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14 setembro 2018
Texto de Maria João Veloso Texto de Maria João Veloso Fotografia de Pedro Loureiro Fotografia de Pedro Loureiro

A Farmácia-Escola

​​​​​​Farmacêuticos percorrem escolas e jardins de infância a fazer educação para a saúde.

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Farmácia Nogueira - Venda do Pinheiro

«Os piolhos voam ou nadam?». Esta questão saiu da boca de uma criança numa acção promovida pela Farmácia Nogueira, numa sala de aula na Escola Básica da Venda do Pinheiro. É à conta de perguntas insólitas como esta que a directora-técnica, Sofia Figueiredo, insiste em envolver-se de alma e coração com a comunidade escolar. «Muita gente ainda pensa que os piolhos são um problema das famílias carenciadas», lamenta a farmacêutica. Não desperdiça a oportunidade de fazer educação para a saúde, mas também cívica, explicando às crianças que não se devem envergonhar de ter piolhos.​

Ao longo do ano, múltiplas acções apresentam a farmácia à comunidade enquanto serviço de saúde e de bem-estar. Tradicionalmente, as crianças só relacionavam a farmácia com as suas próprias doenças. A directora-técnica não descansou enquanto não mudou essa percepção. Para o Dia da Mãe, desafiou as escolas a exporem na farmácia os trabalhos das crianças. As paredes do serviço de saúde encheram-se de desenhos e declarações de amor. Uma experiência nova para as crianças, mas também para a comunidade em geral. Até os professores ficaram surpreendidos. «É importante que eu veja a farmácia com outro olhar, porque quando voltar a falar dela aos meus alunos vou mostrá-la noutra perspectiva», conta Anabela Libério, professora do segundo ano do primeiro ciclo. Susana Rocha, educadora de infância, defende que até os adultos «só criando uma relação afectiva com os sítios é que vêem as coisas de maneira diferente, mais próxima». 

«A farmácia pode transmitir múltiplas informações e inclusivamente trabalhar a prevenção», insiste a directora-técnica. As crianças são a prova disso. Pedro Cachola, com a memória fresca dos seus seis anos, não esqueceu a lição que a equipa da farmácia deu recentemente na sua escola.

«Temos de pôr chapéu e óculos, e ficar à sombra», diz o rapaz, sem indecisões, ao colo da educadora. O aconselhamento sobre os cuidados a ter com a exposição ao sol é uma preocupação permanente, em especial nesta época do ano. Sempre que é vendido um protector solar, a equipa está treinada para fazer recomendações claras aos adultos, mas também directamente às crianças. «Só deves apanhar sol quando a tua sombra for maior que tu», dizem-lhes. E assim as crianças percebem que a praia apenas deverá ser frequentada quando o sol já desceu e a sombra é maior.


«Temos de pôr chapéu e óculos, e ficar à sombra», diz Pedro, ao colo da educadora Susana

A comunidade escolar e a farmácia uniram-se na educação ambiental, fomentando hábitos de reciclagem nas famílias. A curiosidade das crianças é um trunfo precioso. A educadora fala-nos de «uma caixinha que existe na escola exactamente com este propósito». Os alunos recolhem resíduos e embalagens de medicamentos vazias junto das famílias, sob a orientação dos professores de Ciências Naturais. A  farmácia recebe-os depois, acompanhados dos professores, para uma aula prática. Nessa visita, o produto da recolha feita na escola é depositado em contentores VALORMED. Célia Mota, coordenadora do Projecto de Educação para a Saúde, lembra que no ano passado recolheu 100 kg de embalagens vazias. As crianças fazem perguntas sobre a “viagem” que os resíduos dos medicamentos fazem a partir dali. «É importante explicar às crianças que a embalagem é reciclada e o resto do medicamento incinerado», refere Célia Mota. A professora de Ciências Naturais do sétimo, oitavo e nono anos considera que «acções deste género mudam mentalidades e sensibilizam os pais». 

A sinergia escola/farmácia funciona às mil maravilhas. Sofia Figueiredo congratula-se com a «boa adesão por parte dos professores». Estes sentem que os farmacêuticos oferecem à escola uma nova via de captar a atenção e conquistar as crianças. Célia Mota valoriza «o facto de haver uma pessoa de bata branca a veicular ideias, em vez de ser o professor que os está a avaliar». Também a farmacêutica Ilda Cardoso sublinha a importância de o público infantil «perceber, de uma vez por todas, que por trás de uma bata branca está um amigo».


Com três anos, Rita não se fez rogada quando a palhaça Sissi a convidou para brincar​

Professores e farmacêuticos vão explorando em conjunto oportunidades de formação, até dos temas mais sensíveis. A Farmácia Nogueira já foi à escola fazer uma sessão de esclarecimento sobre contracepção e educação sexual para as turmas do oitavo ano, com grande adesão por parte dos alunos. «Claro que fizeram umas graças, mas também muitas perguntas pertinentes», conta a farmacêutica. A farmácia dispõe de um balcão reservado para os adolescentes esclarecerem os temas mais delicados. Quando é necessário, são atendidos num gabinete privado.

Com o trabalho desenvolvido, a equipa da farmácia tornou-se muito acarinhada pela comunidade escolar, em especial as crianças e os adolescentes. «Consideram-nos amigos e confidentes, querem-nos bem e vêm dar-nos abracinhos. Fico contente. Deve ser por isso que escolhi Farmácia», confessa a farmacêutica Ilda Cardoso, há 27 anos ao serviço da comunidade da Venda do Pinheiro.


Há 27 anos, Ilda Nogueira trocou Lisboa pela Venda do Pinheiro. Tornou-se confidente de muitos utentes​


A brincar é que a gente se entende

Na Farmácia Nogueira, que trabalha com a comunidade escolar todo o ano, um só Dia da Criança era demasiado curto. Por isso, o que existe é “A Semana do Brincar”. Ao longo da primeira semana de Junho, o pátio das traseiras transformou-se num recreio. A criançada experimentou jogos tradicionais, como o da malha, e de concentração. Todos dançaram ao som de músicas infantis. Um momento alto foi a actuação da trupe de palhaços Didi Animações. Do alto das suas andas, o animador sociocultural Diogo Guerreiro, alter ego do palhaço Didi, elogia «a dinâmica que a farmácia está a desenvolver e que pode mudar mentalidades».


Diogo Guerreiro, alter ego do palhaço Didi, elogia «a dinâmica que a farmácia está a desenvolver»


 

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