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4 março 2018
Texto de Rita Leça Texto de Rita Leça Fotografia de Pedro Loureiro Fotografia de Pedro Loureiro

«Ansioso pela chegada da minha filha»

​​​​​​​​​​​​​​​​«Na televisão, ninguém consegue ser quem não é».

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Revista Saúda ​- Março é o mês do Pai e o Daniel está à espera do primeiro filho, uma menina. Já tem nome? Quando vai nascer?
Daniel Oliveira - Sim, a nossa filha! Já tem nome… Mas ainda não vou revelar (risos). Vai nascer no final da Primavera e estamos muito ansiosos. É um momento muito feliz esperarmos pela chegada dela, para saber como é. Queremos muito vê-la. É um ser que já é muito amado. A preocupação central, e sei que isto é um lugar-comum, é que nasça com saúde. Depois, a construção daquele ser humano como indivíduo é um processo sempre em desenvolvimento. O essencial é que seja saudável e feliz.

 
Como se imagina nesse papel? 
Há coisas que não conseguimos prever mas, no essencial, acho que tanto eu como a Andreia temos as ferramentas necessárias para aquele indivíduo se construir a si mesmo. O mais importante é o amor e isso temos muito para dar à nossa filha.

 

 

 
Sempre quis ter filhos?
Sim, embora nunca o tenha encarado como um passo na vida para colmatar outra coisa. Sempre foi no sentido de somar amor àquele que já existe. Sempre tive vontade de ter filhos, de educar alguém e deixar um legado neste mundo. Ter filhos e, depois, ter netos, acho que faz parte…

 
Não teve uma infância fácil. Os seus pais tiveram problemas com drogas e cresceu na casa dos seus avós maternos. De que forma é que acha que isso o vai influenciar na hora de ser pai? 
Todos nós somos o fruto das nossas circunstâncias e, portanto, o pai que serei é fruto do homem que sou hoje, com 37 anos. Sou a soma de tudo o que vivi. Tal como todas as pessoas têm a influência da educação, da adolescência, da vida adulta, da profissão, dos amigos… Eu não sou diferente.

 
Aos 20 anos, escreveu um livro sobre essa experiência. Porquê?
O livro tinha um propósito muito específico. Quando foi lançado, o tema era um tabu e pretendia ser, como foi, uma ajuda para a resolução do assunto.

 
Uma espécie de catarse?
Sim, para aquele miúdo de 20 anos foi útil. Dar o seu ponto de vista e ajudar outros na mesma situação. Não só num contexto pessoal. Acabei por ser a voz de uma geração que passou por aquilo. Na altura havia pais a escreverem sobre o assunto, mas não havia o ponto de vista do filho. Ainda hoje tenho a repercussão disso, pessoas a quem o livro ajudou a ultrapassar casos idênticos. Nem que seja para acreditar que, perante situações tão difíceis e dramáticas, pode
haver uma porta de saída feliz.

 
Com 13 anos conquistou o título de campeão nacional de xadrez. Como é que isso aconteceu?
O meu avô materno ensinou-me a jogar xadrez. Ganhei paixão desde cedo e fui participando em vários torneios. O xadrez tem três modalidades: há jogos lentos, semi-rápidos e rápidos. Foi nesta última, em que há cinco minutos para cada lado, que ganhei. Foi incrível! Se bem que o maior prazer era o convívio com os outros colegas, foi muito gratificante ter ganho.

 

 

 
Ainda joga? 
Sim, às vezes, com o meu avô ou com o computador. Não tanto como gostaria. O xadrez foi muito formativo para mim, até para outros contextos da vida.

 
Como por exemplo?
É um jogo que exige muita disciplina e a percepção da consequência dos nossos passos. Entre os jogadores profissionais, o que não é o meu caso, há quem consiga prever até 20 jogadas! Para mim, ajuda-me muito na preparação das entrevistas, por exemplo. Não só penso nas perguntas, como também nas possíveis respostas. Isso ajuda-me a planear a condução da conversa.

 
Prepara-se muito para as entrevistas?
Muito! Faço uma investigação exaustiva. Se o convidado escreveu algum livro ou biografia, vou ler. Faço pesquisas na Internet e nos arquivos da SIC para conhecer a pessoa, saber o que disse e o que não disse. E porquê. Depois tenho um arquivo em casa, que faço desde miúdo quando fazia recortes das revistas, para aprofundar a pesquisa. Preciso de me sentir seguro durante a entrevista.

 

 

 
Nota-se que gosta muito do que faz. Sempre quis ser jornalista?
Foi uma questão de sorte. Fiz um jornal em casa quando era adolescente, o «Penalty», e isso deu-me a possibilidade de vir à SIC entrevistar uma série de pessoas para o jornal. Tive a sorte de terem achado piada a um miúdo com esta atitude.

 
Mas essa iniciativa também não era comum num jovem de 16 anos…
Compreendo, mas sei que é preciso muita sorte. Sorte de, nos dias em que vim à SIC, estarem cá essas pessoas, terem aceite o meu pedido de entrevista, encontrá-las novamente. São muitos pontos onde é preciso sorte. Depois, obviamente, é importante saber o que fazer com essa sorte. E, se há mérito que tenho, é esse, de agarrar as oportunidades que me foram dando. Mas, sem sorte, nada tinha acontecido.

 
E agora, o que lhe falta fazer?
Não estou no presente a pensar que me pode levar a qualquer outro lado. Gosto muito do “Alta Definição”. Se o fizer para sempre, dou-me por satisfeito. Posso escolher os entrevistados, as pessoas gostam, enriquece-me do ponto de vista pessoal e humano o contacto com tantas pessoas e histórias diferentes, e tenho a oportunidade de estar
numa televisão generalista e comercial, onde o programa tem de ter relevância em termos de audiências. Tudo é um privilégio tão importante e tão raro que procuro cuidar deste bonsai com cuidado e carinho.

 

 

 
Já fez centenas de entrevistas. Consegue olhar para trás e eleger apenas uma?
Há uma que não vou esquecer nunca. Em Setembro de 2009, ao António Feio. No dia em que fizemos a entrevista, o actor Patrick Swayze tinha morrido de cancro do pâncreas. Na semana antes, a irmã do António tinha falecido com a mesma doença. E o António, apesar da sua condição de saúde, não cancelou a entrevista. Percebi que era o convidado quem tinha de conduzir a entrevista. Muitas das perguntas que levei não as fiz, porque foi o António que foi abrindo as portas do que queria falar. Isso foi determinante para o que viria a ser o “Alta Definição”. Em todos os programas que se seguiram, nestes nove anos, há um pouco do António Feio presente.

 
E, depois, há sempre a sua emblemática pergunta do que dizem os olhos. Como surgiu?
Nunca pensámos que a pergunta teria tanto impacto. Lembro-me de duas entrevistas, uma ao actor brasileiro Raul Cortez e outra ao Nicolau Breyner. Ambos disseram, mais ou menos, a mesma coisa: na televisão, ninguém consegue ser quem não é. Ou seja, o olhar da pessoa revela-a sempre. Foi a partir dessa premissa que quisemos que a pessoa deixasse uma espécie de assinatura no final da entrevista, que dissesse “Este sou eu”. Foi assim que a pergunta surgiu, ainda o programa era uma rubrica, e acho que resultou (risos).

 
E os seus, o que dizem?
Os meus olhos dizem que estou ansioso pela chegada da minha filha e que o melhor está para vir. Tenho sempre o olhar posto nas coisas boas da vida.

 
 

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