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4 novembro 2016
Texto de Hugo Rodrigues (pediatra) Texto de Hugo Rodrigues (pediatra) Fotografia de João Pedro Marnoto Fotografia de João Pedro Marnoto

As dores de barriga das crianças podem ser sérias

​​​​​​​​​​​​​O pediatra Hugo R​odrigues ajuda-o a distinguir.​

A dor de barriga é uma queixa muito frequente nas crianças e, na maior parte das vezes, a maior dificuldade é perceber se é apenas uma chamada de atenção, até porque surge frequentemente nas horas da refeição. Não existe nenhuma forma para distinguir claramente as duas situações, pelo que é fundamental ter em conta alguns aspectos.

Em primeiro lugar, é importante avaliar a idade da criança, porque quanto mais nova maior é a probabilidade de a dor de barriga ser “verdadeira”. Depois, convém averiguar se existem outros sintomas a acompanhar, porque podem dar-nos pistas sobre a causa e devem ser sempre valorizados. Por fim, mas não menos importante, não nos podemos esquecer de avaliar ou tentar perceber se há algum motivo de stress na origem das queixas, embora esse seja sempre um diagnóstico de exclusão (ou seja, só pode ser estabelecido se conseguirmos excluir todas as outras causas possíveis).

Depois desta avaliação, pode ser necessário realizar algum exame ou alterar a dieta da criança, mas essas são decisões a ponderar caso a caso, sempre sob supervisão médica.

Quando uma criança se queixa de dores de barriga, convém que os pais estejam atentos a alguns sinais de alerta, que devem implicar uma observação médica mais urgente.

Os mais importantes são:

• Dores que acordam a criança durante a noite;

• Quando a criança não defeca há alguns dias, nem liberta gases (este último é um aspecto muito importante);

• Sempre que existe palidez intensa ou mau estar geral da criança;

• Presença de sangue nas fezes;

• Associação a vómitos com agravamento  progressivo;

• Quando a criança localiza a dor num local afastado do umbigo (quanto mais afastada maior a probabilidade de haver uma causa a justificar a dor);

• Associação a febre alta e difícil de controlar;

• Associação a emagrecimento;

• Alternância entre prisão de ventre e diarreia;

• ​Dor muito localizada numa parte específica da barriga, que reage mal à medicação.


CONSULTÓRIO

Tenho um filho com 3 anos e temos 2 cães em casa. Precisa mesmo de tomar desparasitante? 

A utilização dos desparasitantes (ou, como são mais conhecidos, remédios para as lombrigas ou bichas) sofreu alterações nos últimos anos. Isto deve-se às recomendações de ​2006 da Organização Mundial de Saúde, que passaram a indicar que não se deve desparasitar as crianças por rotina, ao contrário do que era hábito até então. Os pressupostos têm a ver com os conhecimentos actuais, que indicam que o contacto com este tipo de microrganismos pode ser benéfico na prevenção de algumas doenças intestinais e alérgicas, pois parecem ter um efeito positivo na regulação do sistema imunitário do intestino.Para além disso, a taxa de infecção por parasitas é tão baixa e o tempo de replicação destes tão curto, que a utilização por rotina de desparasitantes não tem grande fundamento.

A prescrição fica reduzida a duas situações concretas, ou seja, quando a criança contactou (ou contacta) claramente com parasitas (por exemplo, se a família tiver um cão que, ao ser desparasitado, liberta lombrigas) ou quando a criança apresenta sintomas sugestivos de infecção por parasitas (dor de barriga recorrente, diarreia crónica, emagrecimento, …). Tirando estes dois casos, não há necessidade de dar este tipo de medicação às crianças.

O meu filho queixa-se de dor de barriga todos os dias e disseram-me que podia ser intolerância à lactose. O que posso fazer?

A intolerância à lactose é a dificuldade que as pessoas têm de fazer a digestão do açúcar presente no leite, que se chama lactose. Para fazer essa digestão, utilizamos uma enzima que se produz no nosso intestino e que se chama lactase, mas há algumas pessoas que não produzem essa enzima em quantidade suficiente. Assim, vão ser incapazes de digerir a lactose e vão ter os sintomas decorrentes dessa incapacidade: gases em excesso, barriga inchada, dor de barriga e/ou diarreia frequente.

Existe uma grande variabilidade nas manifestações, porque tudo depende do nível de enzima que a pessoa produz. Quem produz mais enzima vai tolerar a ingestão de uma quantidade maior de leite e derivados do que quem produz menos.

Numa suspeita de haver esta intolerância, a solução é só uma: reduzir a ingestão de lactose. A maior fonte desse açúcar é o leite, pelo que se deve trocar para um leite sem lactose (seja leite adaptado ou de vaca). Os outros produtos lácteos (iogurte e queijo, por exemplo) têm muito pouca lactose, porque são fermentados, pelo que geralmente não é necessário retirá-los da dieta, excepto se causarem mal-estar. Se com estas medidas simples a criança melhorar, fazemos o diagnóstico e deve-se manter a dieta sem lactose, pelo menos temporariamente.  ​


Ponha a sua questão ao pediatra: Tem dúvidas? receios? angústias? O d​r. Hugo Rodrigues responde. 
Escreva para pediatria@sauda.pt​.​

Artigo publicado originalmente na Revista Saúda 10.
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