Quisemos criar uma zona de céu certificado e protegido no Alentejo, preservar este céu para o futuro, pois já é raro encontrar um céu assim, na Europa e no Norte do planeta», diz Nuno Santos.