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29 fevereiro 2024
Texto de António Pedro Machado (médico de Medicina Interna) Texto de António Pedro Machado (médico de Medicina Interna)

MAPA obstétrica

​​​​​​​​​​​Medir e avaliar a pressão arterial da mulher grávida pode evitar complicações graves.​

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​O rastreio da hipertensão nas grávidas é de extrema importância porque a hipertensão — a par de outras situações, como a diabetes, gravidez gemelar, certas doenças autoimunes, a doença renal - aumentam o risco de complicações hipertensivas maternas e fetais, algumas muito graves, como a pré-eclampsia.

A hipertensão gestacional e a pré-eclampsia surgem depois da 20.ª semana de gestação. A pré-eclampsia, mais grave, distingue-se da hipertensão gestacional porque é acompanhada de proteinúria (presença de proteína na urina) ou de lesão de outros órgãos ou sistemas.

Nas grávidas em risco de hipertensão gestacional e pré-eclampsia, está recomendado o tratamento preventivo com aspirina que deve ser iniciada, idealmente, antes da 16.ª semana de gravidez. Quando iniciada mais tarde o benefício é muito menor. Mas surge aqui um problema: como identificar, antes da 16.ª semana, as grávidas normotensas em risco de virem a desenvolver hipertensão gestacional e pré-eclampsia a partir da 20.ª semana.

A MAPA obstétrica (medição ambulatória da pressão arterial durante 48 horas), que se realiza em farmácias, ao permitir identificar precoce- mente as grávidas em risco de hipertensão gestacional e pré-eclampsia pode mudar o cenário para um final de gravidez e parto tranquilos.
 
Cerca de 15% a 25% das grávidas inicialmente diagnosticadas com hipertensão gestacional evoluem para pré-eclampsia. Esta condição de alto risco pode envolver eventos adversos fetais e neonatais, incluindo descolamento da placenta, restrição do crescimento intrauterino (fetos pequenos para a idade de gestação), parto prematuro e morte perinatal.

A pré-eclampsia é responsável por até um terço de todas as mortes maternas, sendo a hemorragia intracraniana a causa mais comum. Outras complicações graves, como insuficiência renal aguda, lesão hepática, alterações da coagulação e lesões graves do sistema nervoso central (depressão do estado de consciência, convulsões, acidente vascular cerebral ou perda de visão), podem surgir em cenário de pré-eclampsia.

Apesar dos progressos da medicina, a única cura reconhecida continua a ser a evacuação uterina do feto e da placenta, com todos os riscos inerentes a um parto prematuro.

A identificação precoce das grávidas em risco de hipertensão gestacional e pré-eclampsia é um imperativo para que o tratamento profilático com aspirina possa ser iniciado, idealmente, entre a 12.ª e a 16.ª semanas de gestação. Infelizmente, a metodologia e os critérios utilizados para o diagnóstico de hipertensão em mulheres grávidas não servem este propósito porque não têm em conta: que os limiares de normalidade da pressão arterial (PA) das mulheres são inferiores aos dos homens; que a PA nas grávidas é inferior à das mulheres não grávidas da mesma idade; e que os limiares de normalidade variam a cada semana de gestação, porque a PA baixa gradualmente até à 20.ª semana numa gravidez normal. A partir dessa semana, a PA eleva-se até atingir valores próximos dos basais.  

Rastreio simples e eficaz, disponível em farmácias
De todos os modelos de rastreio disponíveis, baseados em fatores de risco materno, biomarcadores ou a combinação de ambos, a medição ambulatória da pressão arterial de 48 horas, que utiliza um software específico para as grávidas (MAPA obstétrica), tem a mais elevada sensibilidade e especificidade para a identificação precoce das grávidas em risco de hipertensão gestacional, pré-eclampsia e complicações fetais como o parto prematuro, restrição do crescimento fetal e morte fetal. A MAPA obstétrica tem uma sensibilidade de 93% no primeiro trimestre de gestação e de 99% no terceiro.

A MAPA obstétrica é fácil de utilizar, uma vez que as decisões se baseiam no valor de um índice (índice hiperbárico) que permite a estratificação do risco da grávida em baixo, se inferior a 15, e elevado, se igual ou superior a 15.

De acordo com as recomendações nacionais e internacionais, as grávidas de risco elevado têm indicação para iniciar precocemente tratamento com aspirina (150 mg ao deitar), idealmente à 12.ª semana, para prevenção de complicações.

A MAPA obstétrica está disponível nas farmácias equipadas com unidades de apoio aos hipertensos (pesquisar farmácias com UAH, em www.uah.pt).

Bibliografia recomendada
Ayala DE, Hermida RC. Ambulatory blood pressure monitoring for the early identification of hypertension in pregnancy. Chronobiol Int. 2013 Mar;30(1-2):233-59. doi: 10.3109/07420528.2012.714687. Epub 2012 Sep 24. PMID: 23006127.

Espeche WG, Salazar MR. Ambulatory Blood Pressure Monitoring for Diagnosis and Management of Hypertension in Pregnant Women. Diagnostics (Basel). 2023 Apr 18;13(8):1457. doi: 10.3390/diagnostics13081457. PMID: 37189558; PMCID: PMC10137869.

Otero González A, Uribe Moya S, Arenas Moncaleano IG, Borrajo Prol MP, García García MJ, López Sánchez L. Hyperbaric index in the primary prevention of hypertensive complications in high-risk pregnancy. Nefrologia. 2015 Nov-Dec;35(6):572-7. English, Spanish. doi: 10.1016/j.nefro.2015.10.001. Epub 2015 Nov 5. PMID: 26547790.
 
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Correia A, Vidal S, Alexandra C, Leitão F. Value of ambulatory blood pressure measure in pregnancy hypertension. Clin J Obstet Gynecol. 2018; 1: 067-072. https://doi.org/10.29328/journal.cjog.1001012 ACOG Committee Opinion No. 743: Low-Dose Aspirin Use During Pregnancy. Obstet Gynecol. 2018 Jul;132(1):e44-e52. doi: 10.1097/AOG.0000000000002708. PMID: 29939940.
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