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2 maio 2024
Texto de Telma Rocheta (WL Partners) Texto de Telma Rocheta (WL Partners) Fotografia de Pedro Loureiro Fotografia de Pedro Loureiro Vídeo de Duarte Almeida Vídeo de Duarte Almeida

«Ser mãe é uma luz, o nome da minha filha»

​​​​Depois dos Deolinda, Ana Bacalhau foi mãe e reinventou-se, até na imagem.​

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O último single que lançou aborda a causa feminista. Continua a ser atual?
É importante explicar às novas gerações que muitas coisas não eram permitidas às mulheres antes do 25 de abril. Não podiam viajar sem autorização do marido ou do pai. Não podiam ter certas profissões. As mulheres casadas precisavam de autorização para votar, abrir contas bancárias, comprar contracetivos... Esta canção escrita por A Garota Não fala disso, de que nada está garantido.

Gosta de intervir socialmente?
A música deve ser uma expressão do que se é, e eu nasci um pouco contestatária. No meio em que circulo, facilmente se perde a noção do quotidiano da maioria das pessoas, mas tento não me isolar. As próximas gerações não vão ter uma vida fácil, seja pelas alterações climáticas ou mesmo pelo acesso a um emprego com rendimento digno.

Maio é o mês do Dia da Mãe. É especial para si? 
A minha filha nasceu a 3 de maio, e o Dia da Mãe é no primeiro domingo do mês. Ainda por cima, este ano a festa de anos dela é no próprio Dia da Mãe. É uma celebração verdadeira e para mim é ainda mais especial.

Foi mãe tardiamente. O que mudou na sua vida? 
Só vivendo é que se percebe. Põe muito à prova a nossa saúde mental e reorganiza-nos a vida. E nós, racionalmente, compreendemos isso antes de sermos pais ou mães, mas, quando acontece, é diferente. Já tentava ser mãe desde os 35 anos. Só aconteceu dos 38 para os 39. É de facto uma "luz", que é como se chama a minha filha. Ajudou-me a crescer, a resolver algumas coisas. Não que fosse esse o objetivo. Não se deve ter filhos para isso. Enquanto estamos a cuidar daquele ser há um abanão de tal forma intenso que temos de nos segurar e fazer um trabalho em nós. Eu fiz esse trabalho. A maternidade foi muito importante para mim, para este momento de serenidade em que estou. A Luz ensina-me muitas coisas.


«Sinto um grande gozo em estar por minha conta. Já nem tenho medo do ridículo em palco. Não me levo demasiado a sério»

O ano de 2017 foi de mudança...
Os Deolinda entraram em pausa, fui mãe, quase a entrar nos 40 anos, e lancei o primeiro disco a solo quando a minha filha tinha quatro meses. Foi doloroso, mas tive muitas epifanias e amadureci imenso. Precisava disto como pessoa. A princípio tive muito medo, mas agora sinto um grande gozo em estar por minha conta. Já nem tenho medo do ridículo em palco. Não me levo demasiado a sério.

Foi um processo de transformação interior e também exterior.
O mais visível foi a cor do cabelo. As mulheres quando mudam o cabelo é sinal de transformação, também por dentro. Eu sou muitas coisas. Tenho curiosidade pela vida, uma constante necessidade de aprender. No entanto, a essência mantém-se. Tenho vindo a esculpir-me. O que está aqui agora é a minha estátua, não tirava nem punha mais nada. Sinto que sou eu. Há uma serenidade que a idade trouxe, embora mantenha a inquietação e um lado de gaiata. O amadurecimento trouxe-me a um lugar de não ligar muito ao que os outros acham de mim.

Sofreu bullying na infância. Como é que o ultrapassou?
Foi na primária. Por causa do apelido Bacalhau e por ser uma criança gorda. Tornei-me mega introvertida, tinha medo de falar com estranhos, atender o telefone, expor-me. Na década de 1980 ninguém falava em bullying. Não havia sequer uma palavra, não havia vocábulo para aquilo. Os meninos gozavam comigo, numa marcação cerrada, constante. Uma pessoa fica tão insegura que se acha culpada. Fui arranjando estratégias de fuga, por exemplo na escrita. Mais tarde, quando já não era vítima de bullying, a música foi um refúgio contra os próprios demónios de não ter valor, que tinham ficado a ecoar.


A escrita foi uma estratégia de fuga ao bullying. «Cantar é terapêutico»

Como foi o percurso de adolescente até ser a voz dos Deolinda?
A música sempre foi importante para mim, mas aos 15 anos, quando aprendi a tocar guitarra, percebi que tinha voz para cantar. Desde miúda quis ser professora de português e inglês, gostava de livros e de escrever. Escrever é um processo lindo a que espero voltar. Cantar é terapêutico. Eu concertava-me ali, naquelas canções. Faz-me feliz.

Não houve pressões familiares?
Os meus pais queriam muito que eu tivesse um emprego seguro. Fiz a Faculdade de Letras e adorei o curso, aprendi a pensar criticamente. Ainda tenho uma relação umbilical com a faculdade, fiz lá grandes amigos. Durante alguns anos tive empregos a trabalhar como assistente administrativa em Oeiras e na Ama- dora, em paralelo com as bandas e os concertos. Era técnica no arquivo contemporâneo do Ministério das Finanças quando percebi, aos 30 anos, que conseguia concretizar o sonho de viver da música.

O que pesou na decisão?
Tínhamos cento e tal concertos, com salas cheias, em que as pessoas sabiam as músicas todas de cor. Eu só tinha 25 dias de férias por ano. A certa altura percebi que os músicos eram a minha tribo.

O que faz para cuidar da imagem?
É essencial ter um bom corte de cabelo e tratá-lo com os produtos adequados. Nos cuidados de pele uso cremes com ácido hialurónico para hidratar, com niacinamida, séruns de vitamina C, e aplico retinol. Outros fatores que ajudam é nunca ter bebido álcool nem tomado drogas. Não fumo e nem sequer bebo café. Os meus pais também não me deixavam sair à noite em adolescente, acabei por não andar em ambientes com fumo. Tudo isto faz com que esteja mais preservada aos 45 anos. A genética também ajuda. A minha avó quase não tinha rugas. Faço ioga facial, para os músculos da cara não ficarem flácidos, e sinto que resulta.


Começou a levar a sério o cuidado, e a atenção aos detalhes na forma de se apresentar

O seu visual mudou muito desde os Deolinda. Quem define o seu guarda-roupa?
As pessoas associaram a Ana Bacalhau a uma "boneca". A personagem dos Deolinda tinha um bocadinho de mim, mas eu sou mais coisas. Estou a aprender que a forma como nos apresentamos é muito importante, comecei a levar isso bastante a sério. Tento que cada período musical, artístico e pessoal se reflita nas roupas. Compro muita coisa online, nos sites mais conhecidos. Não tenho problema nenhum se houver outro artista com a mesma roupa. Em palco corro muito e sei o que resulta. Emagreci desde os primeiros tempos e as roupas começaram a assentar de outra maneira, fui tendo mais confiança. Comecei a gostar mais de mim, e a querer outros cortes.

Que cuidados de saúde tem?
Tenho em dia todas as análises e consultas de rotina, incluindo de ginecologia. Fiz 45 anos em novembro e essa é a idade indicada para fazer uma colonoscopia, portanto fiz. Não tenho medo de médicos. Encontrei especialistas em várias áreas com quem tenho uma relação de confiança. Tenho uma alimentação cuidada. Faço pilates, o que tem sido uma grande ajuda, porque em palco corro quilómetros.

Vai a alguma farmácia em especial?
Vou a uma perto de casa. As pessoas conhecem o meu histórico clínico e o da minha família. Tenho amigas farmacêuticas e sei bem a importância do seu papel: colmatam lacunas de grande solidão de muita gente, para além do aconselhamento farmacêutico e da promoção de estilos de vida saudável.

Como são os seus dias quando não tem a agenda cheia?
Levanto-me bem cedinho e levo a Luz à escola, a pé. Mas há dias em que não saio. Sempre adorei o meu ninho. Passo horas perdida nos meus pensamentos. Adoro o ócio, palavra que as pessoas já não usam. Posso ler, fazer um puzzle, colorir livros. Às vezes, a brincar temos as ideias mais criativas.

 

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