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28 setembro 2023
Texto de Sandra Costa Texto de Sandra Costa Fotografia de Ricardo Castelo Fotografia de Ricardo Castelo

São Gonçalo, médico de clínica geral e santo casamenteiro

​​​​​O santo continua a atrair peregrinos a Amarante, que visitam o seu túmulo na igreja. 

São Gonçalo tem fama de santo casamenteiro. Conta-se que quando o frade Gonçalo chegou a Amarante encontrou por ali muitas pessoas «a viver em pecado», face aos mandamentos da igreja católica, tendo-se prestado a realizar os matrimónios necessários. Também é considerado o «arquiteto da ponte» que atravessa o tormentoso rio Tâmega, e que ganhou o seu nome. «Era um frade que se preocupava muito com o sofrimento das pessoas, acudia a todos, e vivia preocupado com os perigos que as pessoas tinham ao fazer a travessia da ponte romana que lá existia, em ruínas», explica Laura Brandão, amarantina de gema, que desde 1989 gere a Farmácia da Ponte. 

A ponte medieval, cujos trabalhos coordenou, durou 500 anos, até se desmoronar numa derrocada provocada por uma cheia do rio. A atual, construída no século XVIII, mantém o nome do homem que esteve na origem da fundação da cidade. Laura conta que, durante as obras da ponte, muitos milagres foram atribuídos a São Gonçalo. «Diz-se que quando os trabalhadores tinham fome ele convocava e aparecia um bom repasto de peixes do rio, quando tinham sede ele batia as mãos e brotava água das pedras. Há uma lenda engraçada que conta que, um dia, ele pediu a uns agricultores uma junta de bois para transportar o granito da serra do Marão para a construção da ponte, ao que responderam que de bom grado emprestariam, mas que os bois eram bravos e não serviam para o trabalho agrícola. Ele foi junto a uma senhora que estava a fiar, pediu um fio de lã e conseguiu fazer a travessia com os bois juntos por um fio de lã», ri-se a farmacêutica. 


O culto a São Gonçalo mantém-se até hoje. O túmulo, alojado na igreja, é dos locais mais visitados​​

Quando morreu, no século XIII, São Gonçalo foi sepultado na sua ermida e de todo o país começaram a acorrer pessoas para agradecer as graças concedidas. A peregrinação era tanta que, no século XVI, o rei D. João III e sua esposa decidiram mandar edificar uma igreja para atribuir aos frades dominicanos, ordem da qual são Gonçalo era professo. Assim nasce a igreja de São Gonçalo e o convento com o mesmo nome, em torno dos quais cresce Amarante. «A igreja representa um marco de fundação da cidade e é um espaço de peregrinação nacional», afirma Rosário Machado, responsável pelo pelouro da cultura do município. 

O culto a São Gonçalo mantém-se até hoje. As romarias ocorrem sobretudo a 10 de janeiro, data do seu falecimento, e no primeiro fim de semana de junho, quando se celebram as festas da cidade. Saem andores pela rua, passa a procissão, atiram-se cravos da varanda do rei, para além da missa que congrega os fiéis. Turistas e peregrinos, sobretudo do Norte, vêm visitar o túmulo do santo, alojado na igreja. «São Gonçalo é o santo mais importante do Norte», avança Sérgio Pinto, secretário paroquial. Há muito transpôs fronteiras: através da ordem dominicana, missionária por natureza, o culto atravessou o Atlântico e hoje há três cidades brasileiras chamadas São Gonçalo de Amarante. 



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