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3 março 2018
Texto de Nuno Monteiro Pereira (urologista e andrologista) Texto de Nuno Monteiro Pereira (urologista e andrologista) Ilustração de Mantraste Ilustração de Mantraste

Circuncisão

​​​​​A visão moderna da prática e outras alternativas.

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A circuncisão é provavelmente a mais antiga operação do mundo e a que, seguramente, mais vezes já foi executada. Calcula-se que, em todo o mundo, um em cada sete homens é circuncisado. Nos universos islâmico e judaico, a circuncisão é um ritual executado em todos os rapazes, sendo também utilizada em outras culturas. No mundo ocidental, a taxa de homens circuncisados varia muito de país para país. Na Europa, a taxa varia entre 5 e 10%. Contudo, na Austrália e Canadá atinge 40% e, nos Estados Unidos da América, 70% dos homens. Essa elevada taxa de circuncisados deve-se a que a circuncisão tenha sido fortemente advogada nesses países para todos os recém-nascidos masculinos, a exemplo do que algumas religiões tradicionais impõem. Hoje em dia defende-se uma posição muito mais conservadora, mesmo nos Estados Unidos, estando a circuncisão sem razões médicas ou religiosas a ser fortemente desencorajada. De facto, uma melhor higiene peniana oferece todas as vantagens da circuncisão de rotina, sem os inconvenientes funcionais e sexuais inerentes ao procedimento cirúrgico. Na verdade, a maior parte dos rapazes aos quais não é removida a pele prepucial não irá ter qualquer problema futuro.

Ainda existe a opinião de que o prepúcio é um “bocado de pele inútil”, sem qualquer função particular, pelo que o doente não virá a lamentar a sua perda. Essa ideia tradicional é hoje contrariada pelos modernos conhecimentos da fisiologia e de anatomia funcional. Sabe-se, por exemplo, que o prepúcio é uma estrutura muito rica em receptores sensitivos nervosos, importantes para a excitabilidade sexual do pénis.

As razões médicas em que a circuncisão pode ser indicada reduzem-se às situações em que existe fimose verdadeira e balanite recorrente. No adulto e no velho existe outra indicação, que é a balanite xerótica obliterante. As razões religiosas e culturais podem, naturalmente, ser também uma indicação para a circuncisão. Geralmente ela é solicitada pelos pais ou outros familiares. A cirurgia é geralmente feita com anestesia local, excepto em crianças pequenas. As complicações são raras e o pós-operatório é geralmente fácil.

A CIRCUNCISÃO PODE DEIXAR SEQUELAS PSICOLÓGICAS?
Nos meios médicos, a circuncisão neonatal é considerada, há muitos anos, como psicológica e emocionalmente inócua. Os recém-nascidos, tendo o sistema nervoso incompletamente desenvolvido, não sentem dor ou, se o sentem, não vão futuramente lembrar-se disso. Essas ideias são hoje contrariadas pela sugestão, não comprovada, de que a integração das respostas emocionais à dor fica retida na memória tempo suficiente para modificar futuros padrões de comportamento. Existe também evidência suficiente para se afirmar que a circuncisão pode ser psicologicamente agressiva, mesmo quando praticada em rapazes muito pequenos.

Do mesmo modo, a circuncisão praticada na criança e no adolescente pode ser emocionalmente traumática e fonte de lesão psicológica a longo termo, envolvendo alterações de imagem corporal e sensação de perda de uma parte do corpo. Sendo imprevisível a resposta à dor, trauma e perda, alguns poderão ficar mais afectados do que outros.

ALTERNATIVAS CONSERVADORAS
As medidas conservadoras para tratamento da fimose têm cada vez mais maior aceitação por parte dos urologistas e dos cirurgiões-pediatras, principalmente devido às críticas crescentes à circuncisão e aos argumentos funcionais e psicológicos evocados.

Nos rapazes e nos adultos jovens, a utilização de cremes esteróides como alternativa à cirurgia tem sido defendida por diversos autores. Alguma taxa de insucesso verificada na aplicação tópica de cremes ocorre porque os doentes ou seus pais não perceberam que o creme deve ser aplicado só depois do prepúcio ser “desenrolado” e expor a zona afilada e apertada. Para além da utilização de cremes, existem outras medidas conservadoras, como as retracções prepuciais forçadas, com ou sem anestesia geral, e as dilatações prepuciais com balões.

A utilização de medidas conservadoras nos homens idosos, nomeadamente em situações de balanite xerótica obliterante, não oferece resultados animadores. Nessas circunstâncias, a circuncisão pode ser a única solução.
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