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2 novembro 2018
Texto de Irina Fernandes Texto de Irina Fernandes

Açúcar não é amor

​​​​​​Os pais devem dar o exemplo e comer sopa, legumes e fruta.

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Desde que iniciou a alimentação sólida, Rodrigo, de um ano e dois meses, revelou-se um menino de boa boca. Adora fruta e legumes, mas torce o nariz à papaia e ao mamão. 

Come «dois ou três bocaditos» e, depois, começa logo a dizer «Nã, nã!», conta a mãe, Vera Antunes. 



Em muitas famílias, legumes e fruta no prato dão azo a cara feia, espernear e choro. A discórdia entre pais e filhos instala-se à mesa, chegando a arrastar-se por horas. A guerra pode durar anos. 

«Ultimamente, o Rodrigo também tem feito birra para comer a sopa. Só come se for misturada com o segundo prato», revela a mãe Saúda do Fundão. 

Se nos primeiros dois anos de vida da criança a alimentação saudável tem especial expressão no dia-a-dia das famílias, a entrada na creche, no infantário ou na escola provoca mudança de hábitos alimentares, com os lanches açucarados a ganhar lugar. 

«Por vezes os pais optam por alimentos processados e facilitam em relação aos legumes e frutas, exagerando nos doces e sumos, por exemplo. Tudo isso vai dificultar a criação de bons hábitos alimentares», adverte o pediatra Hugo Rodrigues. 



Dar continuidade à alimentação saudável após os dois primeiros anos de vida torna-se o grande desafio. «A melhor forma de o conseguir é fazer com que esses alimentos façam parte da rotina alimentar desde sempre. Se a criança os considerar normais, vai continuar a aceitá-los mais tarde», frisa o especialista. 

O comportamento dos pais à mesa deve, por isso, ser exemplar. Se os espinafres dão força e as cenouras fazem olhos bonitos, pai e mãe não devem colocá-los de lado no prato. «Os nossos filhos aprendem connosco. Se fizermos boas escolhas, a probabilidade de eles também as fazerem é muito maior». 

A neofobia alimentar – as crianças «estranham tudo o que tiver um aspecto diferente ou novo» e que pode manifestar-se «por volta dos 18-24 meses» – reforça a «importância de criar a rotina de comer alimentos saudáveis», alerta Hugo Rodrigues. 

Até à data, Ana Gonçalves diz não ter sentido dificuldades maiores já que Margarida, de um ano e quatro meses, tem-se revelado exemplar na hora de comer alimentos saudáveis. «Adora se lhe der uma pêra, uma maçã ou pedaço de melão! Tanto ela como o irmão foram habituados, desde cedo, a comer legumes variados e fruta», revela a mãe. 



O pediatra do hospital de Viana do Castelo lembra que os pais devem perceber que ensinar a comer não é «só variar sabores». «É também variar texturas, cores da comida e a forma como nos relacionamos com ela». A probabilidade de aceitarem melhor os alimentos saudáveis será maior. 

Criar pratos mais apelativos e divertidos é uma boa estratégia para os mais novos se habituarem a verduras e frutas. «Isso permite a criação de uma relação positiva entre a criança e a alimentação, o que é claramente uma mais-valia», frisa o pediatra. 

Um dos «maiores erros cometidos pelos pais» é a presença dos ecrãs à mesa. «A televisão, o telemóvel e o tablet impedem o treino visual e a socialização», explica Hugo Rodrigues. 

Não esquecer que açúcar não é – nem nunca será – amor. «É fácil fazer sorrir uma criança quando se lhe dá um doce, mas há muitas outras formas de o conseguir. Premiar com algo que não seja saudável é sempre uma má opção». 



Aos pais e avós, o Pediatra Saúda deixa um conselho sobre lanches saudáveis: «Podem dar um queijinho dos pequenos ou bolachas caseiras, que façam com eles e que contenham pouco açúcar. Outra opção pode ser fazer bonecos de fruta. As crianças têm de perceber claramente que a regra deve ser comer bem e a excepção é a asneira alimentar». Com ou sem caras amuadas à mesa.
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