Política de utilização de Cookies em Revista Saúda Este website utiliza cookies que asseguram funcionalidades para uma melhor navegação.
Ao continuar a navegar, está a concordar com a utilização de cookies e com os novos termos e condições de privacidade.
Aceitar
30 novembro 2023
Texto de Jaime Pina (médico, Fundação Portuguesa do Pulmão) Texto de Jaime Pina (médico, Fundação Portuguesa do Pulmão)

Superbactérias

​​​​​A resistência aos antibióticos é um grave problema de Saúde Pública.​

Tags
O ano de 1928 é mítico na História da Medicina e da Humanidade. Nesse ano, Alexandre Fleming descobriu, por acaso, o primeiro antibiótico, a penicilina. Esta descoberta abriu a porta ao isolamento de mais de 120 novos antibióticos que hoje utilizamos para tratar e curar a maioria das infeções.

Um antibiótico é uma substância natural, ou sintética, que tem a capacidade de inibir a multiplicação e destruição das bactérias causadoras de infeções. Falamos de resistência aos antibióticos quando estes perdem essa capacidade. Ou seja, na sua presença os microrganismos não são destruídos, continuam a multiplicar-se e a agravar a infeção.

Há vários fenómenos que estão na base da resistência aos antibióticos:
  • Mecanismos naturais dos próprios microrganismos que, para sobreviverem, “aprendem” a resistir a estes fármacos;
  • Ingestão frequente e inadvertida de antibióticos usados na criação de gado, na piscicultura e outros sectores da indústria alimentar, sem o devido controlo. Esta realidade é, também, um fator de indução da resistência.
  • A principal causa está no uso inadequado ou incorreto dos antibióticos. A automedicação, a utilização de antibióticos em situações em que eles não estão indicados (constipações, resfriados, gripe, outras viroses), ou a sua utilização incorreta (não cumprimento da posologia diária ou do tempo total de tratamento) são as principais causas deste fenómeno.

Este problema está a crescer em todo o mundo, tornando ineficazes muitos tratamentos anti-infeciosos e obrigando à utilização de antibióticos alternativos, mais potentes, mas também mais caros e tóxicos.

Existem mesmo algumas bactérias (estafilococos e colibacilos, por exemplo), que se mostram resistentes a todos os antibióticos disponíveis, são as chamadas superbactérias. Estas situações representam um retrocesso à era pré-antibiótica, quando ainda não havia estes medicamentos para tratar as infeções. As doenças infeciosas eram então a principal causa de mortalidade dos seres humanos.

Apesar da solução do problema ter várias componentes, há que respeitar regras muito precisas na utilização de antibióticos na medicina veterinária, na indústria alimentar, na prescrição pelos médicos e na utilização pelas pessoas que vivem com doença.

Há comportamentos muito simples que contribuem para que as bactérias não adquiram resistência a estes fármacos:
  • Adote comportamentos de higiene para reduzir a possibilidade de infeções: lave frequentemente as mãos com água e sabão e cozinhe bem os alimentos;
  • Use as vacinas disponíveis para evitar as infeções. Quanto menos infeções menos antibióticos são necessários;
  • Diga não à automedicação. Nunca tome anti- bióticos por sua iniciativa. Os antibióticos só devem ser tomados quando forem prescritos pelo médico;
  • Respeite a posologia aconselhada: tome o antibiótico às horas indicadas;
  • Cumpra o prazo de tratamento prescrito: não pare o tratamento antes do tempo indicado, mesmo que já se sinta melhor;
  • Se sentir algum tipo de intolerância, não interrompa o tratamento por sua iniciativa. Avise o médico e cumpra as indicações que ele lhe der.

Com estas medidas tão simples estará a dar um importante contributo para que não se amplie a situação, já considerada um grave problema de Saúde Pública. Segundo a OMS, até 2050 assistiremos a um número cada vez maior de infeções provocadas por estas superbactérias que se tornarão, então, uma das principais causas de morte para os seres humanos.
Notícias relacionadas