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22 maio 2017
Texto de Maria Jorge Costa Texto de Maria Jorge Costa Fotografia de Pedro Loureiro Fotografia de Pedro Loureiro

«Tenho 64 anos, mas sinto-me com 40 e tal»

​José Eduardo Moniz anuncia que vai fazer muitas coisas.​

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​Revista Farmácia Portuguesa (RFP): José Eduardo Moniz é o açoriano que agarrou Portugal à televisão.
José Eduardo Moniz (JEM): Para mim é um privilégio poder ser encarado dessa forma. Os portugueses têm uma grande paixão por televisão e futebol. Conseguir que milhões de pessoas se prendam a um ecrã é um desafio tremendo, que implica muito trabalho e criatividade. Quando era miúdo sonhava muito para além dos limites geográficos da ilha. E o que estava para além do horizonte era o que me motivava: o continente e os Estados Unidos, como à maioria dos açorianos. Havia outra coisa que me atraía muito, que era o jornalismo. Sempre quis ser jornalista.

 
RFP: Desde «sempre», foi a partir de que idade?
JEM: Desde os 13 ou 14 anos. Vivi deslumbrado com a televisão e com o que ela significava de abertura ao mundo, de facilidade de nos pôr em contacto com o mundo, de nos pôr à mão de semear tudo o que era atraente. Representando a televisão esse factor de atracção tão grande, entrar para o mundo da televisão, para mim, significava mergulhar no desconhecido que valia a pena. E quando surgiu a oportunidade, agarrei-a.

 
RFP: Como surgiu a oportunidade?
JEM: Em 1977, fui convidado para ir para a RTP como chefe adjunto do Departamento de Actualidades. Tive a sorte, ou a falta dela, de o director nunca ter aparecido. Portanto, eu tive de assumir aquilo, sem saber nada de televisão. O que é certo é que me fui «desenrascando». Era jornalista no Diário Popular.

 
RFP: Não dominava o jornalismo de televisão.
JEM: Não. Vejo a relação com a televisão como a relação entre um homem e uma mulher, é um jogo de sedução. E a relação com o espectador é a mesma coisa. Isto é, temos de perceber a cabeça do espectador antes de lhe dar seja o que for. E quem não tiver esse tipo de raciocínio não vai a lado nenhum, porque programar não é uma ciência exacta. Temos tanta gente a ver televisão – e gente tão diferente, que precisamos de encontrar denominadores comuns. Temos de transportar tudo o que aprendemos na vida, na literatura, no teatro, no cinema. E temos de encontrar as fórmulas para que o espectador se alie a nós. Tem de ser um aliado nosso, mesmo quando não gosta de nós.  Tem  de  considerar  que  somos imprescindíveis. Por isso, quando faz a afirmação inicial [o açoriano que agarrou Portugal à televisão] tenho de dizer que sinto um enorme orgulho nisso.

 
 

 
​RFP: Mas sente que é verdade…
JEM: Sinto orgulho pela carreira que fiz e tenho feito em televisão – e mais ainda por vir de uma ilha onde não tinha televisão. Só vi televisão a partir dos 17 ou 18 anos, aqui no continente. Acho que isso me aproximou muito na compreensão da relação do espectador com este meio.

 
RFP: Temos de descobrir o que o espectador quer antes de lhe dar um programa. Até parece que é um exercício fácil.
JEM: Isto tem muito de experimentalismo, obviamente. Mas tem muito de análise do que é a natureza humana e de compreensão das nossas preferências, inclinações, formações. É evidente que você gosta de umas coisas que eu sei que a minha secretária não gosta, ou que o senhor que está no portão não gosta. Como montar um modelo que sirva a todos? No desenho de um telejornal, de uma novela, de uma série ou de qualquer outro programa, temos de introduzir componentes que façam com que toda esta gente “fale” uma com a outra. Não há fórmulas únicas, mágicas. Em muitos casos vamos por tentativa e erro. O que importa é acertar mais do que se erra.

 
RFP: Conseguiu isso na RTP?
JEM: Nos anos 90, na RTP, tivemos uma programação que chegou a ser considerada em alguns fóruns europeus, como a Eurovisão, uma das melhores da Europa. Tínhamos um jornalismo que tinha feito uma evolução enorme, trouxemos grandes séries, grande cinema e produzimos muita coisa nossa. Foi uma abertura da própria RTP ao mundo, alinhada por padrões europeus.

 
RFP: E na TVI?
JEM: O que fiz na TVI foi acreditar que era possível fazer as pessoas perceberem que nada nasce sem começar pequeno. A lógica de relação com o espectador é que é predominante. Tentámos mostrar que há vários caminhos possíveis no consumo de produto televisivo. Temos de agregar componentes dentro dos programas que falem bem com cada um dos estratos da sociedade.

 

 
 

 
RFP: Nos últimos 20 anos marcou a TV, seja na ficção, entretenimento ou na informação. Sente o peso da responsabilidade na «educação» da população? Os argumentos das novelas trazem temas de actualidade, a informação mudou e o entretenimento sofreu o boom do Big Brother…
JEM: Vamos lá por partes. É evidente que nenhum programador se pode dissociar da realidade em que funciona. Se me pergunta se antes de lançar o Big Brother eu tinha a noção do efeito que ia ter, a resposta é não. Sabia que ia ter um impacto forte, não sabia que ia provocar o dilúvio que acabou por acontecer. Também não sabia que íamos assistir dentro de uma casa a cenas nunca vistas em televisão. O que é certo é que, apesar de o BB ser o que era, apesar da grande controvérsia que gerou, conseguimos manter o programa dentro de alguns padrões básicos fundamentais. Devo referir que o Big Brother era, porventura, o produto mais transversal que existia, porque era visto da classe A à classe E. E toda a gente via, discutia. Mesmo quem dizia que não via. São coisas que me dão prazer quando olho retrospectivamente: fomos capazes de trazer coisas que ninguém tinha visto. Conseguimos fazer o país alinhar por práticas que existiam lá fora. Dir-se-á: o Big Brother não é um grande exemplo do que o país precisava. Dir-lhe-ei que é um programa de TV, de entretenimento. Nós não vamos substituir em nenhum momento a escola, a universidade ou as famílias na educação das crianças e dos jovens. A televisão pode ter um papel, mas não o fundamental.

 
RFP: E na informação da TVI, que papel foi esse?
JEM: O que fizemos na informação foi fazer um jornalismo de proximidade, susceptível de combater a informação institucional da RTP e da SIC, porque a partir do momento em que se tornou líder, a SIC ficou institucional. Nós entrámos pelo meio dos dois   e fomos muito revolucionários, porque éramos muito aguerridos, o que é diferente de agressivos. Tínhamos o atrevimento de fazer perguntas, de não virar as costas quando havia necessidade de questionar fosse quem fosse: um ministro, um secretário de Estado, um Presidente da República, um administrador de empresas. Fosse quem fosse. Éramos incómodos e essa percepção por parte da opinião pública foi boa e «remunerou-nos», no sentido de nos reconhecer o mérito. Outra coisa que fizemos foi avançar na produção nacional de ficção. E correu muito bem.

 
RFP: A recusa da Globo empurrou-vos?
JEM: Isso tem uma história. Eu quis que a TV Globo nos vendesse produto. A TV Globo não quis, porque tinha um contrato único com a SIC que não quis romper. Eu próprio disse aos meus amigos da Globo que iríamos seguir o nosso próprio caminho e se calhar um dia poderiam ter algum desgosto por terem decidido não alinhar connosco. A verdade é que as coisas nos correram muito bem. E porquê? Porque passámos a fazer produção que não existia em português de Portugal e porque passámos a trazer para dentro da televisão, também na ficção, temas da actualidade portuguesa. Esta forma de actuar tem muito a ver com a percepção de que a TVI, uma estação pequenina, para crescer tinha de ser atrevida, trazer modernidade.

 
RFP: Está a dizer que criou uma frente com informação, entretenimento e ficção. Recuperando a imagem da sedução, de que falou, sente que com o BB se dá o primeiro coup de foudre entre a população e a TVI?
JEM: Sim, dá-se aí. Eu sou um defensor de causas impossíveis. Sempre disse que as tarefas mais engraçadas e que nos motivam são aquelas que aparentemente não têm solução. Quando fui para a TVI, os meus amigos diziam que me ia meter num buraco, porque não tinha hipótese nenhuma. E eu achei graça, porque era uma missão impossível. Em televisão nada é impossível. Quando juntamos a criatividade à determinação, desde que tenhamos algum dinheiro, temos de nos reinventar para encontrar soluções.     É um combate connosco mesmos – não é preciso ter muito dinheiro, até porque quando há muito a tendência é para não sermos criativos. O tal coup de foudre foi dado aí, mas faço questão de frisar que o crescimento da TVI não se deveu apenas ao Big Brother. Foi uma das peças. Falei num tripé, porque tinha a noção de que sem uma das três coisas não avançávamos. Se fosse só o BB teríamos crescido 10 pontos. A verdade é que crescemos 20 e tal pontos, porque tudo estava agregado. Sente-se na minha conversa que eu tenho paixão por televisão e jornalismo e que gosto daquilo que faço. E quando gostamos do que fazemos, removemos caminho. Eu nunca imaginaria, aos meus 14 anos, vindo de uma ilha no meio do Atlântico, poder ter com os espectadores portugueses a relação que tenho hoje. E a verdade é que isso me dá um imenso prazer.

 
RFP: É abordado na rua? Reage bem?
JEM: Sim, as pessoas ainda hoje vêm falar muitas vezes comigo, como se eu ainda fosse o director da TVI. Explico que já não sou. Acho graça a isso. Há uma era na televisão em Portugal com a qual eu sou associado e tenho muito orgulho.

 
RFP: Diz que é jornalista.
JEM: Sou basicamente jornalista.

 

 

 
RFP: Hoje, o que gosta mais? Da informação ou da programação?
JEM: Quem é intrinsecamente jornalista, prefere sempre ser jornalista. Mas acho que o jornalismo me ajudou imenso na programação. Esse talvez seja o grande segredo: eu vi sempre a programação pelo prisma da informação. A aprendizagem que fiz, a capacidade que o jornalismo nos dá para compreender os fenómenos da política, sociais, toda a panóplia de situações com as quais somos confrontados sempre que vamos fazer uma reportagem ou analisar a realidade, tudo isso me apetrechou com as armas necessárias para perceber o que poderia ou não funcionar. A minha abordagem da realidade, mesmo na montagem de uma grelha de programação, tinha a ver com uma forma de olhar a realidade. Eu quero falar com as pessoas, quero transmitir uma informação, quero que elas percebam que este programa tem este objectivo determinado, mesmo que não o expresse.

 
 


 
RFP: Com esse bichinho do jornalismo, não sente a tentação de ir à redacção?
JEM: Sinto, mas contenho-me para não ir. Hoje em dia já não faço isso porque me contenho, não é a minha função, há pessoas responsáveis por isso. As áreas estão bem determinadas e a minha função hoje em dia é outra. Agora, é evidente que sigo os telejornais todos, que reflicto sobre o que é feito e sobre o que poderia ser feito, o que foi bem e o que foi mal feito. Tenho ideias sobre coisas novas, que possam vir a fazer mudança.

 
RFP: Partilha essas ideias?
JEM: Ah, sim. Partilho com quem é responsável lá dentro. Eu não guardo as ideias, partilho porque acho que é assim que se avança. As pessoas quando se reúnem comigo dizem que estou sempre a pôr muitas ideias em cima da mesa. Costumo dizer que mais vale ter ideias do que não ter nenhumas, mesmo que das ideias que vêm para a mesa só se aproveite uma ou duas. Só assim se consegue trazer inovação para o mercado.

 
RFP: A TVI é líder há muito tempo. Corre risco de se institucionalizar? 
JEM: Uma das tarefas que eu acho que faz parte das minhas funções actuais é fazer alertas relativamente a essas situações aos responsáveis da empresa – e é o que vou fazendo. Trago ideias, comento isto ou aquilo e vou deixando sugestões de coisas que podiam ser feitas, ou não. A decisão já não me compete a mim. No dia em que a TVI se tornar institucional, de forma permanente e convicta, alguma coisa estará mal na empresa. Um jornalista, por natureza, tem de manter o espírito irrequieto e curioso. A curiosidade é uma arma para nós. Costumo dizer a quem trabalha comigo – a quem escreve novelas, por exemplo: «Não vamos terminar esta cena com uma coisa óbvia. Vamos arranjar algo que ninguém esteja à espera». Daí tentarmos colocar dentro de cada capítulo da novela cinco ou seis situações que são ganchos. Não apenas no final. Temos vários desfechos e pontos de interrogação dentro do mesmo episódio, para mantermos em alta a curiosidade do espectador. Estas coisas têm sido conseguidas. Isto é como a vida, temos de nos manter curiosos para aprendermos, para progredirmos, para descobrirmos coisas novas. E eu, apesar de ter 64 anos, não me sinto com essa idade. Sinto-me com quarenta e tal e quero ainda fazer muita coisa na vida.

 

 

 
RFP: Como vê a informação nas televisões generalistas?
JEM: A informação está muito padronizada. Há menos diferenças do que existiam no tempo em que eu era director da empresa. São opções que as televisões fazem. Em muitas circunstâncias por orientação própria, outras vezes por comodismo, outras ainda por receio de retaliações de natureza financeira ou de outro tipo. Como se sabe, o mercado publicitário em Portugal é muito complexo   e está muito difícil. A vida das televisões é muito, muito dura. Quando chegamos à conclusão de que o serviço público, só com os apoios do Estado e com a pequeníssima fatia que tem de publicidade, factura tanto como os outros dois canais juntos, percebemos a distorção brutal do mercado. Isso interessa a quem está no poder, a quem quer conservar influência sobre a informação que chega ao espectador.

 
RFP: Está a dizer-me que as televisões estão condicionadas pelo poder político?
JEM: As empresas estão muito estranguladas do ponto de vista financeiro e não podem ousar em demasia. Primeiro, porque não têm recursos técnicos e humanos. Hoje as redacções estão cheias de jovens estagiários, que não têm ainda experiência suficiente para fazerem a diferença no produto que se apresenta ao espectador-consumidor. Há um conjunto de circunstâncias que fazem com que as estações de televisão tenham caminhado para produtos que não são muito diferenciados entre si. Quando estudamos os telejornais e picamos (mudamos) de uns para os outros, o alinhamento é basicamente igual. Não há a diferenciação que se procurou noutras alturas. Vejo que as televisões estão a procurar seguir outras formas. Vão mais por grandes reportagens do que antigamente. E vão por modelos que são parainformação. Não são bem informação, são documentários – que também não o são verdadeiramente, porque não há dinheiro para fazer documentários. São reportagens com pretensão a algo mais. Parece-me insuficiente, do ponto de vista jornalístico. Sobretudo porque o que tem sido mais afectado é a investigação jornalística, mas não é apenas nas televisões. Acho que se nota a falta de investigação no conjunto da informação em Portugal. Os jornais cada vez investigam menos, nas revistas vê-se muitos “dossiês” e pouca investigação. Aquilo que muitas vezes se designa por “investigação” é apenas a análise de documentação que já existe, não é propriamente investigação. Aí pode fazer-se muito mais.

 
 

 
​RFP: O infotainment parece ter tomado conta dos telejornais. Mistura-se informação com promoção a programas, artistas, traz-se cantores para fechar os principais blocos informativos… Está demonstrado que esta forma de fazer informação dá mais audiência?
JEM: Todos sabemos que o que acontece na minha rua é mais importante do que aquilo que acontece na Índia com as inundações do Ganges.  É natural que nos concentremos muito mais no que acontece em Portugal. Noutros países passa-se o mesmo. Há países mais desenvolvidos, mais importantes na definição do poder internacional, que obrigam a maior cobertura internacional. Mas também têm recursos muito mais amplos do que nós. Eu não vou atirar pedras a ninguém, porque eu também terei alguns telhados de vidro em alguns aspectos que referiu. Hoje os telejornais são todos muito longos. Quem introduziu essa moda fui eu, em 2006 ou 2007, quando surgiu a crise. Estávamos a fazer jornais de 30, 45, 50 minutos e, de um momento para o outro, saltámos para uma hora e meia. Chegámos a ter uma hora e três quartos de telejornal.

 
RFP: Porquê?
JEM: Foi uma forma de poupar dinheiro e ajustar o orçamento da empresa a uma realidade diferente. Quando desapareceu muito dinheiro do mercado da publicidade, tivemos de encontrar soluções. Para mim, o raciocínio foi óbvio: custa-me a mesma coisa fazer um telejornal de 50 minutos ou de hora e meia, porque já tenho os profissionais, as máquinas, o estúdio. Tinha de conseguir poupar 30, 40 mil euros por dia, o que no final do ano é muito dinheiro e permitia equilibrar as contas da empresa. Isso alargou   o âmbito dos nossos critérios jornalísticos. Teve de alargar, porque tínhamos de encher mais. Passámos a introduzir nos telejornais matérias que teoricamente não tinham dignidade para isso. A verdade é que as coisas foram ficando e progressivamente evoluindo na direcção do que se vê hoje.

 
RFP: Dez anos depois, ainda faz sentido?
JEM: Acho que talvez não, porque o que eu podia fazer em 2006/2007 não é o mesmo que se pode fazer em 2017/2018. Nessa época, eu não tinha a concorrência que tenho hoje do digital, de todas as plataformas que me fornecem notícias de todo o lado, a toda a hora. Já partilhei este raciocínio com pessoas responsáveis, estou à vontade para dizer isto, não estou a cometer nenhuma inconfidência. Quando nos apercebemos que às oito da noite já sabemos tudo, o que pode um telejornal dar de novo? Este é o grande problema. O que temos de fazer para mudar o paradigma da informação que tradicionalmente é fornecida ao espectador? O telejornal continua, apesar de tudo, a ser uma religião às oito da noite. Será que o telejornal daqui a dois, três anos, vai ser igual? Tenho dúvidas. Não estou com isto a criticar ninguém. O que digo é que temos uma realidade objectiva, temos acesso a fontes de informação que estão ligadas a nós em permanência. A informação das rádios e das televisões tem de se adaptar. É um desafio brutal, mas de uma dimensão interessantíssima. Vai obrigar-nos a pensar e a encontrar fórmulas diferentes.

 

 

 
RFP: Tem de mudar o paradigma.
JEM: Sim. Provavelmente, não vai prevalecer aquela atitude de apresentador que debita as notícias e passou ao lado. Vai ter de ser diferente.

 
RFP: Diferente como?
JEM:  Isso dava para conversarmos muitas horas. Vão ter de ser dados passos significativos para uma mudança muito radical, sobretudo no que diz respeito à televisão generalista. Estes canais estão sob pressão enorme, porque o mundo está em mudança. A subsistência da televisão generalista implica que a abordagem à realidade do espectador seja outra, nomeadamente   naquilo que ele escolhe para ver. Os meus filhos não vêem televisão como eu via.

 
RFP: Está no mesmo ponto em que estava em 2000.
JEM: Estou no mesmo ponto em que estava em 2000. E é muito engraçado. Eu gosto muito de desafios.

 
RFP: Quem chegar primeiro marcará a diferença e agarrará os espectadores?
JEM: Acho que o espectador premeia quem mais se esforça por encontrar as soluções inovadoras.

 
RFP: Face a tudo o que tem dito nesta conversa, vê-se a voltar a director-geral da TVI?
JEM: Não, já dei para isso [risos]. Mas vejo-me como alguém que quer ajudar quem está a encontrar caminhos novos. O desafio não é criar um contacto de minutos com o espectador, mas que ele veja mesmo o que fazemos e não mude de canal. Ou que tenhamos a capacidade para o seduzir ao ponto de decidir que não vê naquele momento, mas o verá daí a duas ou três horas. Como é que isso se consegue? Dando um produto diferenciador, trazendo inovação, sabendo antever tendências.

 

 
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