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30 setembro 2021
Texto de Sandra Costa Texto de Sandra Costa Fotografia de Mário Pereira Fotografia de Mário Pereira Vídeo de André Torrinha Vídeo de André Torrinha

Histórias e lendas de Aljezur

​​​​​​​Há estórias de caravelas, castelos saqueados e combates aéreos durante a II Guerra Mundial.​

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Conta a lenda popular que, na manhã de 24 de Junho, os mouros foram tomar o “banho santo” à praia da Amoreira deixando o castelo desguarnecido. Quando os cristãos se aproximaram do cerro do castelo, disfarçados com moitas, uma criança pergunta à avó: «As moitas andam?», ao que ela responde que sim: «Com a brisa». O olhar poético da anciã auxiliou os cristãos, que entraram no castelo e decapitaram os mouros, mal regressaram.  

Do cimo do C​astelo de Aljezur vê-se o mar, as serras de Espinhaço de Cão e de Monchique e o casario branco contornado pela pequena ribeira de Aljezur que desagua na praia da Amoreira. As palavras de José Marreiros, fundador da Associação de Defesa do Património Histórico e Arqueológico de Aljezur, embalam a imaginação e transportam-nos ao dia em que o castelo foi ocupado pelos cristãos, após 500 anos de vivência árabe. Da lenda sobram nomes de ruas: do Degoladouro, logo abaixo do castelo, das Cabeças, a Norte, para onde terão sido atiradas, «para que não se juntem aos corpos», esclarece José Marreiros. É provável que a realidade esteja mais próxima da versão do historiador Rui de Pina e não tenha havido carnificina. «Quem quis ficar ficou, quem não quis partiu, como aconteceu noutros castelos do Algarve, como o de Silves».  

Muitas memórias da herança árabe na Costa Vicentina estão guardadas no Museu Municipal de Aljezur, criado pela associação, em colaboração com o município. Além do legado andalusino, «talvez o terceiro melhor do Algarve», o museu conserva artefactos arqueológicos e etnográficos. No Pontal da Carrapateira foram encontradas ruínas de um povoado islâmico de pescadores. Na Ponta da Atalaia, as ruínas do Ribat da Arrifana são um museu vivo, que importa recuperar, com as suas nove mesquitas, uma madraça (escola corânica), um cemitério com 59 sepulturas e casas de habitação. Foi também aqui que a história do concelho se cruzou directamente com a Segunda Guerra Mundial quando, a 9 de Julho de 1943, um caça alemão foi abatido pelas forças aliadas provenientes da base inglesa de Gibraltar, após 50 minutos de combate aéreo sob os céus de Aljezur. «Os corpos de sete jovens nazis foram transportados da Ponta da Atalaia e sepultados, para reconhecimento do governo alemão, que condecorou alguns aljezurenses», conta José Marreiros.  

Local de passagem entre várias praias da Costa Vicentina, a vila engrandece com a história de um passado que extravasou o interesse local. Aljezur foi um porto de escoamento de produtos do Algarve para a Flandres, o Reino de Portugal e Itália, como atesta o foral de D. Manuel, de 1504, que narra um porto com dez postes de amarração, onde entravam caravelas com 130 toneladas. A memória desse tempo, derrubado pelo terramoto de 1755, permanece em muitos topónimos: «Há um sítio chamado Desembarcadouro, há o porto da Silva, das Carretas, da Alfambra, dos Carreteiros… e a praia da Amoreira continua a ser referida, pelas pessoas mais antigas, como praia da Boca da Barra». Vale a pena conhecer a História para saber ler os sinais.​

 

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