Como perspetiva a evolução das farmácias no apoio às pessoas que vivem com doença?
Acredito que podem ter um papel completamente diferente no percurso clínico dos nossos doentes. Têm os recursos humanos qualificados necessários e uma presença capilar em todo o país, características que as diferenciam na capacidade de intervenção. E o nosso sistema de Saúde precisa, de facto, do seu contributo em áreas fundamentais, como o acompanhamento de doentes crónicos. Portugal tem uma população cada vez mais envelhecida e acometida de doenças crónicas, o que coloca uma pressão tremenda sobre o SNS. Simultaneamente, existe evidência internacional de que estes doentes podem ser acompanhados com qualidade e satisfação nas suas farmácias comunitárias. É o que esperamos que aconteça cá, a curto prazo.
Fala de evidência internacional…
Estas intervenções já foram testadas noutros países, com ótimos resultados: elevada satisfação dos doentes, redução de custos, bom controlo das doenças. Em patologias específicas, como a dia- betes e a hipertensão, foram monitorizados os resultados clínicos das pessoas nestes programas de acompanhamento em farmácias comunitárias e foram excelentes. Tenhamos em conta o currículo de um mestre em Ciências Farmacêuticas, acrescentando a formação específica dos especialistas em Farmácia Comunitária… não tenho qualquer dúvida de que os farmacêuticos comunitários deste país estão capacitados. Logo, não existindo qualquer tipo de obstáculo, nem sequer legal, não há razão nenhuma para que não aconteça cá também. Há uma preocupação com os custos. Nós também a temos! Mas este é um caso neutro, ou mesmo benéfico, em termos de impacto orçamental. Terá um custo: o ato farmacêutico, que tem de ser pago. Mas teremos menos uma consulta hospitalar, cuja estrutura de custos é muito mais cara. A intervenção é custo-efetiva.