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15 dezembro 2016
Texto de Carina Machado e Maria Jorge Costa Texto de Carina Machado e Maria Jorge Costa Fotografia de Pedro Loureiro Fotografia de Pedro Loureiro

A ilusão das aparências

​​​​​​​​​​​Eugénio Fonseca fala dos preconceitos sobre a pobreza e de como aprendeu a ver além dos estereótipos.  

​​​​​​​​​​«Tenho encontrado em pobres um sentido de dignidade muito mais coerente do que em gente com responsabilidades e que anda aí nas revistas».

Em Portugal, confunde-se dignidade com estatuto social. «É um erro crasso», aponta Eugénio Fonseca, presidente da Cáritas Portuguesa, uma das entidades fundadoras da Associação Dignitude. 

Contudo, conseguir reconhecer esse sentido foi um processo, confessa, e a grande responsável foi «uma jovem mulher, que eu nunca mais esquecerei». 

Eugénio Fonseca conta que um dia foi procurado por essa mulher jovem, de boa aparência, bem maquilhada, bem penteada, de roupa cuidada. «Repare: não ia suja, não ia mal vestida, não cheirava mal. Foi muito educada», sublinha. «Achamos que os pobres têm de ser porcos, feios e maus. Se a pessoa tratar bem de si, já não é pobre. Achamos que só é pobre quem quer, porque trabalho não falta... Estamos cheios de preconceitos e estereótipos». 

A mulher buscava ajuda: tinha ficado desempregada, o marido também e tinham uma bebé de seis meses. Ainda recebia o subsídio de maternidade, mas não era suficiente: a filha precisava de um suplemento alimentar e ela não tinha dinheiro para o comprar. Eugénio prometeu-lhe auxílio. Porém, em troca, ela teria de começar a pensar no dinheiro que gastava em pinturas, eventualmente no cabeleireiro... «Em suma, comecei logo a dar lições de moral, a ditar o modo como ela teria de viver para merecer a ajuda que eu lhe ia dar». 

Ouvindo aquilo, a mulher levanta-se repentinamente, «e olhando-me de cima para baixo, a chorar, diz-me: “Já não quero nada!”. Tentei acalmá-la, dizer-lhe que a ajudava, mas ela concluiu:  

“Ao menos deixe-me parecer aquilo que já não sou”». [pausa] «Aquela mulher ainda tinha respeito por si mesma!» [pausa] «Aquela mulher foi para mim um exemplo extraordinário. Nunca mais julguei ninguém». ​

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