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15 outubro 2016
Texto de Sónia Balasteiro Texto de Sónia Balasteiro

Revolução pessoal

​​Aprender a parar, ser feliz e fazer mais coisas.

«Os dias sucediam-se e eu nem me apercebia. Era tudo demasiado rápido». Patrícia tinha 35 anos quando sentiu, pela primeira vez, que faltava sentido na sua vida. «Andava sempre numa correria. Levantava-me bastante cedo, levava os miúdos à escola, acelerava para não chegar atrasada ao emprego, trabalhava 12 horas seguidas, às vezes, nem almoçava... Chegava a casa e deitava-os (a empregada já lhes tinha dado o jantar), e eu, exausta, acabava por adormecer no sofá a ver uma série qualquer».

Acordava no dia seguinte, em sobressalto, e… tudo se repetia. Trabalhava no departamento de informática de uma grande empresa e «acreditava mesmo que não precisava de descansar, que dava conta de tudo». O resultado da forma como acumulava tarefas e, com elas, o stress de nunca as ver terminadas, foi uma depressão. «Leve, mas uma depressão». Soube então que tinha de mudar alguma coisa na sua vida.

Hoje, à distância de cinco anos, «quase» consegue sorrir com a situação: «É incrível. Tive de aprender a viver».

Sempre gostara de caminhar no paredão que ladeava o mar perto do apartamento onde então vivia, na linha de Cascais, mas deixara de ter tempo. Na verdade, «já não tinha tempo para fazer o que quer que fosse». E esquecera-se de algo essencial: cuidar de si mesma.

Voltou a caminhar junto ao oceano todas as manhãs. «Tinha só dez minutos mas eram os melhores dez minutos do meu dia!», entusiasma-se. Pouco a pouco, começou a sentir-se mais tranquila, mais alegre. «Quando o meu filho mais novo, na altura com três anos, me disse que adorava brincar comigo, percebi que não o fazia há muito tempo».

Na demanda pela sua tranquilidade, descobriu que havia «outras formas de vida». «Foi uma revelação perceber que não perdia nada ao dedicar algum do meu tempo a mim mesma.

Inscreveu-se em aulas de meditação ao final da tarde, num centro de ioga perto de casa, e poucos meses depois começou a conseguir meditar sozinha.

Pouco a pouco, os novos hábitos começaram a impregnar todas as áreas da sua vida. Na empresa em que trabalhava, adoptou uma nova atitude: «Deixei de aceitar trabalho após as 18 horas. Se aceitasse, sabia que teria de ficar até mais tarde e já não conseguia jantar com os meus filhos».

Sem o saber, Patrícia estava a adoptar um estilo de vida Slow, que implica não deixar que a lufa-lufa diária nos engula, distraindo-nos do mais importante.

Criado em Roma no final da década de 80, na área da alimentação, como forma de protesto contra a abertura de uma cadeia de fast food num centro comercial, o movimento Slow – ou Slow movement, em inglês – vem dizer-nos que, às vezes, é preciso abrandar o ritmo. «É um movimento de equilíbrio, um contrapeso à velocidade excessiva em que o mundo se move», explica Raquel Tavares, da associação Slow Movement Portugal, criada em 2009.

Uma velocidade com um preço elevado, tanto para o indivíduo como para os que o rodeiam e, a um nível mais macro, para o planeta, sublinha. «Se vivemos a um ritmo acelerado, temos relacionamentos mais superficiais. Também está demonstrado que o stress tem consequências negativas para a saúde.
 
Por outro lado, a forma rápida como se consome está a esgotar os recursos do planeta».

Daí que esta revolução pessoal na forma de estar no mundo, «um chapéu onde cabem várias áreas da vida», como diz Raquel, valorize precisamente, a necessidade de abrandar, no ritmo das refeições, na velocidade a que falamos, no tempo que dedicamos a nós mesmos e a quem amamos. Viver Slow (ou Slow Living) é, afinal, reaprender, aos poucos, a respeitarmo-nos. E ao mundo que nos rodeia.


Pequenos passos para um estilo de vida slow:
 
» Estabeleça limites e aprenda a priorizar. Aceite que não é possível fazer tudo num dia
» Deixe de responder a e-mails e telefonemas a partir de uma determinada hora
» Estabeleça metas mais realistas. Não tem de estar sempre  a competir. Aprenda a colaborar com os seus colegas
» No regresso a casa, caminhe mais devagar. Use cinco a 10 minutos para contemplar o que o rodeia
» Torne a sua casa mais acolhedora e tranquila, através da decoração
» Transforme as refeições num momento de cuidado. Prefira produtos locais e da época
» Reduza os hábitos de consumo ao que realmente precisa
» Aprenda a estar sem necessidade de fazer sempre alguma coisa
» Medite. 20 minutos por dia são um bom ponto de partida
» Ioga, caminhadas, tai-chi, retiros na natureza são algumas formas de equilibrar a sua energia
» Mantenha um ritual pessoal de privacidade, descontracção, música, leitura, ou qualquer outra actividade de que gosta
» Cultive as suas relações mais significativas