Aos 18 anos, terminado o ensino secundário, Francisco Rodrigues realizou o sonho de fazer uma pausa nos estudos e viajar sozinho pelo mundo. Depois de dividir-se entre a escola e trabalhos na restauração para conseguir o dinheiro necessário para a viagem – o projeto «foi todo, todo, financiado pelo trabalho do Francisco», sublinha o pai, João Rodrigues –, embarcou na aventura tão esperada.
Percorreu diversos países, nomeadamente na Ásia, e regressou à Europa para continuar o percurso. Inesperadamente, no dia 24 de junho de 2023, um acidente virou a sua vida do avesso. Na Eslovénia, ao mergulhar num lago, embateu numa pedra e sofreu uma lesão na medula espinal. Apercebeu-se ainda na água de que não estava a conseguir mexer-se. Pouco depois, no hospital, recebeu a cruel notícia de que tinha ficado tetraplégico.
Francisco no Japão, durante a sua viagem pelo mundo
Operado de urgência na Eslovénia, para estabilizar a coluna, começou aí o período mais complicado da sua vida. «A cirurgia foi mal feita», diz Francisco, e deixou sequelas difíceis de curar, a que se somaram complexas consequências inerentes à lesão na medula. Rapidamente encaminhado para Portugal, uma nova cirurgia corrigiu os erros da original, mas a recuperação não foi fácil nem rápida.
Quem o vê não imagina que só faz fisioterapia há sete meses. Está sentado ao computador, a estudar – está no primeiro ano de Engenharia Física, e quando sai da mesa entretém-se a fazer “cavalinhos”, isto é, a empinar a cadeira de rodas, ficando apenas com as duas rodas traseiras no chão – treino essencial para andar mais facilmente com a cadeira.
A lesão na medula é incompleta, o que lhe permite mexer os braços
Apesar da tetraplegia, paralisia que na forma mais grave atinge os membros superiores e os inferiores, a lesão de Francisco é incompleta, ou seja, «a medula não foi completamente quebrada». Simplificando, em vez de um corte completo, ainda há informação a passar entre o seu cérebro e os membros, o que lhe permite mexer os braços e, por exemplo, impulsionar a cadeira para se movimentar, ainda que em distâncias relativamente curtas. «Tenho pouquinha força», diz, «só sinto 60% dos braços». Se consegue «ativar bem» o ombro e os bíceps, o mesmo já não acontece com os tríceps, explica. Também não consegue agarrar objetos. Se o vemos a escrever à mão é por conta de técnicas que adquire na fisioterapia, de truques que vai aprendendo com uma amiga que, entretanto, conheceu e que está na mesma situação há dez anos, ou do que vai tendo conhecimento através da Internet.
A fisioterapia é uma componente fundamental da sua vida, cinco dias por semana, complementada com trabalho em casa. Levanta pesos presos aos pulsos, puxa elásticos e usa uma espécie de marquesa, mas mais larga, para treinar movimentos de deslocação. «Já comecei a conseguir deslocar-me para a frente e para trás em cima de superfícies, e a fazer transferências da cadeira para a cama ou para o sofá, com ajuda», conta. «Esta marquesa serve para treinar esses movimentos, ainda em fase muito embrionária», diz. Ao ouvir isto, João, o pai, intervém: «Muito rápido evoluíste tu!». Este tipo de situação, acrescenta, «nunca é no tempo que a gente quer, é no que se pode ir, sempre muito devagar. E o Francisco tem tido a capacidade de evoluir muito rapidamente», sublinha o pai.
Além do estudo, online e presencialmente na faculdade, treina cerca de quatro horas por dia. Tanto no caso da sua lesão, quanto no da sua amiga, também tetraplégica, «não era suposto mexermo-nos tanto, o que se pode atribuir ao facto de sermos novos». Francisco fez 20 anos em outubro, a amiga tem 22. Explica que já deveria ter atingido uma fase de estagnação, mas continua a progredir. «E não planeio abrandar o ritmo enquanto [a estagnação] não chegar».
Não gosta de definir objetivos, nem de se agarrar à esperança. «Se uma pessoa tem um objetivo, fica obcecada com ele. Se não cumprir, fica chateada; se o cumprir, fica feliz. No meu caso, é impossível dizer o que se vai ganhar ou não, por isso fixar um objetivo seria mais um sacrifício do que propriamente uma meta de "quero chegar a este ponto"». A decisão que tomou é «continuar a treinar e a ser consistente; o que vier é ganho».
Sendo uma lesão incompleta, é nestes casos que «há mais espaço para melhoria, se for trabalhada a parte sensorial». De forma simples, explica que existem dois tipos de fisioterapia. A intensiva, disponível em Portugal, e que consiste em «estimular os músculos ativos e tentar trabalhá-los ao máximo», e a «sensorial, para estimular os músculos ainda não ativos». É muito difícil fazer esta última em Portugal, «por isso também queremos apostar nos tratamentos no estrangeiro».
É através da simulação dos movimentos e da sua associação mental a comportamentos que a fisioterapia sensorial procura "despertar" os músculos "adormecidos". Por exemplo, em Itália, para onde o filho e o pai, farmacêutico, querem ir. «Há muito trabalho com exoesqueletos [esqueletos exteriores ao corpo], que se colocam e simulam, por exemplo, a marcha». Além do gigantesco peso emocional e físico de viver com tetraplegia, todos os equipamentos são muito dispendiosos. O Estado ajuda, mas demora. Para se ter uma ideia, a almofada que Francisco usa na cadeira, para evitar deformações na coluna vertebral e escaras, custou 700 euros. Também foi preciso fazer obras em casa. Para ajudar a suportar estas despesas avultadas e não deixar passar a oportunidade de fazer a fisioterapia sensorial, Francisco está a angariar fundos.
Quem quiser, pode ajudar através de:
MB WAY: telefone n.º +351 916 019 918
IBAN: PT50 0035 0326 00006790730 30 BIC SWIFT: CGDIPTPL
Conta “One for all and all for Francisco", na plataforma GoFundMe.