Nos últimos tempos, tem-se falado bastante de técnicas milagrosas para limpar o intestino. Hidroterapia, enemas, receitas de efeito laxativo e limpeza total do intestino. Mas será que ter o intestino limpo é realmente algo que devemos perseguir? Estas técnicas são a cura milagrosa da obstipação?
Antes de responder a estas perguntas, é necessário referir que o intestino tem o seu próprio sistema de autolimpeza, aliás, ele próprio é um órgão de limpeza e eliminação do organismo. A ingestão de alimentos provoca o chamado reflexo gastrocólico e movimentos peristálticos, para assegurar a eliminação de resíduos e toxinas de forma natural.
Salvo condições específicas, como obstipação severa ou preparação para uma colonoscopia, o corpo não precisa de ajuda externa para limpar o intestino.
O intestino é um órgão com sete metros de comprimento, com muitas dobras que aumentam ainda mais a área de contacto. Por isso, a ideia de que pode estar totalmente limpo é irrealista. O intestino nunca vai estar completamente vazio, pois está constantemente a processar e eliminar o que ingerimos.
Procedimentos como a hidrocolonterapia têm vindo a ganhar popularidade e esta pode ser benéfica, quando bem feita. Pode ser útil em casos de obstipação, por exemplo, para a limpeza de fezes antigas. No entanto, não é uma cura para a obstipação, podendo a situação repetir-se passado pouco tempo. Para ser eficaz, esta técnica deve ser feita por profissionais de saúde capacitados, em ambientes controlados e seguidos de medidas como a reposição de probióticos. É acompanhada de ajuste da alimentação e de hidratação, para que a causa da obstipação seja tratada. Sem esta preocupação de pesquisar a causa da obstipação, a hidrocolonterapia vai ser mais uma medida temporária aplicada a um problema que se vai manter. O mesmo se passa com os enemas: são ferramentas úteis quando usadas com moderação e indicação, mas a prática frequente, ou sem orientação, pode causar dependência, enfraquecer a motilidade natural do intestino e até gerar complicações, como lesões internas ou infeções.
O recurso a este tipo de intervenções tem sempre riscos: pode existir uma perfuração do intestino, quando ocorre pressão excessiva ou má execução do procedimento. Por isso é fundamental ser feito com o controlo de um profissional de saúde. Se for realizado em casa, deve ser feito com indicação e o profissional de saúde deve explicar muito bem a forma de realizar. Outros dos riscos associados são infeções oportunistas, pelo facto de se introduzir objetos ou substâncias externas ao organismo. O risco é maior em pessoas com o sistema imunitário debilitado.
Estes procedimentos são principalmente perigosos para pessoas com doenças inflamatórias intestinais, como colite ulcerosa ou doença de Crohn, para pessoas com histórico de cirurgias do intestino, doenças cardíacas ou renais, devido ao impacto do equilíbrio dos eletrólitos do corpo.
Seja qual for o motivo para considerar uma limpeza intestinal, o ideal é procurar orientação de um profissional de saúde para avaliar se realmente necessita deste tipo de intervenção. Como profissional de saúde especialista do intestino, aconselho sempre identificar e tratar a causa do problema, permitindo ao corpo trabalhar para fazer a autolimpeza naturalmente. Dessa forma, a prioridade é garantir uma boa hidratação, e uma alimentação rica em fibra e gorduras que vão ajudar na evacuação completa. Como isto pode não ser suficiente, é preciso fazer uma avaliação caso a caso, por isso o meu conselho é pedir ajuda e não experimentar técnicas em vão, que provavelmente serão mais uma solução falhada.