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29 fevereiro 2024
Texto de Telma Rocheta (WL Partners) Texto de Telma Rocheta (WL Partners) Fotografia de Pedro Loureiro Fotografia de Pedro Loureiro Vídeo de Diogo Alves Vídeo de Diogo Alves

«Pisar grandes palcos é a minha missão»

​​​​​​Aos 33 anos, "a fadista de Chelas", mentora do "The Voice", esgota os Coliseus e aposta nos palcos lá fora.

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O que significa ser apelidada de "a fadista de Chelas"?
É ser uma bandeira de esperança, otimismo e liberdade para as pessoas de Chelas. Podermos ser livres para sermos nós próprios. Acho que é isso que eu represento para o meu bairro.

Há muitas ideias sobre este bairro lisboeta, sobretudo a de que há muito crime e droga. Para si, o que é Chelas?
Houve sempre esse rótulo. Mas Chelas é, acima de tudo, as pessoas. Que se ajudam umas às outras, que estão sempre dispostas a dar a mão, que trabalham imenso para ter a sua casinha ali. Chelas é família.


"Chelas" [escrita por Carolina Deslandes ] é o meu hino. Porque Chelas é de onde venho e nunca me esqueço. É família»​

Foi com o tema escrito por Carolina Deslandes que a Sara se impôs como "a fadista de Chelas", que parece quase o seu hino. Sentiu isso?
Completamente. “Chelas” é realmente o meu hino porque eu cresci com aquelas pessoas durante toda a minha aprendizagem do fado. Ali tenho pessoas que ainda hoje são minhas amigas, vivem lá, e eu queria, de certa forma, mostrar-lhes que não estão esquecidas e que, independentemente de eu voar para outros sítios, vou sempre parar às raízes.

Começou a cantar fado muito pequena. Como é que isso aconteceu?
Foi um processo muito natural. Na minha família sempre se ouviu fado. A minha tia cantava fado. O fado é a minha primeira casa em relação à música. Não posso dizer que me lembro ao certo de quando comecei a cantar. Aos nove anos decidi ir bater a porta a uma escola, o Clube Lisboa Amigos do Fado.


Com apenas 13 anos, Sara Correia venceu a Grande Noite do Fado

A partir daí, o que aconteceu para a Sara miúda se tornar Sara, a fadista?
Depois da escola houve um processo complexo em relação à minha descoberta do que era o fado para mim. O que significavam as letras? O que podia cantar na minha idade? Senti que o primeiro, e o mais importante, momento da minha vida foi quando, aos 13 anos, ganhei a Grande Noite do Fado. Esse foi o meu primeiro embate de: «Ok, é isto que eu quero». As pessoas à minha volta apoiaram-me muito: “Vai, continua, segue em frente”. Isto levou-me a sentir a luz do destino. E o meu destino está traçado para o fado.

Cantou com Celeste Rodrigues (irmã de Amália). O que sentiu por ter um pouco ali o espírito da grande fadista?
Cantei durante oito anos com a dona Celeste Rodrigues, com a Maria da Nazaré, com a Cidália Moreira, com o Jorge Fernando. Tive o prazer de poder "beber" deles todos. E ainda hoje sinto isso em cada passo que dou. Continuam a ser muito importantes para mim. Em relação à Celeste, tínhamos uma amizade muito bonita. Eu sentava-me sempre ao lado dela e escutava tudo o que ela me dizia. Sinto que se alguma vez estive mesmo próxima do fado, verdadeiramente, foi com ela. É uma sensação mais difícil de encontrar hoje. Eu senti isto com algumas pessoas e sinto quando estou, por exemplo, ao lado do Camané. Há pessoas que têm essa luz dentro delas.

Ou seja, sente que o Camané personifica o fado?
Atualmente, é ele. É o fado para mim, sim.

Com o segundo álbum, “Do Coração”, ganhou o prémio Play de Melhor Álbum Fado, fez uma tournée internacional impressionante. Esteve na Índia, Coreia do Sul, Chile, Itália, Países Baixos. Como teve força anímica para aguentar tudo isso? 
É porque não me levo muito a sério, vivo a minha vida feliz e gosto de cantar. Não é fácil sempre. Dá muito trabalho, é muito exigente e, às vezes, dá vontade de chorar. E eu choro. Choro porque também é uma vida por vezes solitária. Estamos longe da nossa família. Estamos muito ausentes de muita coisa e isso pode ser muito perigoso, porque começamos a olhar muito mais para nós. É preciso ter os pés muito assentes na terra. Esse é o meu trabalho todos os dias.

Este seu último álbum, “Liberdade”, é sobre a liberdade que a maturidade traz?
Toda a gente diz que os 30 anos são um ponto de viragem. Eu começo a sentir isso. Sinto que não tenho de me esconder daquilo que sou. Não tenho de agradar a toda a gente. Quero que as pessoas gostem de mim como sou. Ser livre é isso mesmo. É por isso que trago para a minha vida coisas boas. Porque sou livre.

Aos 30 anos enche quatro vezes o Coliseu, três em Lisboa e um no Porto. Não é difícil manter a humildade com isto?
O facto de eu encher quatro vezes o Coliseu é precisamente por ser uma pessoa normal como as outras. Com o "The Voice", as pessoas conheceram-me mais e aproximaram-se. Não tenho dúvida de que essa visibilidade ajudou a encher os Coliseus.


Estreou-se na televisão no programa "The Voice". «Não tenho dúvida de que essa visibilidade foi o que levou a encher os Coliseus»

Quais foram os pontos altos da sua experiência como mentora no "The Voice"?
No "The Voice", ou em qual- quer programa de televisão onde estamos muitas horas com muitas pessoas, não dá para esconder nada do que somos. Eu antes tinha alguma dificuldade em abrir certas divisões do meu coração, e o "The Voice" ajudou-me imenso nisso.

Que tipo de emoções se sente num Coliseu, numa sala no estrangeiro, ou numa casa de fado?
As casas de fado são como uma igreja, é onde rezamos. Já os palcos são espetáculo e têm que ver com passar a nossa mensagem.

Qual é o seu sítio preferido para cantar?
Neste momento, prefiro o palco. Gosto muito de ver pessoas novas, conhecer culturas. Isso faz-me apaixonar pela vida. Trabalhei durante 15 anos em casas de fado. E por mais que as pessoas rodem, o sítio é sempre o mesmo. O fado quer levar-nos ao mundo inteiro, e com isso podemos ver outras coisas e alimentar a nossa música. 

Quer apostar mais na carreira internacional? 
Sim, adoro cantar lá fora. Quero pisar grandes palcos no mundo. É essa a minha missão.

É frequentadora de farmácias?
Sim, acima de tudo por causa da minha voz. Quando cantamos há muito tempo, às vezes precisamos de alguma força para as cordas vocais, e precisamos de injeções e coisas do género. Chás de gengibre também ajudam.

O que faz para aguentar a dureza dos espetáculos? 
Neste momento, após o regresso das férias, já estou no ginásio. É importante para me fortalecer e ganhar mais resistência. É realmente muito difícil viajar de um lado para o outro, pois muitas vezes não se dorme bem, temos o corpo e a voz cansados. Além do ginásio, gosto de correr e de natação.
 
Tem cuidados com a alimentação?
É muito importante. Agora estou mais bem-comportada, até nas férias. Gosto de tudo, mas tenho muita noção do que é saudável. Na minha banda há uma pessoa vegetariana e várias com cuidados com a alimentação. Vamos aprendendo uns com os outros.

 
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