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5 dezembro 2018
Texto de Irina Fernandes Texto de Irina Fernandes Fotografia de Alexandre Vaz Fotografia de Alexandre Vaz

«Somos um caso de sucesso internacional porque Odette Ferreira existiu»

​​Professora homenageada nos 25 anos do programa de troca de seringas.​

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Um total de 57,5 milhões de agulhas e seringas, para além de 30 milhões de preservativos, foram distribuídos ao longo de 25 anos através do programa Diz Não a Uma Seringa em Segunda Mão.​



Os números «falam por si» e são o reflexo do «sucesso» deste programa de saúde pública implementado em Portugal em 1993, salientou a secretária de Estado da Saúde, Raquel Duarte, na cerimónia evocativa do quarto de século da existência do Programa de Troca de Seringas (PTS).

«Esta iniciativa teve um enorme sucesso. Contribuiu e ainda hoje contribui para reforçar a posição de Portugal como um país de referência e boas práticas na adopção de políticas e abordagens aos comportamentos aditivos e de dependências», afirmou.

Presente na cerimónia, que decorreu na Estufa Fria, em Lisboa, a responsável governamental destacou ainda a «enorme relevância para a redução da prevalência do VIH», lembrando que o PTS veio ajudar a «sensibilizar a população, desmistificando a carga mais negativa associada à toxicodependência e promovendo um novo olhar sobre esta problemática».

Resultante de uma parceria entre a Associação Nacional das Farmácias (ANF) e a Comissão Nacional de Luta Contra a Sida (CNLCS), o programa permitiu que, entre Outubro de 1993 e Setembro de 2018, fossem distribuídos 57.488.517 de agulhas e seringas, assim como 30.396.489 de preservativos masculinos, informou a Direcção-Geral da Saúde (DGS), a propósito dos 25 anos do programa.

Segundo a DGS, verificou-se nos últimos anos uma significativa redução do número de novos casos de infecção por VIH diagnosticados entre as pessoas que utilizam drogas injectáveis, tendo-se passado «de 57,3% em 1998 para 1,8% em 2017».



«2018 é um ano histórico para assinalar os 25 anos de existência do programa. Muito obrigada, especialmente à Associação Nacional das Farmácias, que colaborou com a sua rede neste problema. Sem elas não teria havido programa e todos recordamos quão difícil foi este caminho», declarou a directora-geral da Saúde, Graça Freitas.  

Fundadora do programa e pioneira na investigação e no combate à doença em Portugal, a Professora Odette Ferreira – que fez parte da equipa que identificou, pela primeira vez, o VIH do tipo 2 em doentes oriundos da Guiné-Bissau – foi alvo de uma sentida homenagem.

O legado deixado, bem como o carácter ético e humanístico da farmacêutica, foram evocados com emoção. Um dos momentos altos da homenagem foi a apresentação do vídeo “A Última Aula de Odette Ferreira”, que pretendeu distinguir a sua obra enquanto mulher, profissional farmacêutica, investigadora e cientista.



Para a bastonária da Ordem dos Farmacêuticos, «Passados 25 anos, e muitos momentos difíceis, complexos e intensos, os resultados mostram como a coragem e a determinação estimulam acontecimentos que ficam na história». «Hoje sentindo-a aqui, entre nós, o essencial não é falar do que está feito mas do muito que ainda há por fazer. Conhecendo-a, sabemos que o seu tempo de vida era dedicado a trabalhar para garantir a dignidade, o respeito e os direitos dos mais vulneráveis», afirmou Ana Paula Martins.


«O que podemos fazer para honrar o que a Professora Odette fez é continuar, cada um de nós, a cumprir a missão que ela nos deixou», declarou o presidente da ANF, Paulo Cleto Duarte, lembrando o espírito proactivo de quem «transformou realmente a forma como o VIH-sida é tratado em Portugal, tornando-nos um caso de sucesso a nível internacional porque ela existiu».
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Visivelmente emocionada enquanto discursava, Matilde de Castro, directora da Faculdade de Farmácia da Universidade de Lisboa, onde a Professora Odette Ferreira leccionou e foi professora catedrática jubilada, fez referência ao conto infantil “A Menina do Mar”, de Sophia de Mello Breyner, para evocar o desaparecimento da farmacêutica, que faleceu no passado mês de Outubro, aos 93 anos. «Faço aqui um profundo reconhecimento pelo que fez pela universidade e pelo país. Como escreveu Sophia de Mello Breyner, «A saudade é a tristeza que fica em nós quando as coisas de que gostamos se vão embora. E nós temos muitas saudades suas».

 

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