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15 outubro 2016
Texto de Maria Jorge Costa Texto de Maria Jorge Costa Fotografia de Pedro Loureiro Fotografia de Pedro Loureiro

«Vacina da gripe evita mortes»

​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​O director-geral da Saúde explica que a vacina é vital para os grupos de risco, idosos e doentes crónicos à cabeça.

Revista Saúda - Está há 15 anos na Direcção-Geral da Saúde (DGS). Como olha para este tempo?
Francisco George - Com a responsabilidade de estar à altura dos meus antecessores e de saber se estamos a fazer e a decidir no sentido correcto. Em regra, o balanço é positivo. Isto não tem que ver directamente com o trabalho da DGS, mas de todas as 120.000 pessoas que trabalham nos serviços públicos de saúde. Melhorámos a taxa de incidência da tuberculose.Estamos a diminuir a taxa da interrupção voluntária da gravidez (IVG). Há menos gravidezes adolescentes, menos crianças a morrer e menos mortes infantis. Há um conjunto de indicadores importantes, que avaliamos constantemente e nos incentivam a continuar. O nosso trabalho não é tratar os tuberculosos, isso é tarefa de médicos, enfermeiros, farmacêuticos, biólogos… de todos, incluindo os cidadãos. À DGS cabe indicar as melhores práticas para tratar a tuberculose e monitorizar os seus efeitos, positivos ou não.

RS - O que espera da nova campanha de vacinação contra a gripe?
FG - É uma campanha absolutamente essencial, sobretudo para proteger os idosos e aqueles que têm doenças crónicas. Nós sabemos que a vacina da gripe não evita sempre a infecção. Mas sabemos, comprovadamente, que quem se vacina tem menor probabilidade de sofrer complicações. Podemos dizer que a a vacina é excelente para diminuir a mortalidade específica pela gripe. Protege de complicações. Quando elas surgem, são menos graves. Há menos probabilidade de um idoso morrer devido à gripe. Por isso, damos muita importância à imunização e às campanhas de distribuição e administração gratuita de vacinas a todos os que, por alguma razão, estão mais vulneráveis. É preciso ter em conta que não há vacinas para todos. Importamos menos de dois milhões e somos mais de 10. Por isso, definimos os grupos prioritários. Esta vacina, como sabemos, é especialmente distinta das outras porque é preciso revacinar todos os anos. A gripe é como a “Volta ao mundo em 180 dias". Só circula nas semanas frias. Observamos a situação no hemisfério Sul e vamos administrar as vacinas adequadas, admitindo que vão chegar ao hemisfério Norte as que acabaram de circular do hemisfério sul. O vírus vai mudando. Não há camaleão com mais mudanças do que o próprio vírus da gripe. Vamos estudando as epidemias provocadas nas semanas frias do ano do outro hemisfério e trocamos informações com a OMS, com o Brasil e adaptamos as nossas campanhas.
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RS - A taxa de cobertura vacinal dos grupos de risco atingiu 60% no ano passado. Como avalia este dado?
FG - Tem corrido, de uma maneira geral, bem. Foi importante termos optado pela vacina gratuita, distribuída em centros de saúde, disponível desde o dia 1 de Outubro.

RS - Um relatório dos CDC (Centers for Disease Control and Prevention) alertava em Setembro que 49.000 americanos morriam pela gripe, ou doenças associadas. Os CDC faziam o alerta de que era muito importante vacinar toda a população adulta.
FG - Isso só é possível se tivermos a vacina. Nós não produzimos vacinas, primeiro ponto. É preciso que todos percebam que não há produção de vacinas em Portugal e que a quota de importação das vacinas não é estabelecida pelo Governo português, nem pelas autoridades portuguesas. É a indústria que define as quotas e este ano atribuiu 1,2 milhões a Portugal.

RS - Quem não pertence a um grupo de risco deve fazer a vacina?
FG - Não temos essas ambições. A nossa ambição é proteger o mais possível a população idosa e portadores de doenças crónicas. Queremos ultrapassar as nossas metas: 60/70% da população idosa imunizada para a gripe sazonal.

RS - Continua preocupado com o ritmo de vida pouco saudável das pessoas?
FG - Está comprovado que as mortes prematuras se devem a estilos de vida pouco saudável. Um dos barómetros de saúde é saber a percentagem de mortes prematuras em cada ano. Por convenção, estipulou-se que a idade para considerar morte prematura era só 70 anos. Quanto maior for o número de doentes que morrem antes dos 70, pior estamos. Infelizmente, ainda temos 20% de portugueses que não conseguem festejar esse aniversário. Mas a evolução tem sido positiva! Esse é o trabalho feito pelo conjunto dos médicos, enfermeiros, farmacêuticos, biólogos... Mas sobretudo, quem mais trabalha para isso são os próprios cidadãos.


RS - Houve mudanças nos refeitórios escolares, nas máquinas de venda de bebidas e alimentos em espaços públicos. Continuamos a precisar de imposições para mudar?
FG - Acho que sim. É claro que faz m​uito mal ir à praia na hora de almoço e continuamos a ver muita gente a fazê-lo, não os vamos proibir ou multar. Mas devemos informar. Há áreas em que temos o dever, mesmo no plano legislativo, de actuar, sobretudo quando os riscos são de monta. É o que se passa com a alimentação, que é responsável por metade das mortes prematuras. Metade dos 20% de portugueses que morrem antes dos 70 anos, têm como causa principal erros alimentares: excesso de sal, açúcar, excesso de calorias, excesso de gorduras artificiais, gorduras processadas. É com satisfação que vemos conquistas positivas, como os pacotes de açúcar, que já são mais pequenos. Temos trabalhado com a indústria alimentar, mas esse trabalho não é fácil.

RS - E a redução do sal?
FG - É uma luta imparável e essencial, porque 40% da população tem hipertensão arterial em resultado directo do excesso de sal na alimentação.

RS - António Arnaut afirmou recentemente que as farmácias são a mão longa do SNS. Concorda?
FG - As farmácias estão integradas no sistema de saúde e são, quase todas, privadas. Não são do SNS, mas não há SNS que possa sobreviver sem farmácias. E hoje estão melhores! Os farmacêuticos de hoje, em número e qualidade, não são iguais aos do passado. O panorama actual não é igual ao do passado recente. Há 3.000 farmácias, que são pontos importantes para a saúde. As pessoas que, muitas vezes, têm tosse, vão à farmácia e pedem um medicamento para a tosse. Se o farmacêutico vê que a tosse é arrastada, que tem determinadas características, tem de aconselhar o utente a visitar um médico, ou para ligar para a linha Saúde 24. Fizemos um acordo com as farmácias no sentido de – em ambiente de farmácia – falarem directamente com a linha Saúde 24.

RS - Vê ganhos para doentes e SNS na dispensa de medicamentos hospitalares nas farmácias? 
FG - Vão surgir novidades nessa área, sobretudo no que diz respeito às doenças crónicas, seja de natureza infecciosa ou não. É uma questão de maior proximidade e não vejo qualquer problema. 
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