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18 novembro 2015
Texto de Nuno Esteves Texto de Nuno Esteves Fotografia de Rui Manuel Ferreira Fotografia de Rui Manuel Ferreira

Douro

​Conhecedor da região, José Barata apresenta um território de gente franca e generosa, que vive em comunhão com a terra e a natureza.​

«A gente entra, e já está no Reino Maravilhoso», escreveu Adolfo da Rocha. No Miradouro de S. Leonardo de Galafura, na Régua – um dos seus lugares preferidos – sentimos o que é a paz de espírito. Talvez tenha sido aqui que ficou impressionado com o caule firme da planta brava que acolheu como pseudónimo. Em 1977, foi nesta varanda de vista larga para o rio que Miguel Torga escreveu sobre o «Doiro sublimado», de «beleza absoluta», como agora se lê numa placa de pedra, gravada com um extracto do Diário XII.

José Barata, o farmacêutico que convida, só quis levar-nos ao miradouro no final da tarde, para ver o sol desaparecer do espelho de água do rio. «Setembro e Outubro é a melhor altura para visitar a região», garante o nosso cicerone. «A luz varia muito durante o dia, permitindo observações diferentes, mas sempre maravilhosas», descreve, como quem partilha um segredo. Mesmo que já conheça a região, vai surpreender-se com as escolhas do director técnico da Farmácia Douro, em Santa Marta de Penaguião. Não poderia encontrar melhor guia.

O rio até atordoa, pelo declive das margens e as curvas apertadas que se sucedem. Cravado nas montanhas, é o terceiro maior da Península Ibérica. Nas encostas a pique que marcam a paisagem encontramos as uvas mais preciosas nas vinhas em socalco, entre o xisto omnipresente. O petróleo desta terra é o Vinho do Porto, um dos melhores do mundo, produzido nas quintas da região. 



Por mais barragens e auto-estradas, este continua a ser um meio rural, que entra em rebuliço na época das vindimas, e de rituais, como as romarias. Território de gente franca e generosa, que vive em comunhão com a terra e a natureza – assim é o Douro.

Os passeios de barco estão na moda, mas com José Barata embarcamos vestidos de alta-costura. O fato tem dez metros de comprimento e 14 de mastro. Falamos do veleiro da empresa Douro à Vela, que levanta âncora do Cais da Folgosa. Com lotação para 12, sobe e desce o rio indomável, mas em ambiente íntimo. O fato é à medida do sonho de cada um. Para estar a dois, pernoitando a bordo, ou com amigos. Aluga-se por uma hora ou por um fim-de-semana. De Miranda ao Araínho, como na canção de Rui Veloso e Carlos Tê, navegam as nossas emoções, serpenteando  entre vinhas. Não pode haver relação mais intensa com o rio, nem melhor miradouro no Vale do Douro.



A escolha gastronómica de José Barata bate certo com o Guia Michelin de 2014. O Castas & Pratos (ou CP) dá cinco fabulosos aproveitamentos a antigos armazéns da estação de comboios de Peso da Régua: restaurante, wine barlounge, gourmet  e wine shop. O chef aconselh​​a o bacalhau em crosta de amêndoa de Vila Flor e presunto de Lamego, sobre brandade de bacalhau e camarão. Delicioso. Ainda mais gulosa é a carta de vinhos. Com mais de 700 escolhas, seria a lista telefónica do Deus Dionísio. Não espanta a colecção de prémios e elogios da imprensa especializada, da Revista de Vinhos à Wine Passion.

Em Armamar, José Barata recomenda a Casa da Farmácia. Ideia de uma família de farmacêuticos, bem merece o nome que tem, como assinala o almofariz antigo de mármore à entrada, paredes meias com a farmácia que vende medicamentos. Neste turismo de habitação, cada uma das dez requintadas suites é dedicada a uma planta com propriedades medicinais e decorada em função disso. O hóspede fica a saber, por exemplo, que o alecrim é usado como estimulante, melhora a circulação sanguínea e combate o reumatismo. Genuína é a simpatia e hospitalidade que sentimos assim que franqueamos a Casa da Farmácia, que se apresenta como «O melhor remédio para o seu descanso». 
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