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13 agosto 2024
Texto de Sandra Costa Texto de Sandra Costa Fotografia de Pedro Loureiro Fotografia de Pedro Loureiro

Acompanhamento farmacêutico na gestão da doença

​​​​​A renovação da terapêutica crónica nas farmácias reduz a necessidade de deslocação das pessoas aos cuidados de saúde primários e promove a adesão à terapêutica. A medida entrou em vigor em 2023 e estão em estudo desenvolvimentos para aumentar os benefícios deste serviço para os doentes crónicos e o SNS.​​

A renovação da terapêutica crónica nas farmácias apresenta vantagens de conveniência para os cidadãos, que deixam de ter de deslocar-se aos cuidados de saúde primários apenas para renovar as prescrições. Mas o grande benefício deste serviço é promover a continuidade das terapêuticas e o controlo das patologias graças ao acompanhamento mais próximo por parte do farmacêutico. Em última análise, este serviço reflete-se numa «diminuição de hospitalizações, de consultas não programadas e, até, de redução de morbilidade e mortalidade provocadas por falta de controlo das doenças», garante a presidente da Direção da ANF, Ema Paulino. 

A experiência noutros países, como o Canadá, Reino Unido, França ou Bélgica, provam que o impacto do envolvimento da rede de farmácias no serviço de renovação da terapêutica crónica é extremamente benéfico. Em Portugal, foi dado o primeiro passo e estão em estudo novos desenvolvimentos para tornar este serviço mais útil para os doentes crónicos e o SNS. 

A 25 de outubro de 2023, arrancou oficialmente em Portugal o serviço de renovação da terapêutica crónica envolvendo as farmácias. Os médicos passaram a poder prescrever a medicação até 12 meses, cabendo ao farmacêutico, ao longo desse período, dispensar o número de embalagens de medicamentos necessários para cada dois meses de tratamento. 

Foi permitido ao farmacêutico visualizar o histórico de prescrições e de dispensas do utente relativas ao último ano, de forma integrada, isto é, todas as prescrições emitidas no setor público, privado e social, e todos os medicamentos dispensados. A par, foi aberto um canal de comunicação para facilitar a partilha de informação entre os farmacêuticos e os médicos. 

O farmacêutico pode associar a cada linha de dispensa uma nota terapêutica para envio ao médico prescritor e ao médico de família, dando conta de eventuais problemas de efetividade do medicamento ou problemas de segurança, por exemplo uma reação adversa ao medicamento prescrito. Também é possível assinalar intervenções farmacêuticas efetuadas junto daquele utente, como medidas de promoção da adesão à terapêutica ou de ensino da utilização correta de dispositivos médicos. Por sua vez, quando o médico visualiza estas notas terapêuticas pode sinalizá-las como úteis, ou não, no contexto da sua reavaliação terapêutica. 

Ir mais longe na comunicação entre farmacêuticos e médicos

Este primeiro passo foi positivo, mas é possível ir mais longe na contribuição que os farmacêuticos podem dar ao serviço de renovação da terapêutica crónica, em benefício dos utentes e do próprio SNS. A Ordem dos Farmacêuticos criou um grupo de trabalho, onde participa a Associação Nacional das Farmácias, para mapear as propostas de evolução. Em breve, o resultado deste trabalho será apresentado ao Ministério da Saúde. 

Uma das propostas visa evoluir no canal de comunicação entre farmacêuticos e médicos, tornando o seu funcionamento mais proativo. Ou seja, passar da comunicação por linhas de dispensa para uma comunicação mais integrada sobre o utente. «Trata-se da possibilidade de registar no ficheiro clínico do utente quaisquer situações que tenhamos identificado ou intervenções feitas», explica a presidente da Direção da ANF. «E também permitir que o médico possa, além de assinalar a utilidade da nossa informação, transmitir informações úteis para o farmacêutico que acompanha aquela pessoa», acrescenta. 

Outra medida em cima da mesa é a possibilidade de o farmacêutico poder sinalizar as notas terapêuticas como urgentes, quando se justifique, gerando uma notificação para que o médico possa atuar. «Pode justificar-se quando há necessidade de alterar a terapêutica porque um determinado medicamento se encontra esgotado, ou quando o doente não está a reagir bem ao medicamento prescrito», nota Ema Paulino. 

Introduzir programas de acompanhamento farmacêutico

Outra evolução no serviço de renovação da terapêutica defendida pelos farmacêuticos passa pela introdução de programas de acompanhamento farmacêutico para determinadas patologias. O objetivo é promover a adesão à terapêutica. Ema Paulino exemplifica: «Sabemos que só 40% das pessoas diagnosticadas com hipertensão têm a situação controlada. Ora, o farmacêutico, que ao longo do ano está a renovar a terapêutica de um doente hipertenso, pode apoiá-lo de várias formas». 

Pode, por exemplo, fazer as medições da tensão arterial para monitorizar o controlo da doença e sensibilizar a pessoa para a toma da medicação, pode aconselhar no sentido da importância de aderir à terapêutica. E pode, também, sinalizar as pessoas que, mesmo tomando a medicação, não têm a situação controlada para irem mais atempadamente ao médico. Todas as intervenções farmacêuticas seriam integradas no registo único eletrónico do utente, permitindo ao médico usar esta informação na tomada de decisões ao nível da terapêutica.

«Estes programas de acompanhamento farmacêutico podem ser muito úteis em determinadas patologias», assegura Ema Paulino. A sua concretização, através de protocolos a estabelecer com o Ministério da Saúde, representa a entrada numa segunda fase da renovação da terapêutica crónica, com benefícios inegáveis para o utente e o sistema de saúde.​
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