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9 dezembro 2019
Texto de Sónia Balasteiro Texto de Sónia Balasteiro Fotografia de Pedro Loureiro Fotografia de Pedro Loureiro

A nadadora mais livre

​​​​​​A poliomielite não conseguiu prender a perna à vice-campeã mundial de natação adaptada.

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Esguia, de rosto moreno e sorridente, Susana Veiga sente-se confiante nos seus 19 anos. Está habituada a ultrapassar dificuldades. Era bebé quando a vida lhe apresentou a primeira prova. Com pouco mais de um ano de idade, o vírus da poliomielite alojou-se no corpo provocando uma atrofia muscular que lhe prende a perna direita. "Prende", é como quem diz. Porque nada prende a jovem Susana. Sobretudo no meio aquático.

A mais veloz das atletas portuguesas a nadar em campeonatos paraolímpicos recebeu em Setembro a medalha de prata nos 50 metros livres do Campeonato do Mundo de Natação Adaptada, em Londres. Mal podia acreditar quando disseram o seu nome. Chorou de felicidade. «Ainda nem acredito bem», confidencia. «Estou um bocadinho em transe, muito orgulhosa de tudo o que consegui até agora».

Começou há um ano a praticar desporto adaptado mas a natação faz parte da sua vida desde que se conhece. O médico recomendou o desporto para contrariar a paralisia na perna direita.  Mal sabia ele que ali nascia uma campeã. 


A água é o seu meio natural. O médico recomendou praticar natação ainda bebé

Há pessoas que têm uma capacidade única de transformar as adversidades em experiências positivas.  Onde outros caem, eles levantam-se. E foi o que fez Susana.

Aos quatro anos, começou a competir com um grupo de amigos. E ganhou «o bichinho». Na água, sente-se normal.  A falta de gravidade ajuda  muito. Por isso, treina com jovens sem qualquer tipo de deficiência, do Clube de Natação do Colégio Vasco da Gama, em Meleças, Sintra.

A disciplina de uma campeã é intensa: nove treinos semanais de duas horas cada, dentro de água. E outros três de uma hora cada, fora de água.

Quando está a preparar-se para uma prova, o treino é mais intensivo. Trabalha provas específicas: os 100 metros livres, os 400. «São essas as provas que vou nadar se for aos Jogos [Paraolímpicos]». 


Treina no Colégio Vasco da Gama, em Sintra, com atletas sem deficiência

Mas como é que Susana tem uma perspectiva tão positiva sobre a sua deficiência? Não sabe responder. Apenas garante: «Eu tenho esta mentalidade: vou transformar a desvantagem numa vantagem. Acho que é isso que todos temos de fazer». Seja no que for.

Susana tem consciência de que a deficiência mudou a sua vida. Se não fosse por ela, não estaria a viver o momento fantástico que atravessa na natação adaptada. 

Mas nem sempre foi assim. Houve tempos em que não queria ser reconhecida pelo seu problema. Agora pensa: «Eu sou a Susana e tenho uma deficiência. E pronto… não me importo de ser conhecida assim». 


Susana exibe com orgulho a medalha que trouxe de Londres

Esta noção de quem é deu-lhe força. Susana começou a natação adaptada apenas na época passada, em 2018. Conseguiu logo ir ao Campeonato da Europa, onde recebeu uma medalha de prata nos 50 metros livres. «Foi muito giro, muito bom».

Não nega os momentos difíceis. Aconteceram sobretudo com as três operações que fez à perna. A primeira, aos seis anos, deveu-se a uma luxação na anca, que a obrigou a usar um fixador dentro da perna durante um ano. A segunda, aos 12, tinha como objectivo ganhar movimento no pé, mas não correu bem. Aos 14, fez uma extensão do fémur. 

Ultrapassou todas as dificuldades com a ajuda da família e dos amigos. Os mesmos que agora preparam vídeos-surpresa para lhe dar os parabéns pelo sucesso no Campeonato do Mundo. Que a abordam na rua para lhe mostrar o orgulho que sentem no seu desempenho. 


Susana sonha ser desportista profissional

Susana não se sente minimamente limitada pelo problema. Começou a andar com um ano e meio. «Faço uma vida completamente normal. Não corro. É a única coisa que não faço mas sinto que não preciso de correr no dia-a-dia, não é? A minha doença, graças a Deus, não tem qualquer tipo de interferência na minha rotina diária». 

Antes de tudo, Susana sente-se orgulhosa do que conseguiu. «Não vale mesmo a pena estarmos a pôr-nos como coitadinhos. A sociedade, infelizmente, já faz isso por nós. Temos de aceitar-nos como somos, independentemente de tudo».​

 

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