O médico Manuel Barbosa recorda-se da falta de dois corticóides inalatórios nasais ao longo de 2017: o Aeromax e o Avamys. Considera inevitável ter dado pela falta destes medicamentos pois a sua especialidade trata de doentes crónicos, em que muitos fazem corticóides nasais por rinites alérgicas. «Quando um medicamento está em falta, contactam-me, perguntando o que devem fazer», explica o director do Serviço de Imunoalergologia no Hospital de Santa Maria.
O Avamys, suspensão de pulverização nasal, faz parte da lista de medicamentos cuja exportação depende de notificação prévia obrigatória ao Infarmed.
Embora haja alternativas terapêuticas, é convicção de Manuel Barbosa que «raramente são rigorosamente idênticas». No caso do Avamys, não está disponível qualquer alternativa em genérico. Para o Aeromax, budesonida de 100 mcg/dose, existem alternativas, mas não na mesma dosagem, excepto numa das fórmulas, com um dispositivo diferente.
O imunoalergologista tem vindo a constatar a falta de alguns fármacos nas farmácias, «por períodos mais ou menos prolongados de tempo». Um exemplo é o Singulair 28 comprimidos, um antiasmático de administração oral. Embora haja genéricos disponíveis, muitos doentes não querem mudar. «Têm receio, fundado ou não, de que não tenham o mesmo efeito do medicamento em falta. Como sabem que têm doenças crónicas ou quase crónicas, a sensação de risco é grande», diz Manuel Barbosa. Para os médicos, a falha de medicamentos também é desconfortável: «Já não conseguimos saber as alternativas que realmente estão disponíveis, a cada momento, no mercado».
Fernanda Borges, 80 anos, tem sentido dificuldade em encontrar nas farmácias o Atimos, que o marido, com quase 90 anos, precisa para a asma. «Já senti a falta do Atimos duas vezes, há cerca de um ano e agora. Quando já só tenho duas embalagens de reserva começo logo à procura, para que nunca lhe falte o medicamento. Se não o consigo comprar e ele não faz a medicação, entra em crise».