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29 junho 2023
Texto de Irina Fernandes Texto de Irina Fernandes Fotografia de Pedro Loureiro Fotografia de Pedro Loureiro Vídeo de Hugo Costa Vídeo de Hugo Costa

«O futebol nasceu comigo»

​​​​​​​​​Dos primeiros pontapés na bola ao sucesso em Portugal e no estrangeiro: Jéssica Silva, a menina-mulher que chegou ao topo do futebol.

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​Estamos em campo na Cidade do Futebol, em Oeiras. Vamos a jogo?
Vamos! [Risos]

Para si, um golo perfeito é…
Aquele que dá vitórias!

Técnica, tática ou físico, qual é o seu maior trunfo? 
Diria que é o físico, pois trata-se de uma capacidade física que tenho: a minha velocidade.

Homens ou mulheres, quem tem, afinal, a melhor técnica?
Tanto os homens como as mulheres! Todos podemos ser bons, não tem nada a ver com o género.


Aos 28 anos, Jéssica Silva é uma futebolista de talento reconhecido em Portugal e no estrangeiro

Pela primeira vez, a seleção portuguesa de futebol feminino vai disputar a fase final de um Campeonato do Mundo. Já sente os nervos?
Sim, sinto alguma ansiedade. É inédito, trata-se de algo para o qual trabalhámos bastante e que conseguimos conquistar.

Que significado tem, para si, fazer parte desta competição?
É especial. É um momento histórico na história do futebol. A nossa seleção tem feito coisas brilhantes. Fazer parte deste leque de jogadoras é importante para mim. É mais um sonho reali- zado, e um objetivo concretizado.

Quando percebeu que o futebol iria marcar a sua vida?
O futebol já nasceu comigo, e acredito que me foi passado por um gene do meu falecido pai, que foi jogador de futebol, mas, infelizmente, muito cedo, por causa de um acidente, teve de deixar a modalidade.

Já em pequenina preferia a bola às bonecas… 
Desde bebé que chutava em tudo! Tirava laranjas, ainda  verdes,  das  árvores  e  arrancava a cabeça às bonecas. Sempre tive muito contacto com a bola ou, pelo menos, com algo esférico. Mais tarde, aos 15 anos, tive a oportunidade de me inscrever numa equipa de futebol e foi aí que as coisas começaram a ter alguma seriedade...


«Apaixona-me jogar, ter a bola nos pés, correr, marcar golos»

O que é mais a apaixona quando está em campo? 
Apaixona-me jogar, ter a bola nos pés, correr, marcar golos. Jogar futebol é a ação que mais alegria me dá.

Estreou-se como jogadora em Portugal brilhando, posteriormente, em clubes estrangeiros na Suécia, em Espanha, França e nos EUA. Como explica o sucesso até aqui conquistado?
Foi uma longa caminhada. Foi, sem dúvida, um percurso cheio de obstáculos – sobretudo por causa de lesões – e, por isso, feito com muita teimosia, perseverança, vontade e muito traba- lho. Sei que, desde nova, tenho alguma aptidão para jogar futebol, mas se não tivesse trabalhado e acreditado muito em mim, não tinha conquistado aquilo que conquistei até hoje.

Sempre foi uma lutadora…
Sim. Tenho mesmo de me assumir como uma guerreira e lutadora porque não houve nenhum momento da minha vida em que me senti confortável. Foi uma luta diária, sempre à procura do melhor de mim, de crescer e não estar acomodada.

A luta foi mais difícil por ser mulher?
Sim, sem dúvida. Quando cheguei ao futebol ainda joguei num campo pelado, e tinha muitas colegas que saíam do emprego às 20h para treinar às 21h e acabavam o treino às 23h. No dia a seguir tinham de acordar cedo para ir trabalhar. Sei que ainda é a realidade de algumas jogadoras, mas as coisas estão a evoluir, o futebol feminino está a crescer.


Para além de jogar ao serviço da seleção portuguesa de futebol feminino, Jéssica é jogadora no Sport Lisboa e Benfica desde janeiro de 2022

Como foi depois ver o mundo reconhecer o seu talento?
O reconhecimento é relativo. Diria que nos dife- rentes balneários por onde passei, consegui deixar uma marca. Ver as minhas colegas a reconhecerem-me como uma jogadora diferenciada e como boa pessoa foi o maior reconhecimento.
 
É reconhecida na rua? Gosta?
Claro que gosto, agora já não é só o reconhecimento público da Jéssica, mas o de jogadora de futebol. Antes olhavam para mim e diziam-me:
«Tens um corpo atlético. O que praticas?». Quando revelava as pessoas reagiam: «Futeboool?!!». Esta é uma forma de as pessoas perceberem que há futebol masculino, mas também feminino. 

No que respeita à saúde, que cuidados tem ao nível da alimentação?
Costumo dizer que um atleta saudável não tem limitações. Se me apetecer uma chamuça ou uma coxinha de frango, eu como. Há quem diga:
«Jéssica, vocês não podem comer doces ou salgados». Podemos, claro, que podemos! Nós também temos os nossos caprichos. Mas, claro, é importante comer de forma saudável, e saber o que se está a comer.


«Gosto de tocar», confidencia a futebolista com a sua guitarra

Tem algum guilty pleasure?
Tenho alguns [risos]! Num dia de folga, se puder comer uma pizza e beber um copo de vinho bebo, mas não dá para fazer isso muitas vezes.

E o que faz para se manter em equilíbrio? Quais são as suas fontes de inspiração?
Para além de gostar de estar com a minha família e os meus amigos, gosto de muito de ir à praia e fazer o meu mergulho terapêutico.

Terapêutico?
Sim, vou à praia durante todo o ano e, sobretudo, vou mergulhar e nadar quando sinto que o meu corpo pede algum descanso. Estar em contacto com o mar é uma fonte de energia para me reequilibrar. Outra faceta importante é nutrir-me com as rela- ções de amigos e família. É fundamental para que, dentro de campo, tenha o maior sucesso possível.

E no que respeita à saúde mental, usufrui de apoio de psicologia? Através da Federação Portuguesa de Futebol?
Naturalmente que se eu precisar, ou qualquer outro atleta  preci- sar, a federação tem esse apoio, do mesmo modo que os clubes. Eu, particularmente, não trabalho com o psicólogo do clube. Faço esse investimento à parte e tenho dois terapeutas que trabalham comigo.

É uma mais-valia?
Claro que sim. Às vezes nós, atletas, questionamo-nos sobre algumas coisas às quais não conseguimos responder e esse suporte ajuda a encontrar respostas. Este investimento é muito importante para conseguirmos manter uma vida equilibrada mentalmente e fisicamente. Não descarto esta ajuda extra, é um recurso que me alavanca para a minha vida profissional.


Natural de Vila Nova de Milfontes, Jéssica Silva nasceu a 11 de dezembro de 1994. Tem 170 cm de altura​

É jogadora profissional. Como lida com o stresse?
No campo profissional, considero-me uma pessoa pragmática, assertiva, ainda que sempre com emoções à flor da pele. Tento responder com serenidade aos problemas e aos obstáculos que vão aparecendo.

Bola nos pés e batom nos lábios… É assim?
[risos] Sim, é verdade. No meu caso uso mais gloss ou vaselina nos lábios e faço risco, eyeliner, na linha de água do olho.

É vaidosa?
Todas somos, não é?

 

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Existe algum clube onde, no futuro, gostaria ainda de vir a jogar?
Não. Sou muito feliz no Benfica. Tive a oportunidade de jogar em grandes clubes. Agora sinto-me em casa. Estive seis anos lá fora… Os grandes palcos agora vão ser no Mundial a jogar contra grandes equipas. O meu objetivo no futebol é continuar a desfrutar desta minha paixão e continuar a conquistar os objetivos da equipa, quer no Benfica, quer na seleção nacio nal. Estar com a seleção no Mundial, neste momento, é um dos meus maiores sonhos, que se tornou realidade. Agora, é mostrar aquilo de que somos feitas, e que venha de lá o Mundial!​
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