«Para aí há 50 anos que inventei esse presépio», apresenta Júlia, humilde, no ateliê na sua casa, em Galegos de São Martinho, onde continua a dar vida a peças que contam a história do figurado de Barcelos. Refere-se a um pequeno carro de bois com as figuras cor de mel que distinguem a arte das gerações da família Ramalho.
Barrista desde que se conhece, Júlia é a herdeira do saber de Rosa Ramalho, a ceramista que catapultou esta arte barcelense dentro e além-fronteiras. E conta a história ao médico que hoje veio visitá-la e que conhece há «muitos anos». «A minha avó foi a primeira a fazer as feiras de artesanato em Lisboa».
Também ao barro vidrado, bastante apreciado pelos coleccionadores, conhece as origens - afinal estava lá. Na Feira de Barcelos, recorda, um senhor pediu a Rosa Ramalho peças vidradas, em vez de pintadas. «E a minha avó disse: "vou se se posso fazer isso". E foi ali ao padeiro, a gente chamava-lhe o "Tijolo Manquinho", para ver se ele punha meia dúzia nos alguidares…» Foi o início. O cliente adorou e assim se fez história: «A história da minha vida».