Há 20 anos na arena digital, Ana Garcia Martins testemunhou a sua evolução em primeira mão. Tudo era diferente no início do século XXI. Em 2004, quando fez as primeiras publicações no blogue “A Pipoca Mais Doce”, «não havia redes sociais e a interação que as pessoas tinham comigo era exclusivamente via blogue», lembra. «Era uma ferramenta tão arcaica que não dava para fazer comentários, inserir fotografias ou vídeos».
A jovem autora de textos sarcásticos vivia, então, no anonimato. Foi ganhando dimensão através do passa-palavra e «por as pessoas partilharem por e-mail os artigos que ia publicando. Por não dar a cara e por se estar numa idade da inocência antes da existência das redes sociais – o Facebook foi lançado em fevereiro de 2004, mas levaria anos a ganhar utilizadores em Portugal – «tinha uma liberdade que hoje não tenho», refere. Esta escrita “sem censura” foi-se alterando ao longo dos anos: «Quando comecei não tinha qualquer espécie de filtro, porque também não havia essa cobrança por parte de quem me seguia».
À medida que foi ganhando protagonismo começou a deparar-se com o controlo externo e com a sua própria autocensura. «Cheguei a um ponto de quase me anular e de deixar de ter vontade de ter opinião sobre o que quer que fosse. Achei que se tivesse de estar calada para proteger a minha paz de espírito, preferia estar calada». Recentemente Ana reajustou a sua atitude, mesmo perante as críticas ferozes tão comuns nos comentários online: «Tenho uma plataforma, uma voz ativa e quero dizer o que penso».