Na Farmácia Carapeços, em Barcelos, os utentes aguardam pacientemente pela sua vez à distância ou dentro dos carros. Longe, mas mais unidos do que nunca, são os jovens que levantam as encomendas dos mais velhos, para que pais, avós e vizinhos possam ficar em casa, resguardados da pandemia que atormenta o mundo nos últimos meses.
Teotónio Pinheiro vai à farmácia buscar um medicamento para a madrinha, que está de quarentena já há algumas semanas. Os sintomas de gripe fizeram temer o pior, mas, o teste ao coronavírus deu negativo. Mesmo assim, o isolamento profiláctico continuou a ser a melhor opção.
À semelhança da madrinha, o pai, de 84 anos, está sozinho em casa. Diariamente, é Teotónio quem deixa as refeições preparadas à porta, juntando, sempre que necessário, os medicamentos e as compras.
Depois de fechar o café, há duas semanas, Teotónio, 49 anos, ficou em casa com a esposa e o filho. «Para já estamos com espírito positivo» - garante - «Só queremos ver os números a descer».
Ao longo dia, que se divide entre família, arrumações e o quintal, é com recurso a uma impressora 3D que Teotónio tem ainda produzido dezenas de viseiras para oferecer a instituições de saúde: «É a minha forma de contribuir». Em conjunto com um grupo de amigos, cada um em sua casa, o utente distribuiu viseiras para a toda a vizinhança, incluindo lares, hospitais, centros de saúde e farmácias.
A solidão não é, nem alguma vez foi, uma opção. «Na aldeia temos o amigo, o vizinho, o filho», conta o farmacêutico Francisco Pinto Coelho. «As pessoas não sentem o isolamento como acontece nas grandes cidades».
Desde há duas semanas, que se tornou hábito fazer atendimentos por telefone. Os utentes mais velhos telefonam a fazer o pedido, dão o número da receita e a encomenda fica guardada na farmácia à espera dos filhos, netos ou vizinhos que a vão recolher. Há pessoas que ligam apenas para esclarecer dúvidas acerca dos sintomas da doença, tentando encontrar algum conforto neste tempo de incertezas.
«As pessoas ouvem-nos», explica o proprietário da Farmácia Carapeços, que considera um privilégio poder acalmar aqueles que estão em pânico e responsabilizar os que ainda não entenderam a dimensão da pandemia e a importância de seguir as recomendações da Direcção-Geral de Saúde.
No interior da farmácia permanecem apenas três utentes de cada vez – um por balcão, respeitando sempre a marca de segurança no chão, à distância de um metro. O acrílico protege, permitindo manter a proximidade a que a equipa habituou os utentes.

Maria Sameiro Rosa é utente da Farmácia Carapeços há mais de 20 anos. Foi lá que tantas vezes esclareceu dúvidas sobre a asma do filho mais novo e onde se acalmou em momentos de dúvida. Agora, quando precisa de um medicamento, liga primeiro a encomendar. Quando chega, aguarda pela sua vez, respeitando as marcas vermelhas de segurança no chão.
«Eu sinto que a farmácia é dos locais mais seguros para se estar» - afirma a operária fabril de 45 anos. O que mais a preocupa são as idas ao supermercado: «Quando chego a casa desinfecto as embalagens, deixo-as a arejar e vou tomar banho».
Com os centros de saúde, os hospitais e a linha SNS 24 sobrecarregados, dá-lhe alguma paz saber que a qualquer momento pode contactar a farmácia da freguesia e ser atendida de imediato. E garante: «Nunca me deixaram ficar mal».
Maria não vai a casa dos pais, ambos considerados doentes de risco, há três semanas. As conversas pelo quintal dão para matar as saudades: «A minha mãe grita: “Queres ovos?”. Depois pousa-os no fundo do quintal e eu vou lá buscá-los».
Francisco Coelho reconhece o papel da sua equipa em tranquilizar e informar as pessoas. «A farmácia sempre foi um ponto de apoio à comunidade, principalmente na aldeia» - recorda - «Agora assumimos um peso ainda maior».
«É preciso ter muita preocupação e muito cuidado. Temos de defender-nos e defender os outros. Mas acima de tudo não entrar em pânico, porque a vida continua» - remata - «A farmácia não pode parar».