Política de utilização de Cookies em Revista Saúda Este website utiliza cookies que asseguram funcionalidades para uma melhor navegação.
Ao continuar a navegar, está a concordar com a utilização de cookies e com os novos termos e condições de privacidade.
Aceitar
29 fevereiro 2024
Texto de Jaime Pina (médico pneumologista, Fundação Portuguesa do Pulmão) Texto de Jaime Pina (médico pneumologista, Fundação Portuguesa do Pulmão)

Com ou sem apneia

Noites mal dormidas, dias mal passados.​

Tags
Os distúrbios do sono têm vindo a adquirir uma predominância crescente, com destaque para a síndrome de apneia obstrutiva do sono, doença que afeta cerca de 5% das pessoas. Carateriza-se por paragens da respiração durante o sono (apneias), geralmente associadas a roncopatia (ressonar). É causada pelo colapso e a obstrução da via aérea superior, que impede a passagem do ar, passando o problema a ter significado clínico quando as paragens respiratórias duram mais de dez segundos e sucedem mais de cinco vezes por hora.

Esta doença tem como principal fator de risco o excesso de peso e a obesidade (há mais de 700 milhões de obesos no mundo), mas outras causas podem estar presentes: problemas da via aérea superior (amígdalas e adenoides volumosos, sobretudo nas crianças), causas anatómicas (pessoas com pescoço curto, queixo pequeno ou mandíbula recuada), idade (existem muitos idosos que ressonam) ou o consumo de tabaco, álcool e certos medicamentos (soníferos, sedativos e relaxantes musculares).
 
A maioria dos doentes não se apercebe do problema. Porém, alguns sintomas devem fazer suspeitar da sua existência: dor de cabeça matinal, excesso de sono durante o dia, despertares recorrentes, episódios de sensação de asfixia noturna, sono não reparador, fadiga diurna e diminuição da concentração. Estas caraterísticas, num doente com os fatores de risco acima indicados, são fortemente sugestivas da doença e devem levar à respetiva investigação.

O diagnóstico faz-se através do estudo poli- gráfico do sono noturno que permite saber se há roncopatia, conta o número de apneias em cada hora, a quantidade de vezes em que o oxigénio baixa no sangue e se há, ou não, uma situação associada: as pernas inquietas, sintoma frequente.

As apneias noturnas originam um leque variado de alterações que ultrapassam a esfera respiratória. Há deficiente oxigenação do sangue com reflexos em todo o organismo, desde o défice de memória até à impotência sexual. A hiper sonolência diurna afeta a vida social, familiar e profissional, para além de estar na origem de acidentes de viação: estes doentes têm, em média, sete vezes mais acidentes de viação. Ao nível do aparelho cardiovascular, verifica-se subida da tensão arterial e aparecimento de arritmias que podem levar a acidentes isqué- micos, por vezes fatais. Os doentes com apneia do sono têm maior probabilidade de morte súbita enquanto dormem.
A perda de peso e a eliminação da ingestão de álcool e sedativos são as primeiras medidas a implementar. Dormir de lado ou com a cabeceira elevada é outra medida que ajuda. É obrigatório tratar uma rinite ou uma sinusite, caso existam. Importante, também, é o aconselhamento aos condutores de veículos.
Para além destas medidas gerais, por vezes há que tratar outras doenças que estão na base do problema, como por exemplo alterações anatómicas craniofaciais (com uma goteira de avanço mandibular ou cirurgia), da faringe (extração dos adenoides e das amígdalas) ou um eventual défice de funcionamento da glândula tiroideia.

Porém, quando o problema se torna mais grave, o tratamento é feito através de um pequeno ventilador (CPAP) que, por intermédio de uma máscara nasal ou facial, introduz ar sob pressão nas vias aéreas, impedindo assim o seu colapso. O sono melhora, as apneias diminuem, reduz-se a sonolência diurna, melhora a performance da condução de veículos e melhoram a memória, o humor e os parâmetros cardiovasculares.

A apneia do sono é um importante problema de saúde que requer argúcia no diagnóstico e apoio no tratamento. A presença dos sinto- mas indicados é fortemente orientadora e deve levar o doente a procurar apoio médico antes que seja tarde, por exemplo antes de um acidente cardiovascular ou de viação.​