A adesão da população ao Programa de Rastreio Oportunista de Helicobacter pylori (POHp) foi superior a 90%, o que torna esta experiência um caso de sucesso. Mais de 1000 habitantes da ilha Terceira aceitaram participar neste rastreio que permite a identificação precoce e tratamento de pessoas infetadas por esta bactéria, e que envolveu a participação das farmácias locais.
«O acompanhamento, feito de forma próxima pelo profissional da farmácia, juntamente com o encaminhamento dos casos positivos para consulta médica, foram fatores críticos no sucesso da iniciativa», garante Teresa Almeida, da Direção da Associação Nacional das farmácias, um dos parceiros do programa.
O POHp arrancou em março em 11 farmácias da ilha, 92% da rede de farmácias local, tendo a primeira fase terminado em julho. Durante cinco meses, a população com idade acima dos 18 anos foi oportunisticamente convidada a participar no rastreio e acompanhada no processo de recolha de amostras.
As pessoas eram incentivadas a realizar o rastreio pelo seu farmacêutico, que lhes explicava a importância do mesmo e como podiam participar. Quando os utentes concordavam, o farmacêutico entregava-lhes um kit para recolha da amostra, constituído pelo tubo de recolha da amostra, um folheto explicativo de como proceder à recolha e consentimentos informados, a serem assinados pelo utente e farmacêutico. No máximo após dois dias, o utente entregava a amostra na farmácia e esta era enviada para o Serviço Especializado de Epidemiologia e Biologia Molecular (SEEBMO), do Hospital de Santo Espírito da Ilha Terceira (HSEIT). O utente recebia depois a comunicação dos resultados e e, em caso de teste positivo, era agendada uma consulta médica para dar início ao processo de erradicação da Hp.
«As farmácias ajudaram a promover a literacia em saúde dos utentes quanto ao Helicobacter pylori (Hp) e à importância dos rastreios na prevenção de cancro», considera Teresa Almeida, lembrando que foram concebidos materiais de divulgação que apoiaram este esforço de informação e sensibilização.
De referir que o cancro gástrico é um dos cancros mais frequentes e mortais no mundo. Em 2020, era a sexta neoplasia mais frequente e a terceira causa de morte por cancro em Portugal, representando 7,7% das 30.000 mortes anuais por cancro. O fator de risco para cancro gástrico mais relevante é a infeção por Hp, estando a bactéria classificada como carcinogénico de tipo 1 pela OMS. Estima-se que a infeção por Hp esteja associada a 78% de todos os cancros gástricos e a cerca de 30% de todas as neoplasias associadas a infeções.
Apesar da sua importância enquanto fator de morbilidade e mortalidade, este tipo de cancro não tem sido considerado prioritário nas políticas de saúde pública implementadas nas últimas décadas. O Programa de Rastreio Oportunista de Helicobacter pylori (POHp) vem mostrar que é possível inverter esta situação com resultados muito positivos.