Nem sempre existem alternativas na área cardiovascular, o que torna a falha de medicamentos nas farmácias realmente complicada. Daniel Ferreira exemplifica com o Gutron, um medicamento muito eficaz para alguns tipos de síncopes de repetição, fenómeno caracterizado pela perda de consciência e postura erecta, vulgarmente conhecido como desmaio. «O seu desaparecimento súbito do mercado fez com que os doentes ficassem sem uma alternativa idêntica, o que provocou novos episódios». Mais tarde, o Gutron regressou ao mercado, através de outro laboratório. No barómetro do CEFAR ficou o registo de 674 embalagens em falta em 2017.
Noutros casos pode «desaparecer» do mercado uma determinada dosagem. Foi o caso recente, no Hospital da Luz Lisboa, do Adalat CR 30, que «desapareceu do sistema de dispensa de prescrição médica electrónica», como refere o cardiologista.
Outros medicamentos cuja falta tem sido sentida na área da cardiologia são o Micardis e o Pritor, ambos com a substância activa telmisartan, usados no tratamento da hipertensão arterial. Miguel Silva Mendes detectou, em Janeiro passado, a falta de atorvastatina + ezetimiba, vendido sob os nomes de marca Atozet e Orvatez. A falta do Atozet fez-se sentir também no interior do país e obrigou Lurdes Pestana, de 69 anos, moradora na aldeia de Melo, a deslocar-se até Gouveia, a dez quilómetros, para conseguir comprar o medicamento que usa para controlar o colesterol.