A principal característica que diferencia uma criança de um adulto é que a criança está sempre a crescer. Transforma-se de uma única célula num ser humano completo, através de processos de multiplicação, crescimento, diferenciação celular, entre outros. Estes processos precisam de energia, que é fornecida às células através da circulação sanguínea, bombeada pelo coração.
O coração forma-se muito cedo e começa a funcionar entre o 22.º e o 24.º dia de gravidez. No início, bate a cerca de 100 batimentos por minuto, mas vai acelerando, até estabilizar por volta dos 140. No começo do segundo trimestre, todas as estruturas cardíacas estão formadas e capazes de assegurar a circulação fetal.
O processo de formação do coração é muito complexo e delicado. O músculo cardíaco desenvolve-se a partir de uma substância chamada geleia cardíaca e, inicialmente, algumas funções ainda são pouco eficazes. Gradualmente, vai começando a bombear o sangue de forma eficiente, mas com dificuldade em relaxar, daí que tenha um ritmo acelerado. O sistema elétrico do coração está ainda muito frágil, pelo que qualquer estímulo adverso pode provocar arritmias.
A circulação do bebé é diferente da nossa: no útero materno, o bebé não respira, pelo que os seus pulmões não funcionam. Tudo o que precisa para se formar e desenvolver entra pelo cordão umbilical. O sangue bombeado pelo coração do bebé é desviado dos pulmões para o cordão umbilical por curto-circuitos, fazendo com que tenha uma resistência pulmonar elevada e menos oxigénio no sangue.
A pouco e pouco, o bebé vai crescendo e ganhando reservas para o maior desafio da nossa vida: o nascimento. Durante o parto, o útero contrai-se, aportando menos oxigénio ao bebé, que é empurrado para o canal do parto. Após a expulsão, o bebé começa a respirar e a chorar.
Ao nascer, a circulação sanguínea muda: o cordão umbilical seca e cai, os curto-circuitos fecham, as duas circulações (pulmonar e sistémica) separam-se e o sangue começa a ir para os pulmões que, gradualmente, eliminam os líquidos no seu interior e aumentam a quantidade de ar, baixando a sua resistência.
A pouco e pouco, as pressões dos dois lados do coração tornam-se diferentes e os ventrículos vão evoluindo. Nesta fase, as fibras musculares cardíacas ainda não estão totalmente desenvolvidas, pelo que arritmias ou situações de sobrecarga podem ser muito mal toleradas.
Lentamente, e até ao final do primeiro ano de vida, o coração do bebé vai ficando mais parecido com o de um adulto saudável.
Se houver algum fator de risco ou suspeita de malformação no coração, durante a gravidez, a mãe deve ser encaminhada para Cardiologia Pediátrica, para avaliar a situação e programar adequadamente o nascimento. Para assegurar o crescimento futuro saudável do bebé, é fundamental que o seu coração seja tratado adequadamente e no tempo certo.