Política de utilização de Cookies em Revista Saúda Este website utiliza cookies que asseguram funcionalidades para uma melhor navegação.
Ao continuar a navegar, está a concordar com a utilização de cookies e com os novos termos e condições de privacidade.
Aceitar
2 janeiro 2025
Texto de Jaime Pina | Médico pneumologista e imunoalergologista, Fundação Portuguesa do Pulmão Texto de Jaime Pina | Médico pneumologista e imunoalergologista, Fundação Portuguesa do Pulmão

Vacinar em todas as fases da vida

​​​​​​​​​O Programa Nacional de Vacinação, universal e gratuito, deve abranger todos os grupos de risco e as pessoas com mais de 60 anos.​

Tags

O ano de 1965 é um marco histórico para a medicina portuguesa: foi criado o Programa Nacional de Vacinação (PNV), universal e gratuito, focado nas crianças, com o objetivo de reduzir a mortalidade infantil, elevada quando comparada com a de outros países europeus. Nesse programa, sucessivamente atualizado, foram sendo imunizadas as nossas crianças contra as mais temíveis doenças infecciosas: poliomielite, difteria, tétano, tosse convulsa, meningite e tuberculose, entre outras.

O sucesso do PNV revelou uma acentuada diminuição da morbilidade e da mortalidade infantil e a adesão dos pais a esta forma de medicina preventiva, tornou-o uma referência internacional, um exemplo a seguir.

Porém, nos últimos 60 anos, a medicina sofreu uma verdadeira revolução. Novos conhecimentos e tecnologias permitiram à indústria farmacêutica criar vacinas para novas realidades, quer infecciosas (não esquecer que, entretanto, aconteceram quatro pandemias), quer demográficas. Ambas determinaram a necessidade de vacinar novos grupos de pessoas; um deles é o das pessoas com idade superior a 60 anos.

O conceito é simples: nessas pessoas, cada vez em maior número, os diversos tipos de imunidade enfraquecem – com um particular realce para a imunidade anti-infecciosa – tornando as infeções mais frequentes, mais graves e mais mortíferas.

Estamos a falar de infeções provocadas tanto por bactérias como por pneumococos, a principal bactéria causadora de pneumonias, ou vírus, como os da gripe, da COVID-19 e o vírus sincicial respiratório, microrganismos responsáveis por importante morbilidade e mortalidade entre os mais velhos. É contra elas que os nossos idosos devem ser protegidos, e a melhor forma de o fazer é através da vacinação.

As vacinas contra a gripe e a COVID-19 já estão incluídas no Programa Nacional de Vacinação, são administradas gratuitamente nos centros de saúde e, mais recentemente, também, na rede nacional de farmácias, entre os 50 e os 84 anos. O que falta? Falta, sobretudo, a inclusão gratuita das outras duas vacinas respiratórias: as vacinas antipneumocócica e contra o vírus sincicial respiratório.

A um nível diferente, por proteger contra uma doença de menor gravidade, realça-se a vacina contra o vírus varicela-zóster, responsável por uma doença muito incomodativa – a zona – e recomendada para pessoas com mais de 60 anos.

A maioria dos idosos não tem disponibilidade financeira para adquirir estas vacinas, significativamente caras. Por isso, não as fazem. A sua inclusão gratuita no PNV, para a população acima dos 60 anos, não só lhes traria mais saúde, como permitiria significativos ganhos em saúde.
​​​​
O facto de se propor a gratuitidade não deve ser encarado como um custo, mas como um investimento. Como diversos estudos de farmacoeconomia têm demonstrado, cada dólar gasto em vacinas gera um retorno de sete a 11.

Com o programa de vacinação já aplicado às nossas crianças, que até aos dez anos são imunizadas contra 14 diferentes microrganismos; com a vacinação das grávidas, que já são vacinadas contra o tétano, a difteria e a tosse convulsa em cada gravidez; e com a vacinação dos adultos contra o tétano e a difteria, a inclusão destas vacinas tornaria o programa vacinal mais coerente, mais adaptado à nova realidade demográfica e mais eficaz.
Notícias relacionadas