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4 janeiro 2024
Texto de Telma Rocheta (WL Partners) Texto de Telma Rocheta (WL Partners) Fotografia de Eduardo Martins Fotografia de Eduardo Martins

Entre os vinhos e o azar dos Távora

​​O Alto Douro Vinhateiro é a mais antiga região vinícola demarcada do mundo.​​

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Do rio Douro até Alijó, a estrada serpenteia entre as vinhas sem fim de quintas históricas que produzem o célebre Vinho do Porto. É impossível ficar indiferente à beleza desta paisagem do Alto Douro Vinhateiro, a mais antiga região vinícola demarcada do mundo, classificada pela UNESCO como Património da Humanidade, em 2001.


Arquiteta de formação, a lisboeta Maria José Rodrigues diz que a paisagem duriense tem um enorme poder sobre os forasteiros

Maria José Rodrigues, lisboeta de gema, quase se converteu ao esplendor da terra, desde que, há cinco anos, começou a dirigir a farmácia que fora do pai e atualmente é de três herdeiros. «Sou muito urbana, mas tenho uma amiga que disse que me proibia de me apaixonar completamente pela região, senão não regressava a casa», conta, lembrando que a Natureza tem um enorme poder sobre os forasteiros. Arquiteta de profissão, acabou de renovar a Farmácia José Rodrigues, no centro de Alijó, orientada pelo princípio de dar uma experiência de bem-estar e tranquilidade aos clientes quando precisam de comprar medicamentos. «Já basta as pessoas sofrerem por estarem doentes», considera.


A mais ilustre casa da vila, propriedade dos Távora, senhores donatários de Alijó ao longo de três dinastias

Ao lado do edifício fica a mais ilustre casa senhorial da terra, outrora propriedade dos Távora. Os marqueses de Távora foram senhores donatários de Alijó durante três dinastias, até à execução de vários membros em Lisboa, acusados de planear matar o rei D. José I. No mesmo largo encontra-se um plátano com 167 anos, 35 metros de altura e sete de diâmetro, que recebeu a classificação “Árvore de Interesse Público”, em 1953. A árvore foi mandada plantar pelo 1º Visconde da Ribeira de Alijó e a sua imagem é o ponto central do brasão municipal. Mesmo ao lado fica a Igreja Matriz, de finais do século XVIII, forrada no exterior a azulejo azul e branco, e que homenageia Santa Maria Maior.


Igreja Matriz, de finais do século XVIII, forrada a azulejo azul e branco


Alto Douro Vinhateiro. À volta de Alijó, os campos estão cobertos de vinhas​​

É nos arredores da vila que podemos apreciar aquilo que faz desta zona do distrito de Vila Real um polo de atração para visitantes de todo o mundo. A poucos minutos de carro, entre São Mamede de Ribatua e Safres, o miradouro do lugar de Fraga do Ujo, com a sua plataforma em ferro de onde se avista o rio Tua a abrir caminho entre os montes, é dos mais emblemáticos. Não só pela imagem do serpentear do rio, como pela própria estrutura em metal, que parece o pódio de uma piscina a abrir para o abismo. A sensação é que o visitante se transforma no próprio ujo, a grande coruja que habita as encostas silenciosas.


A região tem 20 percursos terrestres homologados pela Federação de Campismo e Montanhismo de Portugal

Ocasiões para apreciar a paisagem são muitas. No sítio online da Câmara Municipal de Alijó pode conhecer doze destas varandas sobre a paisagem. E o turismo de Natureza é, sem surpresa, outra das apostas do município, havendo neste momento 20 percursos terrestres homologados pela Federação de Campismo e Montanhismo de Portugal, e que equivalem a mais de 200 quilómetros de caminhos rurais. Outra visita a não perder é o Pinhão, a pequena localidade banhada pelo rio Douro, considerada o centro geográfico da Região Demarcada com o mesmo nome. Além da paisagem, destaca-se a sua estação ferroviária, com 24 magníficos painéis de azulejos que retratam várias perspetivas do rio e cenas do trabalho ligado às vinhas. Viajar de comboio e sair nesta estação é uma bela maneira de começar uma visita ao Douro, de que também pode usufruir através de passeios fluviais nos barcos rabelos e de cruzeiro, organizados por várias empresas e com diferentes tipos de programas.

Regressando a Alijó, no Centro de Mostra e Amostra de Produtos Endógenos (CMAPE), na Casa dos Noura, no centro da vila, exibem-se os produtos de excelência, motor da economia do concelho, muitos deles feitos da mesma forma artesanal há muitas décadas. O produto estrela é, sem dúvida, o Vinho do Porto e o de mesa. O pão de trigo de quatro cantos, ainda feito em Favaios, em diversas padarias tradicionais com fornos de lenha, tem muita saída. «Muitas padarias ainda têm fornos que cozem o pão como há 70 ou 80 anos», explica Cláudia Coelho, técnica deste núcleo museológico inaugurado em abril de 2022. As amêndoas cobertas, feitas na freguesia de Santa Eugénia, são outro dos produtos exibidos, infelizmente em vias de extinção: atualmente apenas uma senhora as produz.

O moscatel de Favaios é mais um dos produtos distintivos da região. A cinco quilómetros de Alijó, na Quinta da Avessada, pode ver-se o museu interativo sobre a cultura duriense do vinho. Com 160 anos, a quinta terá sido das primeiras a produzir o célebre moscatel, após a praga da filoxera ter destruído as vinhas, em meados do século XIX.


O quartel dos Bombeiros Voluntários à entrada da vila

Numa terra do Interior e essencialmente rural, como é Alijó, «os serviços de saúde são importantíssimos no apoio à população», refere Maria José Rodrigues, que passa os dias da semana a gerir a sua farmácia. «Os bombeiros prestam um serviço com um valor incalculável a uma comunidade envelhecida». Segundo os Censos 2021, Alijó terá pouco mais do que dez mil habitantes, um terço dos quais com mais de 65 anos. O quartel dos Bombeiros Voluntários situa-se à entrada da vila, perto do largo central com a escultura “Homem do Douro”, uma peça que homenageia a faina árdua da vindima. Vice-presidente da corporação há mais de duas décadas, Eduardo Baptista reconhece que a desertificação do Interior do país dificulta ter meios humanos para responder com a prontidão necessária, mas, garante, «vamos tendo ainda capacidade de dar a resposta correta, até agora sem reclamações».


À entrada da vila, a escultura do "Homem do Douro" homenageia a faina árdua da vindima​

Eduardo Baptista recorda que os bombeiros são normalmente as primeiras forças de segurança a acorrer e são, também, os que estão mais próximos da população: «Estamos sempre em prontidão máxima», afiança. Numa urgência, largam tudo e respondem ao toque da sirene. «Isto é de uma grande nobreza», elogia, refe- rindo-se aos quase 50 homens e mulheres que prestam serviço à corporação. Com dois veículos de transporte de doentes, que permitem deslocações aos mais carenciados, «podemos chamar aos bombeiros uma rede de transportes de saúde, porque é a realidade», considera Maria José Rodrigues.​