Ana Bacalhau já tinha «dado voz» a outras bandas quando se tornou conhecida como a cantora dos “Deolinda”. O grupo, nascido em 2006, teve um sucesso rápido e o tema “Parva que Sou” tornou-se o hino de uma geração com estudos, mas destinada a uma vida de precariedade. Foi com os “Deolinda” que, aos 30 anos, Ana Bacalhau deixou o emprego seguro ‘das nove às cinco’ para arriscar uma vida de palco. Os “Deolinda” já enchiam salas e os músicos mal conseguiam fazer um mês de férias. «Nos concertos tocávamos e as pessoas sabiam [as letras] todas. Não era só uma ou outra, eram todas as músicas de cor. E cantavam connosco do princípio ao fim». A banda com uma sonoridade nova, inspirada «numa certa portugalidade», era contratada para festivais.
Dez anos depois decidiram fazer uma pausa, «porque os músicos queriam seguir projetos pessoais». Para a cantora, a experiência de se lançar a solo foi um pouco assustadora. «Sempre gostei de servir um conjunto, esse espírito de comunidade. Gostava de me diluir, digamos assim, e abraçar esses projetos a mais vozes», recorda. Na verdade, diz, «não tinha aspirações de ser artista só, a solo». Estava confortável com a situação: «A minha ideia era ter os “Deolinda” e ir fazendo, de vez em quando, algumas coisas por mim, só para perceber qual era a minha voz». Com a pausa da banda, diz ter ficado «sem casa».
«Costumo dizer isto; eu fui aprender a nadar, fui atirada para a piscina para aprender a nadar. Tive de aprender a ser artista a solo». Dos quatro em palco, passou a ser apenas uma sob os holofotes. «Era só a minha cara, a minha pele. Quem é que eu sou? O que quero transmitir? Foi uma aprendizagem», analisa. Mas a independência correu bem e deu uma ‘nova alma’ à cantora. De 2017 até ao momento, Ana Bacalhau já editou dois álbuns a solo, “Nome Próprio” e “Além da Curta Imaginação”, de 2021. Até ao fim do ano sairá o novo álbum da artista (ainda sem nome), do qual já são conhecidos quatro singles: “Não vás Embora Rapaz”, “Orelhas Moucas”, “Fósforo” e “Por nos Darem Tanto”.