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4 fevereiro 2018
Texto de Maria João Veloso Texto de Maria João Veloso Fotografia de Pedro Loureiro Fotografia de Pedro Loureiro

«Ainda me apavora entrar no palco»

​​​​​​​​​A confissão da vocalista dos The Gift, antes dos Coliseus.

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​Revista Saúda - “Altar”, o novo disco dos The Gift, foi produzido por Brian Eno. Como surge a parceria?
Sónia Tavares - O Nuno (Gonçalves) e o Brian ficaram amigos num festival de favela, no Brasil. Mais tarde também me tornei amiga dele. Quando tínhamos o disco em mente, perguntei-lhe: «porque não produzes o disco?». Ele respondeu que nos iríamos divertir imenso. Passámos dois anos a fazê-lo e a experimentá--lo.
 
Ele esteve em Alcobaça. Como é ser anfitriã de Brian Eno?
Alcobaça é uma terra pequena, mas há um lugar que vale por mil, que é o mosteiro. Em adolescentes passávamos lá a vida. O Brian às tantas queria comprar uma casa virada para ele, apenas para o admirar diariamente. Só ao deparar-se com o Mosteiro de Alcobaça é que percebeu como é que uns miúdos de uma cidade pequena tinham ideias megalómanas para a vida artística. Ao longo do processo estivemos também no estúdio do Brian em Londres e numa terra próxima de Vigo, perto da fronteira.
 
E passearam por ali? 
Tínhamos o rio Minho, que faz fronteira com Portugal e foi cenário de inspiração para algumas das canções. A seguir ao almoço, fartos de estúdio, caminhávamos por um bosque selvagem, já em Espanha. Foi uma descoberta estar ali no meio da natureza sozinhos.
 
“Altar” porquê? 
Para celebrar a magnífica experiência da música e tudo o que aprendemos com este disco.

 
 
“Big Fish” é uma música que fica no ouvido. O seu filho já a canta?
Não. Sai aos pais, tem um lado melancólico, muito visível. Gosta de músicas mais negras. Não tanto de dançar a música fixe da mãe, mas sim cantar a música mais triste de The Gift.
 
Há 20 anos era uma miúda tímida. Como se dá o encontro com a banda?
Eles tinham uma banda de sótão e eu estava por ali. Partilhávamos o mesmo gosto musical.  Quando tudo nasce – o Nuno diz de repente que lhe apetece meter ali um teclado – eu estava lá. Às tantas, perguntaram «por que não cantas?» aos ensaios a vocalista da banda foi complicado. Depois, ganhei coragem e comecei a cantar.
 
O que ouviam na altura?
Ouvíamos muito britpop. De Morrissey aos Cure. Entretanto aparecem os Portishead, os Massive Attack e a Björk. E nós vimos algumas dessas bandas nascer. Foram a nossa maior influência.
 
Não havia música de mão beijada...
Não. Pedimos um empréstimo ao banco, que pagámos com a venda dos discos e do que ganhámos em concertos. Na altura, com 300 contos (1.5002) lançámos um disco. Estou a falar da demo que entregámos em mão às editoras e à imprensa.
 
É melancólica. Como disfarça a melancolia?
Com a energia que passo em palco e com a minha forma de estar, que não combina com o facto de ser uma pessoa tímida. Sou extrovertida para quebrar o gelo. Ainda me apavora entrar em palco. Depois penso: isto vai lá com uma dança, com um grito ou com uma explosão.

 
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​​​Tem milhares de quilómetros de estrada. O que resta da menina tímida de Alcobaça?
Tudo. Só a minha visão do mundo é que mudou. Já vi tanta coisa, mas continuo a ser a miúda de Alcobaça. Esta vida metropolitana é demais para mim. Há muita confusão e ruído. Sou uma rapariga calma. Gosto de estar em Alcobaça, passar os dias em casa. Levar o meu filho a pé à escola. O Fernando (marido e vocalista dos Moonspell) acha graça a que as minhas posições sejam as de uma pessoa que nasceu na província. Um café em Lisboa é uma necessidade. Eu, lá, saio de casa para ir ao café e é um acontecimento.
 
Não deve ser fácil gerir a carreira com uma criança a cargo. Como gerem?
Somos como o Batman: vai quando o chamam. Se temos concertos não os vamos adiar. Temos tido a sorte de quando não está um está o outro. Agora o Fernando vai dois meses para fora e eu também tenho concertos no estrangeiro. Vamos pedir aos nossos pais que fiquem com ele. As saudades são incontornáveis. Sofremos por antecipação. O Fausto tem saudades do pai, o pai tem saudades do Fausto. Eu tenho saudades do Fernando, ele imensas saudades de estar em casa. A ideia é trabalhar, não descurando o crescimento do Fausto.
 
Sendo a voz “a” ferramenta, que cuidados tem com ela?
Infelizmente fumo cada vez mais. Se antes era hipocondríaca, agora sinto-me como as velhinhas
que não querem ir ao médico, porque têm medo de descobrir algo de errado. Bebo pouco, porque não aprecio. Se bebo, nunca o faço antes de um dia de concerto. Tento repousar o mais possível, dormir é a única coisa que me cura a voz.
 
Um prato preferido e saudável?
Só como pão com manteiga. Isto faz-me analisar a minha vida. (risos) Talvez peixe cozido e boas sopas. É a única coisa saudável que consigo saborear. Não sou um grande garfo. Gosto de petiscar e tenho um colesterol terrível. 

 

 
 
O que a leva à farmácia?
Foi uma grande carreira que me passou ao lado, a de farmacêutica. Sou apaixonada por química e adoro saber tudo sobre comprimidos. Cheguei a ter um Prontuário Terapêutico. Gosto de saber até onde a Medicina avançou, se há cura para isto ou para aquilo. Uma farmácia é como uma loja de diamantes que olhamos, mas não vamos comprar nada. Estou a brincar. Vou à farmácia com frequência porque, enquanto doente com fibromialgia, tomo medicação diária.
Acontece também telefonar à farmacêutica para tirar dúvidas e discutir comprimidos.
 
O que é mais assustador, tocar em Londres ou nos coliseus?
São responsabilidades diferentes. Por um lado, é um desafio ir a Londres tocar numa sala como a Union Chapel, ter o Brian (Eno) a ver e a imprensa a assistir; por outro, cá em Portugal temos de nos reinventar para um público que já nos conhece e está habituado a ser surpreendido. São coisas diferentes, mas estarei mais nervosa nos coliseus.
 
Um dos sonhos que tinha, era ir ao Cairo, já o realizou?
Ainda não fui ao Cairo. Hoje o Egipto não tem grandes condições para turismo. Mas é um sonho. Não digo que vou descobrir múmias no Vale dos Reis, mas ao museu do Cairo terei que ir. Gostava também de conhecer as pirâmides de Gizé, porque o Egipto é “a paixão” de sempre. Dá-me a sensação que só me falta lá ir porque parece que conheço tudo e muito bem. É uma coisa que terá que acontecer.

 
 

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